Trabalho remoto se consolida como alternativa no mercado
O mundo passou por profundas transformações recentemente. Melhor dizendo, tem passado. O processo é contínuo, e não existe uma linha de chegada. Porém, é inegável que essas mudanças têm sido cada vez mais rápidas, e cada vez mais profundas
Do ponto de vista corporativo, houve uma modificação que virou do avesso o cotidiano das empresas: o trabalho remoto. Mas longe de ser algo passageiro, essa modalidade de emprego criou raízes, e de obrigação passou a ser uma opção, tanto para velhos empregadores quanto para jovens profissionais. E vice-versa.
Há três ou quatro anos, poucas empresas se animavam em implantar o trabalho remoto. Havia dúvidas sobre a eficiência de um empregado longe do ambiente corporativo, em uma versão de escritório do “olho do dono é que engorda o boi”. Também havia questões técnicas como o equipamento, a conexão de internet, os softwares. Como o tempo provou, nada que fosse intransponível. Mas, naquela altura, ninguém queria dedicar tempo e dinheiro a encontrar as respostas.
Mas já que a necessidade é uma força motriz poderosa, todos esses pontos foram abordados – e resolvidos – por milhares de empresas e milhões de empregados em todo o Brasil. E, ao fim e ao cabo, percebeu-se que o trabalho remoto pode, sim, ser uma alternativa viável.
Assim como toda nova fronteira, o trabalho remoto, especialmente em home office, passou por um período de adaptação e aprendizagem. Sem fontes acadêmicas pré-existentes, os profissionais nômades recorreram às mais diversas fontes de informação disponíveis. Até mesmo jogadores de poker online colaboraram, dando diversas dicas úteis aprendidas durante os vários torneios dos quais participaram. Não foi um caminho fácil para todos, alguns realmente tiveram que aplicar uma dose extra de esforço. Mas entre mortos e feridos digitais, o trabalho remoto conquistou seu espaço.
Hoje, muitas empresas já avaliam que, ao menos em determinadas funções, manter o funcionário em casa é mais vantajoso. Evita-se o custo, financeiro e de tempo, com deslocamentos até o escritório, diminui-se o consumo de energia elétrica e outros insumos e, nos casos mais extremos, é possível reduzir o espaço corporativo, cortando radicalmente a despesa com aluguéis.
Por outro lado, há funções que exigem trabalho presencial. E, em alguns casos, há uma necessidade de encontro de membros da equipe (como um time de vendas ou uma equipe de manutenção). Isso demanda uma boa coordenação de horários de presença e ausência, algo que vem sendo delegado ao departamento de Recursos Humanos – eles também têm sido levados a desenvolver novas competências.
Pelo lado dos funcionários, abraçar o home office significa poder ficar mais próximo da família, economizar preciosas horas de deslocamento e poder se vestir como ‘Casual Friday’ também de segunda a quinta. A alimentação pode melhorar significativamente, desde que algum membro da casa tenha habilidades culinárias.
Mas nem todo colaborador se adapta. Há diversos casos de pessoas que anseiam pelo tempo no escritório, ainda que ocasional, como uma alternativa para diversificar de ambiente. Outros simplesmente se sentem mais confortáveis em suas baias, mais do que na mesinha da sala de jantar. E alguns são simplesmente saudosistas e gostam de fazer as coisas como sempre fizeram. Provavelmente ainda usam cheques como meio de pagamento e, apesar dessa modalidade ter caído 93% desde 95, ainda existe quem a prefira.
Goste-se ou não, o trabalho remoto parece ser uma realidade que veio para ficar. Ainda que se discuta sua extensão, suas implicações e como ele vai afetar a relação empresa-empregado. Haverá mudanças na legislação trabalhista para regulamentar essa modalidade de trabalho? Os custos extras do empregado com energia, internet etc poderão ser cobrados do empregador? Qual os limites aceitáveis de comunicação por parte empresa, antes de se tornar invasiva à privacidade do empregado?
Ao fim, é extremamente improvável que o trabalho remoto desapareça. Por isso, os dois lados do mercado de trabalho vão se beneficiar na medida em que abraçarem a mudança e descobrirem como podem tirar o melhor proveito dela. Porque o trabalho remoto, por si só, não é nem bom, nem mau. É apenas mais uma transformação do mundo moderno.