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segunda, 23 de dezembro de 2024

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Professor de biologia foi alvo de ataques na internet

Professor de biologia foi alvo de ataques na internet
29 abril
18:29 2022

O que seria uma abordagem em aula, tornou-se fonte de polêmica

Por Carlos Cogoy

Professor Enrico Blota

       Com 22 anos de magistério, e experiência profissional em diferentes cidades, o professor de biologia Enrico Blota – natural de Santa Vitória do Palmar – está enfrentando dias estressantes. Desde o fim de semana, que uma polêmica nas redes sociais, desencadeada por uma prosaica abordagem em sala de aula, colocou-o como alvo da “cultura do cancelamento”. Sob cuidados médicos, o docente se recupera de uma avalanche de manifestações, tanto ofensivas, quanto solidárias. O estopim, conforme menciona, ocorreu a partir de imagens feitas em sala de aula, e dissociadas do contexto. Assim, o que seria um conteúdo sobre questões ambientais, transformou-se em fogo cruzado nas redes sociais. Com apoio jurídico do Sindicato dos Professores do Ensino Privado do Rio Grande do Sul (SINPRO/RS), o docente observa que a questão deveria ter sido tratada de forma didática, e expressa sobre o momento: “Atualmente, estou em casa sendo tratado por estresse agudo, pois essa nova ’cultura de cancelamento’, propagada pela internet, é algo extremamente adoecedor, não somente para quem é a vítima, pois também vemos a violência na fala dos que atacam, sem nem sequer saber ao certo a verdade por trás de tudo. Mas, por outro lado, também vemos o quanto é pertinente o assunto, não somente em relação ao aquecimento global e mudanças climáticas, como a forma que a classe dos professores é tratada. Em meio a isso tudo, soube de outro caso, de um professor de Uruguaiana que passou por algo semelhante, e foi demitido de sua escola. Eu e minha família, ainda estamos elaborando o acontecido ao qual fomos expostos”.

POLÊMICA – Enrico menciona o que gerou a controvérsia: “A polêmica iniciou a partir de uma aula de impactos ambientais, em uma das turmas de segundo ano do ensino médio. Nessa aula, discuto muita coisa e faço meus alunos refletirem sofre quanto de água existe num simples lanche, como um pão com um bife, ou um MacDonald’s, por exemplo. Assim, inicio um pensamento sobre a produção do trigo, da carne e de outros componentes presentes no lanche. Sabe-se para cada quilo de carne chegar à nossa mesa, são envolvidos milhares de litros de água – fato científico -, assim como o cultivo do arroz e de carne também consome água – fato científico conhecido há décadas. Minutos após, falei da intensificação do efeito estufa, onde a queima de combustíveis fósseis, motores de aviões, flatulências e arrotos dos ruminantes, como ovelhas, boi, vaca, entre outros, também intensificam o fenômeno, entre outros casos, citados em aula e também fatos científicos. Porém, entre as formas de minimizar esses impactos, tanto na água quanto no aquecimento global, estão ‘diminuir o consumo’ como um todo, mas não acabar com o consumo”.

CONSUMO – E o professor esclarece: “Obviamente, não iremos acabar com o consumo de arroz e de carne, tampouco de lanches, ou até mesmo não andarmos de aviões ou de carros. O fato acontecido poderia ser comparado com um acionista de uma fabricante automobilística, pronunciando-se contra uma escola, devido ao professor ter dito que a queima de combustíveis fósseis, libera poluentes cancerígenos, e de impactos ao ambiente. Ou, as fabricantes de refrigerantes produzidos com o corante Caramelo IV, pronunciando-se contra um professor que, em sala de aula, discute os efeitos nocivos à saúde, comprovados cientificamente”.

CONSCIÊNCIA – Desde fevereiro, Enrico leciona na Escola Mário Quintana. “Não sou um ativista ambiental e, tampouco, tenho partido político, ou defendo algum político. Sou um professor de biologia apartidário, mas ao lado da ciência pró ambiente, e sempre ao lado do crescimento da humanidade com menor impactos ao planeta. Acredito que a consciência ambiental deva figurar não somente em coletivos, mas também nas esferas do microcosmos, afinal, todos nós deixaremos nossas pegadas ecológicas no planeta. Se esse planeta acabasse hoje, apenas deixaríamos átomos como lembrança molecular, para que esse local siga evoluindo, ou seja, as pessoas não são nada junto ao todo que existe”, conclui.

SINDICATO RURAL: Informações devem ter base científica

Fernando Rechstainer

O presidente do Sindicato Rural, Fernando Rechsteiner, menciona que foi surpreendido pela dimensão da polêmica, em torno de um questionamento, cujo objetivo era orientar para a necessidade de rigor nas informações apresentadas em sala de aula.

Avesso às redes sociais, o líder ruralista salienta que o momento é de apaziguar os ânimos, e jamais houve qualquer animosidade em relação ao professor Enrico Blota. “Não nos conhecemos pessoalmente, mas acredito que temos a mesma visão, ou seja, a necessidade de cuidado e precisão, em relação aos temas que envolvem a natureza, meio ambiente e produção rural”.

Rechsteiner observa que, diante das inúmeras fontes na internet, surgem informações com fragilidade científica. Além disso, também as “fake news”, que atendem diferentes interesses.

Uma questão que gerou a polêmica foi a menção dos litros de água, que seriam consumidos para a produção de um quilo de carne. De acordo com Rechsteiner, não é correto o enfoque no qual se estaria perdendo água, em detrimento da pecuária. O líder ruralista acrescenta que existe um ciclo, e a água ingerida pelo bovino, também é expelida e, na natureza, não desaparece, mas evapora até virar chuva, e novamente retornar.

Também nas lavouras acontece um ciclo com a água, que é natural, e não compromete o ambiente. O enfoque tem embasamento científico, frisa ele, e deve ser repassado, pois evita equívocos.

Ao DIÁRIO DA MANHÃ, Rechsteiner frisa que admira os professores, e o posicionamento teve o caráter de esclarecimento.

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