Prefeitura homenageia defensoras dos direitos das mulheres
Sala de acolhimento a mulheres vítimas de violência passou a se chamar professora Zely Franco
Começou na terça-feira (5) uma série de homenagens a mulheres importantes no cenário de enfretamento a violência contra a mulher em Pelotas. A primeira homenageada, que passa a dar nome à sala de acolhimento do Centro de Referência de Atendimento à Mulher em Situação de Violência Professora Claudia Pinho Hartleben, é a professora aposentada e ativista Zely Franco.
Mais de 20 mulheres compareceram para apoiar a quem chamaram de referência na luta por direitos. A atividade faz parte dos 21 Dias de Ativismo pelo Fim da Violência contra Mulheres e Meninas, que começou no último dia 20.
A coordenadora do Cram, Eliane Bitencourt, explicou que assim como o Centro de Referência e a Casa de Acolhida receberam nomes de mulheres vítimas de violência de gênero – Claudia Pinho Hartleben e Luciéty, respectivamente, o objetivo é dar às salas de atendimento nomes de lutadoras, que no dia a dia contribuem para que casos como esses não voltem a acontecer, para que se sintam reconhecidas ainda em vida. Cada uma das salas receberá o nome de uma dessas mulheres.
Professora Zely Franco foi homenageada dentro da programação dos 21 Dias de Ativismo pelo Fim da Violência contra Mulheres e Meninas. Fotos: Michel Corvello
A homenageada se surpreendeu quando Eliane apresentou sua biografia, avaliou que às vezes parece que pouco foi feito, mas em momentos como esses isso fica claro. “Aconteceu muita coisa até chegarmos aqui, me emociona reencontrar pessoas, essa data vai ficar marcada na minha história”, e completou “meu nome é muito usado como fundadora, mas ninguém faz nada sozinho”, ponderou Zely ao explicar que todo começo é difícil, mas que a vida é aprendizado e que juntas as mulheres do Gamp foram aprendendo, e que sempre conseguiu conciliar o trabalho, os cuidados com a família e a militância.
Além da placa com seu nome descerrada na porta da sala de acolhida, a maioria das mulheres presentes no evento falou sobre a importância da professora na luta pelos direitos das mulheres e sobre como ela influenciou nas suas formações como militantes dos direitos humanos, especialmente na forma como sempre buscou empoderar cada uma das militantes feministas, sem nunca se colocar como superior a ninguém.
A Homenageada
Zely nasceu em Pelotas em 1934. Estudou e formou-se no Ginásio Estadual Assis Brasil em 1953. Dali em diante, passou a fazer o que mais amava: ensinar. Na rede municipal, passou pela zona rural, depois pelas escolas Bibiano de Almeida e Afonso Vizeu.
Hoje aposentada, viúva e mãe de cinco filhos, avó e bisavó, participou de muitas conquistas das mulheres e trabalhadores de Pelotas.
Liderou o movimento de criação do Conselho Municipal dos Direitos da Mulher, fez parte da criação do Programa Municipal de Centros de Acolhida e participou da instalação do Posto da Mulher que, anos depois, seria transformado em Delegacia Especializada no Atendimento da Mulher. Entre suas atuações destaca-se a fundação do Grupo Autônomo de Mulheres de Pelotas (Gamp), uma organização social, que desde 1998 luta pelos direitos das mulheres, em que até hoje é uma importante referência.
Zely presidiu o Gamp, e os conselhos Estadual e Municipal dos Direitos da Mulher, assim como integrou essas entidades em outros cargos. Foi coordenadora da Casa Abrigo Luciety, quando recém inaugurada. Já foi homenageada pela Assembleia Legislativa, pela sua trajetória na luta pelos direitos das mulheres e, pelo mesmo motivo recebeu o título de Cidadã Emérita, da Câmara de Vereadores de Pelotas.
Aos 89 anos, Zely ainda participa das lutas sociais e é uma referência para as e os novos e antigos militantes de Pelotas, pela sua dedicação, experiência, persistência e pelo carinho que demonstra com cada pessoa.
O serviço
O Centro de Referência de Atendimento à Mulher em Situação de Violência Professora Claudia Pinho Hartleben presta atendimento psicossocial a mulheres vítimas de violência, pautado na Lei Maria da Penha e promove ações afirmativas que as ajudem a sair do ciclo da violência, no resgate da autoestima e da sua autonomia, a buscar implementar mecanismos de proteção e a superar o impacto da violência sofrida.
As mulheres chegam ao Centro espontaneamente, por encaminhamento de alguma das instituições da Rede de Enfrentamento à Violência contra a Mulher e pela busca ativa, por meio dos boletins de ocorrência registrados na Delegacia de Atendimento à Mulher e na Delegacia de Pronto Atendimento. Nem toda a busca gera um acompanhamento, mas essa é uma forma de que as mulheres se sintam acolhidas e sejam informadas sobre os serviços de apoio.
No Centro, as psicólogas e assistente sociais da equipe ajudam a traçar planos para que a mulher saia do ciclo de violência e reconstrua sua cidadania. Também a ajudam com ações como encaminhamento de documentos, Cadastro Único, Bolsa Família, atendimento para os filhos, fortalecimento dos vínculos com a família para que a apoie e, caso ainda haja relação com o agressor, encaminham atendimento para ele, também. Ou, seja, atendimento em rede para toda a família, independente da estrutura familiar ou classe social.
O serviço está sediado na rua Marechal Deodoro, 1628; para contato podem ser utilizados os telefones 53.3199-0672 e 53.99186-0475.