Os riscos da ceratopigmentação: técnica que muda a cor dos olhos preocupa especialistas

Sociedade de Oftalmologia do RS aponta os perigos do procedimento proibido no Brasil quando utilizado para fins estéticos
Uma cirurgia ocular pouco conhecida do grande público está no centro das atenções. Impulsionada por celebridades e influenciadores que passaram pelo procedimento e compartilharam os resultados nas redes sociais. A ceratopigmentação consiste na pigmentação da córnea, indicada exclusivamente para casos terapêuticos, como em pacientes que perderam a coloração de um dos olhos após doenças oculares graves.
Extrapolando seu objetivo original, a técnica vem sendo utilizada indiscriminadamente por pessoas com visão saudável que desejam alterar a cor dos olhos por razões estéticas. Os casos que mais repercutiram nas últimas semanas aconteceram fora do Brasil, justamente porque a prática não é autorizada no país para olhos saudáveis. A permissão aqui no país ocorre somente em caráter terapêutico e sob indicação médica.
Riscos à saúde ocular
A Sociedade de Oftalmologia do Rio Grande do Sul (SORIGS) reforça o alerta: submeter-se à ceratopigmentação sem indicação clínica pode causar danos irreversíveis à visão. Entre os principais riscos estão infecções, fotossensibilidade intensa e, em casos mais severos, cegueira. A cirurgia, além de invasiva, promove uma modificação definitiva da estrutura ocular, sem possibilidade de reversão.
“A ceratopigmentação tem o objetivo de trazer autoestima e recuperar a harmonia ocular daqueles que sintam desconforto de imagem por ficarem com um olho da cor normal e outro despigmentado. A Porém, nos últimos tempos, percebemos uma extrapolação desta técnica para fins puramente ligados a questões de beleza”, enfatiza o presidente da SORIGS, Bruno Schneider.
O oftalmologista ainda explica que este tipo de cirurgia tem uma taxa de complicações média de 13%: “O que, para um procedimento puramente estético, não é aceitável um índice deste nível. Por isso da sua proibição na medicina brasileira”. Entre essas complicações também está a fotossebsibilidade que pode evoluir para casos intensos e se tornar incapacitante.
Outro ponto crítico é que, com o passar do tempo, em cerca de 20% dos casos, a pigmentação começa a se degradar, comprometendo a aparência que, inicialmente, motivou a cirurgia. “Um em cada cinco pacientes pode experimentar uma alteração indesejada da cor. Então, o era agradável se torna mais um complicador estético”, alerta Schneider.
Além disso, a ceratopigmentação pode influenciar negativamente no resultado correto em exames padrão feitos nos consultórios que diagnosticam doenças oculares, como o de fundo de olho e o de avaliação do glaucoma. Pois a alteração da cor da córnea pode interferir na detecção de males devido à injeção de pigmentos sem a necessidade indicada.
A SORIGS reitera a importância de buscar orientação médica especializada e seguir as normativas da oftalmologia brasileira, que priorizam a segurança, a saúde ocular e o bem-estar dos pacientes.
Sobre a SORIGS
A Sociedade de Oftalmologia do Rio Grande do Sul (SORIGS) é uma entidade que reúne especialistas dedicados à promoção da saúde ocular da população. Com ações educativas e científicas, busca conscientizar sobre a importância da prevenção e do diagnóstico precoce das doenças oculares.