SONORA BRASIL: Os “Cantos de trabalho” na pesquisa de Serraria
Sábado às 9h no SESC – rua Gonçalves Chaves 914 -, compositor e músico Richard Serraria ministrará workshop e apresentará performance
Cinco vezes premiado com o “Açorianos de Música”, criador do grupo Bataclã FC em 1997, um dos principais apoiadores da retomada do tambor “sopapo” – desde o projeto Cabobu há mais de quinze anos. Em 2015, com a intervenção “Poesia para todo sampler” – versos memorizados e registrados nos livros, canções, cartazes e rap -, esteve em sessenta cidades. O compositor, músico e pesquisador gaúcho Richard Serraria, vinte anos de carreira artística, já lançou seis discos e um DVD. Integrante do grupo de percussão “Alabê Ôni”, neste sábado ele estará explanando e apresentando performance no SESC. Trata-se da programação “Cantos de trabalho”, que resulta de pesquisa e estará orientando sobre a arte dos grupos que integram o projeto “Sonora Brasil” do SESC. Na iniciativa, que percorre o País, grupos de comunidades do interior, apresentam-se com os cânticos tradicionais. Informações: (53) 3225.6093. E-mail: [email protected]
TRABALHO – Organizadores acrescentam: “A palestra será no formato de workshop, em que o ministrante discorrerá sobre a história dos ‘Cantos de Trabalho’, e sua extinção com o processo de industrialização no Estado. Richard Serraria irá falar sobre a sonoridade dos quatro grupos, que integram o projeto neste ano no Estado. A ação será didática com uma performance de Serraria com violão e percussão para a demonstração de cânticos. O evento busca envolver profissionais de vários segmentos como jornalistas, professores, historiadores, pesquisadores e músicos, além do público em geral”. Richard menciona sobre a programação: “Sobre o Sonora Brasil, adapto pesquisa acadêmica com vivências em comunidades praticantes de manifestações populares. A pesquisa dos cantos de trabalho traz material de lenhadores dos campos de cima da serra, pescadores de Santa Catarina e plantadeiras de milho do Paraná. Busquei ainda material no nordeste, para ilustrar cantos de trabalho de herança indígena e negra presentes no Brasil”.
SOPAPO – Serraria observa sobre a relação com Pelotas: “Viajei à cidade em 1999 para conhecer as oficinas de sopapo no Colégio Pelotense. Desse contato, trouxe o sopapo para Porto Alegre, antes da estreia do Cabobu. Ali conheci o clã Baptista, parte fundamental da história do tambor afro gaúcho. Depois participei da equipe que construiu o documentário ‘O grande tambor’, em que fiz a pesquisa e ainda a trilha sonora. Em Pelotas, sempre tive muito interesse pela história do povo negro. E assim o sopapo chegou à minha vida, em função dessa contingência histórica ligada à cidade que abrigou o maior sítio charqueador do Estado”. Pelotas também foi a opção, através do estúdio “A vapor”, para a gravação de áudio do grupo “Alabê Ôni” que, em 2013, lançou o primeiro DVD. Sobre a gravação em Pelotas, Serraria observa: “A Princesa mãe do sopapo nos mostrou caminhos, para melhor captarmos o atabaque rei”. No repertório do “Alabê”, músicas de domínio público e a composição de Serraria “Giba Gigante Negão”, que homenageia o pelotense Giba Giba.
TRAJETÓRIA – Roqueiro na adolescência, Serraria – designação resulta do bairro de origem na capital gaúcha -, ingressou no curso de letras da UFRGS. Ele ressalta: “Comecei influenciado pela literatura, sobretudo a poesia. Daí, passar à canção foi um caminho natural. E fui influenciado por Chico Science e sua síntese ‘local-e-global’. É nisso que procurei referências da cultura negra no Estado, para misturar com o rock e o rap que praticava em Porto Alegre ao final do século XX. Já no ano 2000, com a Bataclã FC, estive nas duas edições do Cabobu em Pelotas. O Bataclã foi concepção minha, reunindo estudantes de letras, teatro e artes plásticas. Desde o surgimento, instrumentos, ideário poético e político bem definidos. Na poesia, a ideia foi avançar na cartografia da cidade. Assim, citando personagens da memória afetiva da capital, junto com a toponímia e gírias. Sou o autor das letras, já algumas das harmonias foram compostas em parceria. Nos arranjos o destaque para o sopapo, atestando a presença negra no Rio Grande do Sul. O Bataclã FC segue na ativa, e ano passado lançou o terceiro disco”. Durante dez anos, ele lecionou em universidades. Para 2017, conclusão do doutorado na UFRGS, com apresentação de “disco-tese”.
MÚSICA – Embora não tenha publicação bibiográfica, Serraria é reconhecido como autor e poeta. A exemplo, em duas ocasiões foi patrono de “feiras do livro”. Como shows, destaca: “duas edições do Cabobu (2000); Argentina (2001); Fórum Social Mundial para 40 mil pessoas em Porto Alegre (2002); Salvador (2003); Brasilia (2004); Uruguai, Argentina, Cuba, Espanha, e 114 cidades do Brasil entre 2013 e 2014”. Ele reflete: “Música urbana gaúcha com tambor. Acho válida a inquietação para pensarmos na presença negra na construção do Estado. Mas, enquanto escuta e pesquisa, encontro melhores referências disso na música uruguaia ligada ao candombe. Ainda assim, há boas perspectivas em curso. Considerando essa música popular feita com tambores”.
Por Carlos Cogoy