Diário da Manhã

domingo, 28 de abril de 2024

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SÃO LOURENÇO DO SUL: No mar de dentro um guri da Barrinha

15 dezembro
18:05 2014

Dia 7 de janeiro no Clube Comercial em São Lourenço, compositor e intérprete Mário de Freitas apresentará show do novo disco

 Por Carlos Cogoy

Mário de Freitas foi o primeiro lourenciano a vencer o Reponte em 1986

Mário de Freitas foi o primeiro lourenciano a vencer o Reponte em 1986

Meu verso é meu universo/ diverso, controverso/ avesso ao bom senso/ meu verso versa sobre o que me interessa/ meu verso versa sobre o que não te interessa/ ou vice-versa/ sem pressa/ me expresso/ eu verso/ Meu verso versus essa versão perversa/ meu verso submerso avesso a essa conversa/ mundo adverso/contesto um contexto, protesto/ eu verso.  Letra de “Vide verso”, música que abre o disco “Universos – transitórios e transcendentes”, segundo CD do compositor, músico e professor lourenciano Mário de Freitas. A 7 de janeiro – data do seu aniversário -, Mário de Freitas fará o show de lançamento na cidade natal. Identificando sua arte musical como “reflexiva”, o professor de história brinca e diz que está à frente do Movimento Musical “Sofá”. E explica que muitas das composições começaram no sofá, pois é lá que se acomoda, lê, escreve e “pensa na vida”. Bem-humorado, acrescenta que o tal movimento, “Sofá”, também alude a duas notas que conhece: sol e fá. Se a descontração, simplicidade e fala pausada, acolhem para mateada, nas músicas o poeta expressa sobre observações, leituras e estudos. E nos conceitos que movem seus versos, estão reflexões científicas, filosóficas e esotéricas.  As canções, porém, não se manifestam herméticas ou inacessíveis. Mário transmite, com o canto popular, sua narrativa acerca do meio ambiente, em especial o lugar à beira da lagoa, o homem e suas covardias, miudezas e ambições, a dominação, injustiça e ganância.

DISCO tem na segunda música “O filósofo e o índio”, versos como: homens-inteiros/ homens-metade/ humanidade/ miséria-prosperidade/ opressão-liberdade/ comunhão ou caridade. Na temática, crítica ao poder colonialista, cuja presunção subjugou sociedades tribais. O “selvagem” como excentricidade à civilização ocidental. Na terceira “Coração subversivo”, autor remete à relatividade como “a direita de quem vai é a esquerda de quem vem/ o norte pode estar no sul/ e o sul ficar no norte/ quem tem azar e quem tem sorte/ quem matou e quem morreu/ quem acredita no crente/ em quem acredita o ateu/ no final estão todos certos/ o maluco sou eu/ Entre o tudo e nada/o honesto é o ladrão/ entre a cruz e a espada/ se embretou meu coração/ coração subversivo vai remar contra a maré/ parcial, intuitivo/ da ciência até a fé. Em “Onde está teu coração”, a voz da filha Verônica Freitas. Na letra, compositor desenvolve sobre o que chama de “Síndrome do faraó”. Trata-se de princípios que, desde as pirâmides, mantem-se atuais. Então, o homem como “centro do mundo, e que também acredita que os demais estão para servi-lo, e o acúmulo de bens com a pretensão de levar à eternidade”. Já na bela “Amor no desamor”: Eu não tenho medo de olhar nos teus olhos/ pra dizer/ que eu te amo/ eu te amo/ mesmo sabendo/ com um beijo, eu vou trair/ mesmo querendo guardar segredo/ vou conseguir/ como vou me esconder/ onde vou me esconder/ de mim. No repertório também: Amor pra sempre; Guri da Barrinha; O maior amor do mundo; O índio e o missionário; O poder – letra de Maurício Raupp Martins -; Mar de dentro; Vagalume; Viajor – letra de Mauro Rosa.            Disco foi gravado no estúdio Yaih de Eliahs Khun. De acordo com Mário Freitas, em 2015 poderá ser baixado na internet. Contatos com o músico:[email protected].

TRAJETÓRIA – Mário lembra que a mãe ouvia programas de rádio, e ele decorava letras das músicas. Período dos festivais, depois a fase Jovem Guarda. Adolescente, com a facilidade para memorizar letras, foi convidado a participar do grupo “Samba Taí” do então jovem músico Adão Quevedo. Mário cantava e tocava percussão, e o grupo apresentava-se em festas na região. Ao dezoito anos, querendo compor as próprias, passou a dedilhar o violão. E recorda que o aprendizado foi com as dicas de amigos e os famosos livrinhos para “tirar música”. Tímido, nas músicas expressava sentimentos e ideias. Ele lamenta que não tenha gravado nem guardado composições do período. Nos estudos, cursou períodos no jornalismo da UCPel e direito na UFPel. A formatura, porém, seria em história. Profissionalmente, atuou no comércio, jornal e rádio de São Lourenço, também na produção de eventos como o “Festival de talentos”. Ainda, fase como assessor parlamentar do então deputado estadual Beto Grill. Nos oitenta, festivais como o Alegretense da Canção, Banco Econômico da Canção Popular em Pelotas, bem como em cidades como Lajeado, São Jerônimo, Dom Pedrito e Triunfo. O primeiro Reponte em São Lourenço foi em 1985. Ano seguinte, Mário venceu com “Peão das Águas”. Versos: O Rio Grande não é feito só de pampa/ coxilhas/ou de matas/ tenho aqui minha parelha de canoas/ sou gaúcho da lagoa. Com “Ao talante do meu cavalo”, noutra edição do festival, e letra de Maurício Raupp Martins, a conquista de segundo lugar.

CANTO NATIVO – A partir de 1993, Reponte com a eliminatória “Pérola da Lagoa”. De acordo com Mário, conquista de antiga reivindicação. Assim, espaço e valorização de artistas lourencianos sendo que, dois são selecionados na etapa local, e garantem presença na final do festival. Mário, porém, diante dos custos para participar de festivais e investir na produção de sua música, foi se afastando dos palcos. Porém, não deixou de criar. Em 2006 lançou o primeiro disco “Meu canto nativo”. Em dez faixas, o peão da lagoa aborda sobre as belezas e poesias proporcionadas a quem reside na Barrinha, e da janela de casa avista o mar de dentro. Admirador do budismo e da física quântica, empolga-se ao citar Einstein: “Sem Deus falta algo no universo”.

Disco que também terá lançamento em Pelotas

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Primeiro disco foi dedicado a músicas sobre a lagoa

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