Diário da Manhã

domingo, 22 de dezembro de 2024

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Prefeitura oferece abrigo a pessoas em situação de rua

Prefeitura oferece abrigo a pessoas em situação de rua
11 julho
08:06 2024

Cama, roupas quentes, alimentos e banho estão à disposição da população em vulnerabilidade no período mais rigoroso do inverno até agora

A Prefeitura, por meio da Secretaria de Assistência Social (SAS), trabalha permanentemente para convencer pessoas em situação de rua a utilizarem os serviços oferecidos pelo Município e tenham mais qualidade de vida. Na noite de terça-feira (9), a equipe fez cerca de 40 abordagens no Centro da cidade, Balsa, avenida Bento Gonçalves e CohabPel. Apesar da oferta, apenas um aceitou passar a noite na Casa de Passagem, à rua Dona Darcy Vargas, 212.

Os que não quiseram acompanhar a equipe receberam um macacão impermeável para se proteger da chuva, água mineral e cobertores. Os abordados são 100% homens adultos; muitos deles, usuários de algum tipo de droga, incluindo álcool, e todos com os vínculos familiares desfeitos ou, no mínimo, abalados. Alguns revelam o desejo de se recuperar e voltar para junto da família. Outros têm a rua como casa.

Um homem de 65 anos, acompanhado de dois cachorros que latiam para quem se aproximasse, foi abordado em uma pracinha no fim da rua Tiradentes. Disse viver nas ruas há 40 anos. “Não moro com ninguém, eu moro na rua”. Ele, que estava abrigado da fina chuva embaixo de um escorregador, onde as crianças brincam em dias de sol, disse ter família, mas que não gosta de incomodar, prefere dormir na rua. Os banhos são mensais na balsa, não no bairro, mas no canal São Gonçalo mesmo: “Dou umas mergulhadas, só quando estiver muito frio”. As cobertas úmidas não parecem provocar desconforto. “Tu nem eras nascida e eu já morava na rua”, disse. Ele recebe ajuda dos vizinhos com quem convive há muito tempo.

Saindo da Balsa, a equipe se dirigiu ao Parque Dom Antônio Zattera, na avenida Bento Gonçalves, onde encontrou mais alguns casos. Um deles era de um homem de 28 anos, engenheiro civil, que caiu no mundo das drogas e precisou sair de casa. Inicialmente foi para outro Estado e precisou viver nas ruas. Ele conta que, há 20 dias, voltou para Pelotas e está em situação de rua. Ganha algum dinheiro como guardador de carros para contribuir com a casa do amigo, onde está dormindo temporariamente. A equipe deu informações sobre locais para encontrar ajuda, como o Centro de Atenção Psicossocial Álcool e outras Drogas (Caps AD), que ele disse conhecer e já ter utilizado, e sobre o Centro Pop e a Casa de Passagem, que ficou de procurar nesta quarta-feira (10).

O secretário de Assistência Social, Tiago Bündchen, que acompanhava a abordagem, avalia que, quando uma pessoa passa a viver nas ruas, é porque não existe nenhuma outra possibilidade ou, pelo menos, a pessoa envolvida acredita que não. Para ele, usar drogas pode ser a única maneira de suportar todo o sofrimento vivido diariamente, como frio, chuva, sensação de abandono, insegurança, culpa, fome e falta de perspectivas. “Quando o corpo está sob o efeito de drogas, as pessoas podem se sentir mais fortes, mais capazes, mais seguras, mesmo que, na prática, seja exatamente o contrário, eles estejam ainda mais vulneráveis”, concluiu o secretário, após terminar a conversa com um homem de 38 anos, que vive na rua há 25anos e contou que perdeu toda a família – o pai foi morto por um vizinho, a mãe foi assassinada pelo marido, e o irmão morreu em um acidente. “A minha casa é na rua e a minha cama é no chão”.

Bündchen diz que, apesar de raramente alguém aceitar ir para a Casa de Passagem durante as abordagens, a equipe continuará atuando para ganhar a confiança dessas pessoas e tentar ajudá-las de alguma forma, se elas permitirem. “Muitos não querem ir porque se saírem do seu local, outro o ocupará, e são lugares onde se sentem mais seguros por serem conhecidos e receber ajuda dos moradores e comerciantes, onde cuidam carros, recolhem materiais para reciclagem ou recebem comida, por exemplo”, diz o secretário.

No entanto, muitas outras pessoas já conhecem o serviço e se dirigem voluntariamente para a Casa de Passagem, onde recebem jantar, podem tomar banho e dormir em uma das 84 camas com travesseiro e cobertores. Antes de sair, na manhã seguinte, recebem café da manhã. Os cachorros que as acompanham também têm lugar garantido.

Além da Casa de Passagem, as pessoas em situação de rua têm alternativa de almoço no Restaurante Popular, onde são servidas 400 refeições diárias – 200 a R$ 4,00 e outras 200 gratuitas, com encaminhamento da equipe do Centro Pop, localizado à rua Três de Maio, 1.070. O local oferece café da manhã, café da tarde, banho e conta com estrutura para lavar a roupa, para descansar e se proteger do frio. Os atendidos também são encaminhados para os serviços de saúde, para providenciar documentos, acessar benefícios e até mesmo para que sejam capacitados para o mercado de trabalho, sempre que há possibilidade. Os servidores também são capacitados e trabalham para ajudar os usuários a resgatarem os vínculos familiares e sociais.

Tanto as pessoas em situação de rua, quanto em qualquer situação de vulnerabilidade podem acessar a Rouparia, no prédio da SAS, rua Marechal Deodoro, 404, onde ficam roupas, calçados e outras doações recebidas da comunidade. Para isso, é necessário ser encaminhado por um dos serviços de assistência social. Também são oferecidos cobertores a quem precisar.

 

Fotos Michel Corvello

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