O dia em que a eternidade do rock se escreveu em ciclos
O Led Zeppelin começou sua lenda, perdeu seu coração e, ao mesmo tempo, o Sabbath entregou ao mundo um monumento
Marcelo Gonzales*
@celogonzales @vidadevinil
Há datas que parecem escolhidas a dedo pelo destino. E o dia 25 de setembro é uma dessas que carrega um peso quase místico na história do rock. Eu lembro de ter tropeçado nessa coincidência e me arrepiado inteiro, como se cada riff, cada baqueta, cada linha de baixo, conspirasse para que tudo se cruzasse nesse calendário.
Foi em 25 de setembro de 1968, às onze da noite, que o Led Zeppelin entrou no estúdio Olympic, em Londres, para registrar os primeiros compassos do que viria a ser o Led Zeppelin I. Quem confirma isso não sou eu apenas como fã e pesquisador atento, é o próprio Jimmy Page, em seu site oficial, que crava:
“Thus, with the aid of my old friend Glyn John’s masterful engineering, at 11 pm on Wednesday 25th September 1968, we began our recordings and embarked upon committing this eclectic powerhouse to tape.”
(Fonte: ledzeppelin.com)
Leia devagar essa frase. Às onze da noite de uma quarta-feira, começava a ser tecido o tecido sonoro que mudaria a história da música.
Doze anos depois, no mesmo dia, o destino resolveu girar a roleta para o outro lado. Em 25 de setembro de 1980, John Bonham, o homem que transformava a bateria numa extensão da alma, faleceu de forma abrupta, sufocado após uma maratona alcoólica. Aquele que tinha dado vida ao Led Zeppelin com batidas monumentais partia justamente na data em que a própria banda havia dado o seu primeiro passo no estúdio. A ironia amarga da vida, e o ciclo aberto por Bonham e Page em 1968, parecia encontrar seu ponto final exatamente ali.
E, no meio desses dois extremos, há um terceiro ponto que dá a esse 25 de setembro um brilho ainda mais singular. Em 1972, também nesse dia, o Black Sabbath lançava seu quarto álbum, o poderoso Vol. 4. Um disco que carregava o peso da experimentação, da ousadia e de um Sabbath já consolidado como pedra angular do heavy metal. Se o Led Zeppelin estreava, se Bonham nos deixava, o Sabbath coroava a data com um marco criativo que até hoje pulsa nos ouvidos de quem sabe o que é o som pesado.
Três tempos. Três acontecimentos. Um mesmo dia. O início, a perda e a consagração. É como se o 25 de setembro fosse um portal e nele cabem as contradições da música, a criação e a destruição, o luto e a celebração.
Escrevendo isso, sinto que não é só uma coincidência de agenda. É um lembrete de que o rock é feito desses ciclos. De que a eternidade se escreve não apenas com o que nasce, mas também com o que termina e com o que se transforma.
E você, que me acompanha nessa leitura, talvez sinta o mesmo calafrio de perceber que numa única data, o Led Zeppelin começou sua lenda, perdeu seu coração e, ao mesmo tempo, o Sabbath entregou ao mundo um monumento. 25 de setembro não é apenas um dia no calendário, é uma assinatura gravada a fogo no livro da música.
*Marcelo Gonzales é autor do blog Que Dia é Hoje?, vive entre discos de vinil e muita mídia física, sempre atento à música, à cultura e ao jornalismo, compartilhando histórias que conectam gerações.







