Obesidade segue aumentando no Brasil e profissionais de saúde fazem um alerta sobre os riscos da doença
Professores de endocrinologia e nutrição da pós-graduação em Obesidade e Emagrecimento do Instituto de Desenvolvimento Educacional (IDE) explicam sobre a doença e suas formas de tratamento
Mais da metade da população brasileira está com sobrepeso e 20% das pessoas adultas no país estão obesas. É o que revela o Relatório da Organização das Nações Unidas para Alimentação e Agricultura (FAO) e da Organização Pan-americana de Saúde (Opas) divulgado recentemente, intitulado “Panorama da Segurança Alimentar e Nutricional na América Latina e Caribe”. O relatório mostrou ainda que, em 2010, 17,8% da população era obesa; em 2014, o índice chegou aos 20%, sendo a maior prevalência entre as mulheres, 22,7%. Outro alerta é quanto ao aumento do sobrepeso infantil: estima-se que 7,3% das crianças menores de cinco anos estão acima do peso, sendo as meninas as mais afetadas, com 7,7%.
“A obesidade é uma doença crônica, cuja incidência vem aumentando progressivamente nos últimos anos no Brasil e no mundo”, afirma a endocrinologista e metabologista e professora da pós-graduação em Obesidade e Emagrecimento do Instituto de Desenvolvimento Educacional (IDE) (www.idecursos.com.br) Karoline Medeiros. “O tratamento consiste em mudanças de hábitos de vida. A alimentação saudável e prática de atividades físicas devem ser estimuladas. Além disso, tratamentos medicamentos estão disponíveis e liberados que atuam reduzindo o apetite ou a absorção de gordura”.
Ela ainda destaca o fato de a obesidade comumente vir relacionada a uma série de doenças crônicas. “Dentre elas, principalmente diabetes, hipertensão arterial, dislipidemia (alterações no colesterol), doenças cardiovasculares, esteatose hepática (gordura no fígado), síndrome da apneia do sono e também problemas articulares podem surgir pelo excesso de peso”, pontua. O excesso de peso pode ainda alterar diversos processos corporais. “A obesidade leva a mais indisposição e fadiga, levando a uma vida mais sedentária, gerando um ciclo vicioso. O que reduz o gasto energético basal do organismo, ou seja, lentifica o metabolismo geral”, avalia ela.
Existem diversos parâmetros para indicar os riscos de obesidade, sendo o mais conhecido deles o Índice de Massa Corporal, um cálculo feito com base no peso e na altura do indivíduo. A obesidade grau 1 é identificada quando o IMC estiver entre 30 e 35. Ou seja, a partir de 30, o indivíduo já é considerado obeso. Existem classificações superiores, como obesidade grau 2 e grau 3, mas uma pessoa com sobrepeso (IMC entre 25 e 30) já deve tomar cuidado para não atingir a obesidade propriamente dita.
Deve-se salientar, entretanto, que tal índice deve ser avaliado associado a outros parâmetros, como o percentual de gordura e somatório de dobras cutâneas do indivíduo, meio pelo qual serão avaliados os riscos de adiposidade e de complicações cardiovasculares, entre outros fatores. De maneira geral, a partir do momento que o peso está prejudicando a saúde e as atividades diárias, já é um sinal de alerta para começar a cuidar do peso.
A obesidade impacta não apenas o corpo do indivíduo, mas também aspectos psicológicos e sociais. De acordo com a nutricionista Vanessa Barreto, coordenadora do curso de Obesidade e Emagrecimento do Instituto de Desenvolvimento Educacional (IDE), as alterações metabólicas e endócrinas às quais o obeso é submetido fazem com que a sua visão de corpo seja deturpada. Além disso, há um sentimento de exclusão do contexto comum da sociedade, a qual preza pelo corpo magro, treinado e saudável como referencial. “Os obesos mórbidos (com um peso bem acima do normal) sofrem diariamente com dificuldades de deslocamento, inserção em ambientes, impactos ósteo-articulares. Esse estado influencia diretamente no emocional do indivíduo, que não consegue ter uma visão agradável do seu corpo, e por muitas vezes, se exclui da vida social, ou até mesmo desacredita na mínima possibilidade de reverter o seu quadro.
Por esses motivos, o processo de reabilitação e tratamento se torna mais dificultado”, esclarece. Por tudo isso, é uma doença que deve ser tratada por uma equipe formada pela união de diversos profissionais de saúde: médicos, nutricionistas, enfermeiros, fisioterapeutas, profissionais de educação física e psicólogos, para que o paciente possa ser tratado como um todo, dentro de cada vertente ou dificuldade que apresente. Diante de todas essas dificuldades, a nutricionista avalia que, para sair da obesidade, o paciente deve contribuir, adquirindo hábitos mais saudáveis. Todavia, isso não significa viver em restrições e nunca mais comer o que gosta.
“A palavra-chave é a mudança de hábitos de vida e entre eles os alimentares. Essa mudança deve respeitar o momento emocional do indivíduo, pois nutrição jamais deve trabalhar com restrições, e sim com o equilíbrio alimentar. É claro e evidente que há uma necessidade de ajustes no perfil alimentar do paciente, porém, a consulta deve ser permeada de “negociações”, onde o nutricionista consiga traçar uma estratégia possível e plausível para o paciente. Não precisamos sofrer para fazer dieta. Nos dias de hoje, com o avanço da nutrição funcional, tornou-se comum o preparo de alimentos saudáveis e de fácil elaboração, transporte e aceitação”, conclui.
CIRURGIA BARIÁTRICA – Uma das formas de tratamento mais conhecidas atualmente é a cirurgia bariátrica. “Também chamada gastroplastia, cirurgia da obesidade ou cirurgia de redução do estomago, nessa operação é feita uma alteração na estrutura do estômago, às vezes associada com alteração na rota intestinal. Seu objetivo é restringir o volume de ingestão do paciente e diminuir sua capacidade absortiva dos nutrientes, levando assim à perda de peso”, explica coordenadora do núcleo de pós-graduação em nutrição do IDE, Roberta Morgana.
Todavia, nem todo mundo pode fazer a operação: a Organização Mundial de Saúde a indica para pacientes com IMC acima de 35 que tenham complicações como apneia do sono, hipertensão arterial, diabetes, aumento de gorduras no sangue e problemas articulares, ou para paciente com IMC acima de 40 que não tenham obtido sucesso na perda de peso após dois anos de tratamento clínico, incluindo o uso de medicamentos.