Diário da Manhã

segunda, 13 de maio de 2024

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IFSul/câmpus Pelotas: projeto resgata antiga tradição de mandar cartas

10 julho
14:59 2014

Em meio à era digital, a escrita à mão, o envelope e o selo têm sido a marca registrada de uma iniciativa que tem no envio de correspondência uma forma de produzir conhecimento. As trocas de cartas manuscritas entre alunos do 5º ano de duas escolas de ensino básico são o diferencial do projeto de extensão “As cartas que escrevo e recebo: possibilidades do uso de correspondências como ferramenta nos processos de aprendizagem”, desenvolvido pela professora Cecilia Boanova, do curso de design e da pós-graduação em educação profissional do IFSul-câmpus Pelotas.

A troca de correspondências entre os alunos auxilia no processo de aprendizagem  Foto: Elise Souza

A troca de correspondências entre os alunos auxilia no processo de aprendizagem
Foto: Elise Souza

A partir de uma experiência do professor da Escola Estadual Sylvia Mello e então aluno do curso de pós-graduação em educação profissional do IFSul, Ronaldo Campelo, o primeiro suspiro do que viria a se tornar um intercâmbio cultural se deu por meio de uma estudante. Natural de Manaus, a aluna, que morou durante algum tempo em Pelotas e esteve na classe do professor Ronaldo, não queria perder contato com as novas amizades quando voltasse para sua terra natal.

Como a menina não tinha a permissão dos pais para usar a internet, a sugestão do professor para resolver o problema foi uma troca de cartas. A proposta foi apenas o pontapé inicial para o surgimento de um projeto que ganhou forma após ter sido apresentado à professora Cecilia, que abraçou a ideia de imediato.

O projeto também foi adotado pela professora Cintia Carla Bottini dos Santos, da Escola Municipal Centro de Educação Integral Érico Veríssimo, de Curitiba, e amiga pessoal de Ronaldo, que já trabalhava conteúdos referentes à comunicação em suas aulas e contemplavam as cartas, por exemplo. Hoje, alunos das duas turmas trocam correspondências onde falam sobre seus gostos pessoais e aspectos culturais da cidade onde vivem. “Não imaginava que iam se empolgar tanto, mas quando receberam as cartas, foi um momento mágico”, conta Cintia.

Para o desenvolvimento do trabalho, a professora Cecília mantém registrados como bolsistas os alunos Liader Soares, do bacharelado em design, e Daniela Alves, da comunicação visual. Junto com a docente, ambos são responsáveis por encontros semanais com estudantes da turma de Ronaldo, que compreendem atividades práticas e visitas a pontos turísticos da cidade, para contribuir com as experiências culturais dos participantes e subsidiar a produção das cartas.

Ronaldo conta que o trabalho desenvolvido é interdisciplinar, exercitando não apenas a leitura e escrita como temas históricos e geográficos a partir das busca de conteúdos em pesquisas para compor as cartas. O professor reconhece que a iniciativa é trabalhosa, mas também gratificante e elucida a importância de Cecilia e dos bolsistas em sala de aula semanalmente.

“A educação se faz assim, com várias vozes, e a participação deles enriquece as aulas e faz com que os alunos construam conhecimento de forma que sintam prazer”, afirma.

Com base nesta construção conjunta, o objetivo é a criação de produtos visuais com fins pedagógicos que possam auxiliar no aprendizado, tendo como base a temática das correspondências. “Ainda não sabemos o que virá das cartas, temos que esperar o que vai surgir para explorar isso e criar produtos”, afirma Cecilia.

Apesar de ainda não terem conhecimento do que estará estampado nos papéis pautados que farão uma viajem pela região Sul, já surgem ideias dos possíveis produtos finais. Algumas delas, um mapa mundi bilíngue, personalizado, e padronagem com ilustrações – contendo costumes e questões geográficas e culturais trazidas na conversa dos alunos – que posteriormente podem auxiliar até mesmo para o desenvolvimento de conteúdos em aula.

Por enquanto, os estudantes se divertem com aquilo que, para eles, também se trata de uma brincadeira. É o caso da aluna Sol, de dez anos. A menina que troca cartas com João, da mesma idade, conta que além de terem os mesmos gostos, como sorvete, televisão e jogos de computador, já compartilharam informações sobre o que gostam em sua cidade. “Achei essa ideia legal para conhecer pessoas novas e de outros lugares. O João já me contou que em Curitiba tem um Jardim Botânico”, relata a menina.

Participação internacional – O projeto, que já tem dado certo entre dois Estados brasileiros, será expandido para fora do país. Os próximos planos contemplam a troca de correspondências com alunos de uma escola municipal da cidade de Medellín, na Colômbia.

Mesmo em fase de acordo para que a troca de correspondências aconteça, os alunos pelotenses já tiveram seu primeiro contato com o espanhol. Na terça-feira, 01 de julho, os estudantes receberam uma visita do colombiano Horácio Pérez Henao, que conversou com os alunos em sua língua nativa, fato que chamou a atenção dos baixinhos.

Horácio, que é professor da Universidad de Medellin e doutorando na Universidad de Antioquia, está em Pelotas para um período de sanduíche na pós em educação do IFSul, onde é coorientado pelo professor Donald Hugh de Barros, o Goy. Por ser habitante de Medellín, sua presença em sala de aula deu ainda mais motivos para que os alunos esperem com ansiedade a troca de cartas com os colombianos.

O encontro também contou com a presença da professora Cintia, que os estudantes conheciam apenas pelas cartas e teve a oportunidade de falar a eles pessoalmente. Ainda participaram do momento de descontração os bolsistas do projeto e a professora Cecilia, responsável por viabilizar as visitas.

Mas a grande atração da tarde foi o visitante mais inusitado, Horácio. Depois de o ouvirem com atenção e olhos vidrados enquanto contava sobre sua profissão, sua cidade e sua vida em Medellín, as muitas perguntas sobre os mais diversos aspectos chegaram ao professor, com a curiosidade de quem quer saber mais. Em poucas horas de contato, o colombiano ganhou tradutor, bons ouvintes e fãs.

Crédito/fotos: Elise Souza

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