Que dia é hoje? 2 de outubro na história da música
O psicodelismo do Pink Floyd, a sofisticação do Police, a insolência do Oasis
Marcelo Gonzales*
@celogonzales @vidadevinil
Hoje, 2 de outubro, a música parece ter escolhido brincar com o tempo, alinhando diferentes gerações, estilos e geografias em um mesmo calendário. São datas que não passam despercebidas, lançamentos de álbuns icônicos, nascimentos de artistas que mudaram paradigmas e até a despedida de uma lenda.
No 2 de outubro de 1970, o Pink Floyd lançava Atom Heart Mother, seu quinto álbum de estúdio. Diferente de tudo o que vinha antes, este trabalho marcou a fase mais experimental da banda. A faixa-título, com seus 23 minutos, trazia metais, coro e arranjos orquestrais conduzidos por Ron Geesin, uma ousadia para a época e até mesmo para o próprio grupo.

Foi um disco que dividiu opiniões, os críticos não sabiam se o classificavam como obra-prima ou delírio pretensioso. Mas para os ouvintes que mergulhavam de fones de ouvido, ele era quase uma sessão de cinema sonoro. Era o tempo em que se ouvia um álbum inteiro como se fosse um ritual, e Atom Heart Mother permanece como um retrato desse momento em que o rock ousava ser arte total.
Exatos 11 anos depois, no 2 de outubro de 1981, o mundo ganhava um presente duplo. Primeiro, era aniversário de Sting, nascido em 1951, um dos nomes mais carismáticos e inquietos do rock britânico. Segundo, naquela mesma data, sua banda The Police lançava Ghost in the Machine, quarto álbum do trio.

O disco trouxe canções emblemáticas como Every Little Thing She Does Is Magic e Spirits in the Material World, reforçando a mistura de reggae, rock e pop que fez do Police um fenômeno mundial. Sting ainda estava em seu auge com o grupo, antes de se aventurar em uma carreira solo igualmente brilhante, explorando jazz, música clássica e influências do mundo inteiro.
Curioso pensar que, no mesmo calendário, temos o nascimento de Sting em 1951 e, trinta anos depois, uma obra que consolidava seu nome na história. Como se o tempo tivesse reservado a data para carimbar o destino.
Avançando mais uma década, chegamos a 2 de outubro de 1995, quando o Oasis lançava (What’s the Story) Morning Glory?. O álbum transformou os irmãos Gallagher em porta-vozes do britpop e consolidou a batalha épica contra o Blur na disputa pelas paradas.

Ali estavam Wonderwall, Don’t Look Back in Anger e Champagne Supernova, canções que ecoaram em estádios, rádios, festas e até hoje continuam sendo entoadas como hinos. Mais que um disco, Morning Glory é uma fotografia da juventude britânica dos anos 90 com guitarras altas, refrões melódicos, insolência e um certo romantismo torto que só o Oasis soube traduzir.
Se o Pink Floyd experimentava os limites da forma e o Police mesclava gêneros, o Oasis devolveu ao rock o poder da simplicidade, três acordes e uma canção que parecia falar direto ao coração de milhões.
Mas o 2 de outubro também guarda memórias dos Estados Unidos. Em 1945, nascia Don McLean, o trovador que décadas depois escreveria American Pie, em 1971, uma das canções mais longas e simbólicas da história do rock. Oito minutos que narravam não apenas “o dia em que a música morreu”, mas toda a transição cultural de uma geração marcada pela perda da inocência.
Curiosamente, no mesmo 2 de outubro de 1998, o mundo se despedia de Gene Autry, o “Cowboy Cantor” de Hollywood. Autry não era do rock, mas sua música ajudou a moldar o imaginário americano no rádio e no cinema, cantando valores de um país que ainda acreditava em cowboys, cavalos e mitos do Oeste.
Colocar McLean e Autry lado a lado é perceber como a música narra a história de uma nação: um, com a nostalgia melancólica de um rock que cresceu rápido demais e o outro, com a inocência quase infantil de um país que se via refletido na tela de cinema. Ambos, de certa forma, cantaram despedidas…
O dia 2 de outubro é um caleidoscópio de sons, com o psicodelismo do Pink Floyd, a sofisticação do Police, a insolência do Oasis, a poesia de McLean e a memória de Autry. Datas assim nos lembram de que a música é mais que um calendário, é uma linha do tempo que costura épocas, estilos e sentimentos.
E nós, ouvintes e colecionadores, seguimos voltando a esses discos e canções como quem revisita capítulos de uma biografia pessoal. Porque, no fim das contas, cada lançamento, cada nascimento e até cada despedida se tornam também nossas memórias.
*Marcelo Gonzales é autor do blog Que Dia é Hoje?, vive entre discos de vinil e muita mídia física, sempre atento à música, à cultura e ao jornalismo, compartilhando histórias que conectam gerações.







