Imagine, Lennon e a utopia necessária: reflexões de 9 de setembro
Quantos sonhos interrompidos? Quantos projetos que não chegaram ao fim? E, ainda assim, seguimos
Marcelo Gonzales*
@celogonzales @vidadevinil
O poder de uma canção que não envelhece
Em 9 de setembro de 1971, John Lennon lançava o álbum Imagine. Um disco que, mais de meio século depois, continua sendo um dos maiores manifestos musicais pela paz.
Sempre que escuto sua faixa-título, penso em como Lennon foi direto: convidou o ouvinte a imaginar um mundo sem fronteiras, sem religiões que se enfrentam, sem posses que nos dividem. É quase infantil na simplicidade, mas profundamente revolucionário na coragem de propor algo que até hoje soa impossível.
Às vezes, quando volto a essa letra, não consigo deixar de refletir sobre os nossos desafios inacabados. Quantos sonhos interrompidos? Quantos projetos que não chegaram ao fim? E, ainda assim, seguimos.
Talvez seja isso o que Lennon tentou nos dizer: não é preciso que o mundo já seja perfeito para que possamos imaginar e, sobretudo, agir.
Entre Lennon e o U2: a polêmica que também sonhava com todos
Exatamente no mesmo 9 de setembro, mas em 2014, o U2 lançou Songs of Innocence. O álbum gerou polêmica mundial por ter sido distribuído gratuitamente no iTunes, aparecendo de surpresa na biblioteca de milhões de pessoas.
Houve quem achasse lindo — afinal, a música chegando sem barreiras, sem pagar nada, quase como se fosse um presente universal.
Houve também quem se incomodasse: “Não pedi por isso, por que está aqui?”.
E não é curioso como esse episódio conversa com Imagine? De um lado, Lennon pedindo que todos visualizassem um planeta sem fronteiras; do outro, o U2, décadas depois, tentando fazer a música atravessar barreiras tecnológicas e sociais — ainda que de forma controversa.
Fatos que marcaram o 9 de setembro na música
- 1956: Elvis Presley estreia no programa The Ed Sullivan Show, levando o rock’n’roll para dentro das casas americanas.
- 1975: Nasce Michael Bublé, cantor canadense que reinventaria os standards do jazz para novas gerações.
- 2013: O Brasil perde Champignon, baixista do Charlie Brown Jr., em uma tragédia que ainda ecoa. Champignon não era apenas um músico, mas um artista autêntico, cuja energia e versatilidade marcaram gerações. Suas linhas de baixo pulsavam junto com letras que falavam de desafios, amizade e resistência, como em “Proibida pra mim”, lembrando que a música dele tinha alma, intensidade e verdade.
- 2018: A música se despede de Mr. Catra, figura que transitava do funk ao rock com autenticidade.
São lembranças que nos ajudam a entender como a música, em diferentes estilos, carrega tanto de nossas alegrias quanto de nossas dores coletivas.
Imagine hoje, comigo e com você
Escrevo este texto não apenas como jornalista em formação, mas como alguém que também precisa acreditar — acreditar que cada palavra pode construir pontes, que cada leitor pode ser parte desse coro de vozes que deseja algo melhor.
Quando Lennon cantou Imagine all the people living life in peace, ele não sabia que, meio século depois, ainda estaríamos tentando.
Mas talvez soubesse, sim, que sua canção seria um guia, um lembrete insistente de que a utopia é necessária.
Hoje, neste 9 de setembro, escolho imaginar junto com você que me lê.
E espero que, ao terminar estas linhas, você também carregue esse eco: que é possível sonhar, é possível tentar, é possível — ainda que devagar — construir o que Lennon desenhou em sua melodia.
Um fim que é começo
Se há algo que aprendi com a música é que todo fim pode soar como um recomeço.
Por isso, termino este texto como quero terminar muitos outros: deixando no ar não um ponto final, mas uma chama acesa.
Imagine. Só isso.
*Marcelo Gonzales vive entre discos de vinil e muita mídia física, sempre atento à música, à cultura e ao jornalismo, compartilhando histórias que conectam gerações.







