Lunna Beatriz, uma voz pequena reacendendo a fé na grande música brasileira
Atriz e cantora de 11 anos concorre no Rio Web Fest
Marcelo Gonzales*
@celogonzales @vidadevinil
Há dias em que o Brasil me surpreende de novo. Dias em que a memória da nossa música, essa que tem raiz, pulso, voz e véu de eternidade, encontra, na realidade, uma fagulha viva daquilo que fomos e ainda podemos ser.
E foi assim que me encontrei com o nome de Lunna Beatriz.
Não num palanque publicitário, não na pressa das tendências escorregadias, mas naquelas pequenas ondas que o talento verdadeiro faz questão de espalhar em silêncio, até que alguém atento ouça.
Ela tem 11 anos. Digo isso e não digo tudo. Porque idade, quando a alma já encontrou caminho, vira apenas número. E Lunna encontrou.
Nasceu em Manaus, cruzou cidades como quem costura afetos e sotaques, João Pessoa, Maceió, até se enraizar no Rio. É bonito imaginar essa menina atravessando o país antes mesmo de entender o tamanho do mapa… e ainda assim já carregando dentro o mapa maior: o da música, o da arte, o do pertencimento.
E olha que curioso, ela não chegou até mim por ruído, nem por algoritmos berrando. Ela chegou como chegam as boas notícias, pelas mãos do trabalho. Pelos olhos atentos de quem assiste ao Rio Web Fest e vê ali, no meio das telas, uma luz genuína.
Juju e a Locomotiva Encantada. Um nome doce, quase lúdico demais para um mundo tão apressado. Mas que guarda uma mensagem rara de amizade, natureza e gentileza. Pois sim, ainda existem artistas que começam pela essência.
E Lunna interpreta. Canta. Vive no palco e na câmera com aquele misto puro de entrega infantil e disciplina de quem entende que talento também é dever.
Ela se organiza, escola pela manhã, tarefa à tarde, brincadeira ao entardecer, arte onde couber e, quando não couber, ela abre espaço. Não perdeu a infância para a carreira, e tempera uma com a outra, como quem faz bolo com a mãe num domingo. E não está só. Carrega família firme, e isso diz muito. A primeira escola da sensibilidade ainda é o afeto.
E se você acha pouco, ela já realizou um desejo que muitos adultos guardam como sonho tardio quando cantou com o grupo Revelação. E essa frase podia terminar por aqui, e já seria grande. Mas ela vai além. Cresceu ouvindo, imaginando, desejando… e um dia, sem aviso, aconteceu.
Isso se chama destino chamando pelo nome.
Mas o que me prende nela não é o currículo. É o pressentimento.
Aquela sensação rara de que o futuro pode ser bonito apesar de tudo. De que a canção brasileira ainda tem filhas corajosas, criadas à sombra de sambistas, poetas, mães firmes e pais que dizem a frase mais importante que uma criança artista pode ouvir: “Teu único dever é ser feliz com o que faz.”
E quando ela anuncia uma música nova para o dia 7 de novembro, eu não espero hype, não espero números. Eu espero o que tenho aprendido com o tempo, espero verdade.
Lunna é pequena no corpo, grande na alma, e imensa na responsabilidade inconsciente que carrega ao lembrar o meu país que, mesmo quando parece tudo desandar, a arte ainda brota, e quando brota no terreno certo, ela não nasce para passar… nasce para ficar.
E é isso. Hoje acordei acreditando de novo. E quem me deu essa coragem foi uma menina que canta.
Que ela siga. Que ela cresça sem pressa. E que o Brasil esteja preparado para ouvi-la, porque a esperança, quando encontra voz, não canta sozinha. Ela convoca.
*Marcelo Gonzales é autor do blog Que Dia é Hoje?, vive entre discos de vinil e muita mídia física, sempre atento à música, à cultura e ao jornalismo, compartilhando histórias que conectam gerações.







