Diário da Manhã

Espaço recebeu mobiliário para conservação do acervo com cerca de 1,3 mil peças, entre elas relíquias com recibos da compra de tijolos, datados de 1933

Após nove meses de trabalho, foi concluída oficialmente nesta sexta-feira (28) a qualificação da Reserva Técnica da Catedral Metropolitana São Francisco de Paula, em Pelotas. A apresentação do espaço, totalmente remodelado, foi feita pela equipe da Mnemosine Conservação de Acervos, responsável pelas ações que integram o projeto, realizado pela Ato Produção Cultural.

Parte da programação da Semana Cultural da Catedral, a entrega da Reserva Técnica contou com a presença de autoridades, do pároco da igreja, padre Wilson Fernandes, e das equipes envolvidas nas diferentes ações que fazem parte do amplo projeto de restauração do templo.

Dentro das ações voltadas à Reserva Técnica, o trabalho foi organizado em duas frentes realizadas simultaneamente: a qualificação do espaço físico que abriga cerca de 1,3 mil itens do acervo e a elaboração de um inventário atualizado desses bens móveis. Ao longo da execução, o projeto também abriu o espaço ao público, recebendo grupos como alunos da Escola Louis Braille e acadêmicos do curso de Conservação e Restauração da UFPel.

O principal objetivo do projeto foi garantir que objetos e documentos históricos possam ser identificados e preservados, evitando danos causados pela ação do tempo e problemas como ataques biológicos, sujidades, falta de segurança e a umidade. “Todo o mobiliário existente foi realocado, as mapotecas foram restauradas e adequadas para receber o acervo e novos armários específicos para conservação foram adquiridos. Além disso, uma estante sob medida foi instalada no centro da reserva para acomodar mapas e desenhos de grandes formatos. Os itens do acervo passaram por uma reorganização, agora classificados por tipo de material para facilitar o manejo e a sua preservação”, destaca a produtora cultural Roberta Manaa, da Ato.

Inventário detalhado

A consolidação do inventário permitirá que a Catedral tenha um reconhecimento detalhado do acervo. Para isso, a equipe optou por dar continuidade ao trabalho iniciado pelo museólogo Everton Lautenschlager em 2018. Cada item foi higienizado, ganhou ficha catalográfica e recebeu um número de identificação.

Conforme a museóloga Jossana Coelho, os profissionais encontraram plantas arquitetônicas e desenhos em estado crítico de conservação. Estes itens, juntamente com os livros mais danificados e os quadros em alto relevo, receberam acondicionamento adequado para reduzir chances de ataques de insetos.

Para garantir a continuidade da preservação, as profissionais da Mnemosine elaboraram uma “Oficina de Conservação Preventiva” e um “Manual de Boas Práticas em uma Reserva Técnica”. As iniciativas detalham critérios para segurança, uso dos itens e higienização, incluindo protocolos para manuseio.

Segundo o padre Wilson, a qualificação resgata aspectos históricos da Catedral e estabelece um legado. “Estamos muito agradecidos, pois também descobrimos coisas preciosas, como os recibos da compra dos tijolos da Catedral e anotações sobre esse importante espaço da nossa cidade.”

Entenda: o que é a reserva técnica

Localizada no segundo piso do templo, próxima ao mezanino onde se reúne o côro, a reserva técnica é o espaço onde são armazenados itens e documentos que fazem parte do patrimônio móvel da Catedral. O acervo contém itens diversos, incluindo metal, papel, tecido, madeira, e imaginário religioso, além de plantas e outros documentos que registram a história da igreja e, também, de Pelotas e região. Através da qualificação da reserva técnica, estas peças passam a ser preservadas adequadamente, identificadas, higienizadas e armazenadas, prontas para futuros processos de conservação-restauração.

O projeto foi uma realização da Ato Produção Cultural, com financiamento da Lei Rouanet e o patrocínio da empresa Bianchini S.A. A execução foi da Mnemosine Conservação de Acervos, com as conservadoras-restauradoras Degli Márcia de Quevedo, Natália Corrêa Couto e Rosaura Isquierdo Rocha, a arquiteta e museóloga Jossana Peil Coelho, e a estagiária de Museologia Ester Teixeira Gonçalves.

Fotos: Carlos Queiroz/QZ7 Filmes