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sábado, 18 de maio de 2024

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Seminário debaterá racismo

04 setembro
10:20 2015

Por Carlos Cogoy

Cotista vagabundo! A inscrição alusiva à política de cotas na universidade pública, está num dos banheiros do prédio no qual o jovem estudante pelotense Alisson Balhego, assiste as aulas do curso de história. Aos 25 anos, residente no bairro Santa Terezinha, Alisson diz que sua postura crítica começou em casa. E destaca a orientação que recebeu dos pais e avós. Do período escolar, recorda que recebeu apelidos preconceituosos na primeira série. Posteriormente, como aluno da rede pública, precário contato com a história e cultura afro. Na universidade, é optativa a disciplina que aborda sobre a África.

Estudante Alisson Balhego

Estudante Alisson Balhego

Ele acrescenta: “As escolas não são diferentes, os textos usados ainda são eurocêntricos. Então são os europeus falando do Brasil e da África. E quando chega no conteúdo a abordagem é rasa”. Integrante da Frente Negra Pelotense e do coletivo “Alicerce”, Alisson divulga o seminário que acontecerá amanhã das 9h às 17h na Câmara Municipal. O evento é aberto à comunidade e o estudante de história será um dos painelistas.

UNIVERSIDADE – Acadêmico do sexto semestre, Alisson menciona sobre o preconceito na universidade: “No semestre passado aconteceu uma cena lamentável com alguns colegas de curso que, assim como eu, são negros. Era final de semestre, e as pessoas ficam mais agitadas e preocupadas com notas e provas nesse período. Meus colegas estavam no saguão do prédio conversando e afastados da cabine do senhor que faz a vigia. O saguão estava lotado, tinha até um grupo que cantava ao som de violão. No meio de tudo isso, o senhor que vigia o acesso do público foi até meus colegas, e mandou que calassem a boca. Ele perguntou qual a educação que receberam. Após, saiu resmungando, como se esperasse deles algum tipo de comportamento desordeiro. O saguão estava lotado! Tinha gente tocando violão, rindo e falando muito alto. Mas o guardinha foi direto neles! Eles estavam distantes dele.

A pergunta é, por qual motivo isso acontece? E foi somente com eles. O guarda não reprimiu a postura  de mais ninguém que estava no saguão. E eles eram os únicos negros ali. Então notamos que aumentou o acesso à universidade, mas o ambiente não mudou. Vivemos situações bizarras, e frequentemente ouvimos piadas ridículas. É preciso combater esse comportamento. E um momento de formação e preparação, faz parte desse combate”.

PELOTAS na opinião do jovem: “A cidade não propicia muitas oportunidades de emprego, e boa parte da população trabalha no comércio. Se formos pensar que o país vive conjuntura complexa e está em crise, as oportunidades tendem a diminuir mais e mais.  Mesmo que soe negativo, ou pessimista, parece que a situação só tende a piorar. Eu penso sobre o contexto, e existem ideias, frases, que apenas contribuem para a destruição. Aquela ideia de que ‘somos todos iguais’ é muito problemática. Ela mais exclui do que inclui. Isso fomenta a ideia de que todos temos as mesmas possibilidades. E vira argumento para criminalizar os que não se enquadram nesse sistema. Vejo isso como o mesmo discurso de democracia racial.

Aqui se pensa que escapamos do racismo, da discriminação. Aqui as pessoas acreditam que existiam senhores de escravos benevolentes. O que é ridículo, e o pior, vira argumento para justificar opinião. Ao mesmo tempo, observamos notícias e mais notícias que tratam da discriminação racial. Não parece estranho? Para que uma mudança comece a ocorrer, é necessário desconstruir ideias. É importante não creditar a juventude negra, como juventude problema. E esse processo caminha a largos passos. O governo precisa zelar pela população e não exterminá-la!”.

livros OlgaLIVROS  “Reinterpretando silêncios – reflexões sobre a docência negra na cidade de Pelotas/RS” (editora Nandyala), e “Cicatrizes da escravidão: da história ao silenciamento” (editora Um2) – foto – serão lançados hoje às 18h30min. As obras são autoria da pesquisadora Olga Pereira, e a sessão de autógrafos acontecerá no saguão da Livraria Vanguarda Técnicos – saguão do Campus da UCPel. Amanhã também haverá lançamento no seminário de formação da Frente Negra Pelotense.

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