Diário da Manhã

segunda, 29 de abril de 2024

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RUAS CRUAS: Ao som da melodia que tocam os ventos

15 outubro
17:53 2014

Dia 27 de outubro às 18h30min no Sete ao Entardecer, César Lascano estará apresentando show de lançamento do disco “Ruas Cruas”

Por Carlos Cogoy

César Lascano é “blueseiro” talentoso da nova geração  CRÉDITO: Divulgação

César Lascano é “blueseiro” talentoso da nova geração
CRÉDITO:
Divulgação

As minhas noites tem sido um tanto quanto iguais/ chutando lata pela rua/ na companhia dos amigos leais/ tomando um vinho barato/ trocando ideias cruas/ saber de coisas tão banais/ a poesia abstrata dos prédios de tantas ruas/ o mistério que há por entre os becos na rua 15 de novembro/ e a fragilidade dessas criaturas/ à luz da lua/ somos fragmentos do implacável tempo que consome a noite/ e das conversas que enobrecem e dão mais sabedoria/ ao velho banco da praça/ e eu assim me sinto bem/ sou mais uma criatura que se vai ao som da melodia que tocam os ventos da rua 15 de novembro. Alguns dos versos de “Rua XV”, uma das cinco músicas de César Lascano que estará no CD “Ruas Cruas”.

Selecionado para o Sete ao Entardecer na Fábrica Cultural – rua Félix da Cunha 952 -, Lascano apresentará show de lançamento do disco no dia 27. Até lá, pré-lançamentos. A exemplo, show “Meio a meio” realizado no MOSA gastronomia em setembro. “Correntes”, outra música que estará no disco, começa assim: Expandindo ou comprimindo/ por onde vamos/ uma coreografia como a dança das ondas/ as correntes desse rio/ e as correntes que me prendem/ só uma certeza, tudo é movimento/ pressão e flexão/ onde a água bate e arrebenta, sempre há, o que hoje há/ uma ferida, aberta. Algumas das músicas podem ser ouvidas no “facebook.com/cesarlascanoruascruas”, bem como estão acessíveis no Youtube.

DISCO terá show com a banda formada por Alinson Alaniz (baixo), Davi Batuka (bateria e percussão), Gustavo “Yamanduzinho” Oliveira (guitarra). No repertório, serão interpretadas quinze músicas. Já na gravação, Cesar e Batuka tem sido acompanhados pelos músicos Guilherme Ceron (baixo), Mateus Porto (guitarra) e Rodrigo Farias (bateria). No repertório do CD, também as faixas: “Fuga”; “Ruas Cruas”; “Quando eu pintar teus olhos”. César também está na produção, e a captação, edição e mixagem, acontecem no estúdio A Vapor. A direção de arte é do talentoso Valder Valeirão e as ilustrações são de Théo Gomes. O CD “Ruas cruas” poderá ser adquirido durante o Sete ao Entardecer, e César adianta que o ouvinte atento encontrará algumas “surpresas” no conteúdo. Realização da equipe do Theatro Sete de Abril, o “Sete ao Entardecer” tem entrada franca.

BLUESEIRO – Apresentando-se em bares e casas noturnas locais, César começou o circuito de shows em 2011. À época, acompanhado pelo percussionista Wander Garcia, mesclava o som autoral com MPB, clássicos do rock e o blues. Na trajetória, cantou em edições da Feira do Livro, Fenadoce e Sete ao Entardecer. Talento da nova geração da música pelotense, César destaca-se como “blueseiro”. O cara é muito bom. Tocando harmônica – ministra aulas com a técnica para a gaita de boca -, e cantando num estilo próprio que transmite a sonoridade essencial ao autêntico “Blues”, tornou-se uma das principais referências do estilo na região. Entre as suas iniciativas, menciona o projeto “Toca um blues aí!”. Com o parceiro Alex Vaz, desde o ano passado tem participado das edições do “Diablues”. Trata-se de programação cujo calendário de shows, promove a itinerância do “Blues” em espaços como o João Gilberto, Diabluras e Observatório bar. Outra faceta artística de César, que sobrevive da música em Pelotas, é a proposta de “desconstrução” de repertório consagrado.  Assim, partindo da arte reconhecida pelo grande público, inovação ao propor releituras. Com isso, ao invés da chatice dos clichês sonoros das casas noturnas, uma livre reinvenção para sentir no que vai dar. A expectativa é que, além do disco autoral e, como diz o músico “intimista”, César também enverede pelo “blues-pampeano”, ou algum híbrido que o valha.

TRAJETÓRIA – “A música foi muito presente na minha casa. Tínhamos muitos discos de vinil. Meu pai, por exemplo, sempre foi envolvido com samba e carnaval. Cresci escutando de tudo. Acho que consegui extrair um pouco de cada coisa, o que foi bastante enriquecedor. Trabalhei no comércio. Atualmente, e já faz algum tempo, tenho na música meu único meio de sustento. Além de dividir o trabalho nas minhas diferentes frentes, seja autoral, ou Diablues, voz e violão, também dou aula de harmônica. Lecionar é algo bem marcante na minha vida e na minha personalidade. Cursei metade do curso de licenciatura em historia na UFPel. Está trancado. É projeto que está adiado… mas não cancelado, pois pretendo retomar assim que possível. Atualmente volto todas as minhas atenções para a música”, diz ele.

AUTORAL – “O que me inspira é justamente o que me inquieta e vice-versa. Procuro trazer no disco, e na obra em geral, algo bastante intimista. Proponho algo que é visceral em sua essência. São reflexões da vida, dos sentimentos, do nosso mundo, daquilo que nos cerca. E, aliás, como nos cerca! São reflexões e também provocações. A ideia também é ‘instigar’, o ‘quê’ exatamente não importa. Mas a ideia é instigar de maneira lírica, subjetiva e ao mesmo tempo crua, visceral”, divulga César.

CENA – “Temos bastante gente boa e não somente na música, mas em variados  segmentos artísticos. A ‘mão-de-obra’ da classe artística em Pelotas é fantástica. Acredito que existem espaços, porém poucos, sobretudo no que tange ao poder público. Acho que existem bons projetos à disposição da classe, mas o alcance e o suporte dos mesmos não são suficientes para a demanda artística da cidade.  Ainda falta muita coisa. Tem muita gente boa que tende a ir embora daqui por não haver uma melhor perspectiva de trabalho, sobretudo no âmbito autoral. Pelotas gosta de ostentar essa fama de ‘polo cultural’, talvez por ego. Ou  vaidade de um período que ficou na história e morreu. Mas o fato é que não se consegue contemplar a todos, e há muito tempo. É clara a necessidade de desenvolver novas políticas públicas nesse sentido para que de fato consigamos explorar todo o potencial artístico que a cidade tem. A cena é interessante de ser analisada. Os espaços são poucos, e sei que já foi pior como contam músicos que estão há mais tempo na estrada.  Mas entendo que, silenciar diante da situação atual, só porque outrora já foi pior, seria meramente conformismo e comodismo. Vejo que alguns músicos estão se unindo, trocando ‘figurinhas’, desenvolvendo trabalho juntos. Eu mesmo já fiz isso muitas vezes. Acredito que esse é o caminho. Precisamos nos unir, ter consciência de classe e reivindicar nosso espaço. Outro fator a ser considerado é o bom e velho ‘correr atrás’. Nada cai do céu, e quando o lance é a arte, sobretudo pra quem quer viver dela, esse é um fator decisivo. É necessária doação, trabalhando com profissionalismo, pois viver de arte é difícil. É bonito, é verdade. Mas é difícil”, avalia o artista pelotense.

AGENDA –  Amanhã (17/10), César Lascano tocará no Diabluras – esquina das ruas Cel. Alberto Rosa e 3 de Maio. No sábado à noite, voltará ao Bierlager – rua General Osório 1.246  com fone: 3305.9193.

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