Diário da Manhã

sábado, 04 de maio de 2024

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Vernissage da mostra “A alma da casas” é nesta quinta-feira

02 julho
17:15 2014

 Dentro da programação da Semana de Pelotas, que começou na terça-feira (1º de julho) e se estende até o dia 7 de julho, quando Pelotas completa 202 anos, nesta quinta-feira (03/07/2014), às 19h, ocorre a vernissage do ensaio poético “A alma das casas”, de autoria de Beatriz Rodrigues, sobre as casas que foram demolidas no Município. A exposição pode ser visitada até 22 de agosto (de segundas a sextas, das 8h às 18h30), na Galeria Antônio Caringi da Secretaria de Cultura (Secult), no Casarão 2 da Praça Coronel Pedro Osório (casa azul).

A mostra é o resultado de um trabalho de pesquisa iniciado em 2011, na disciplina “Percursos Poéticos”, da especialização em Artes Visuais da UFPel, ministrada pela artista visual e Profª Drª Duda Gonçalves, que atua como curadora desta exposição. O projeto foi um dos selecionados no edital de ocupação das galerias da Secult de 2012.

Além de integrar a programação alusiva ao aniversário de Pelotas, esta exposição também fará parte das comemorações do Dia do Patrimônio.

Abaixo, trechos do trabalho teórico de Beatriz Rodrigues:

 “Após tantas incursões pelas ruínas, era como se estivesse, pela primeira vez, encontrando a alma das casas, morando nos objetos remanescentes da casa-morada-do-afeto; um arrebatamento sensorial, a vertigem do vazio (pleno de sentido) de tantas destruições, impregnadas, ali, na matéria do que restou…”

“A alma das casas” é uma cartografia de passos, imagens e algumas palavras: uma narrativa visual de deslocamentos no interior do barracão de vendas de uma demolidora em atuação na cidade de Pelotas há mais de 30 anos.

“A alma das casas” é o desdobramento de um trabalho de pesquisa iniciado em 2004, sobre as ruínas nas cidades da região sul do Rio Grande do Sul. Desde então a fotografia tem sido o meio de conferir visibilidade a estes lugares que deflagram o conflito temporal passado x presente, na realidade do abandono e do esquecimento. Em “A alma das casas”, porém, o foco não está nas casas em estado de arruinamento, mas nas imagens dos objetos remanescentes das casas que já foram destruídas, e que ainda são vendidos, dotados de um valor mercadológico, expostos no barracão da demolidora.

A experiência na demolidora trata deste arrebatamento sensorial, de perceber o empilhamento das memórias ligadas à matéria “do que restou”. Através das imagens, trabalha-se um ponto em que os objetos sejam compreendidos como uma reminiscência, capaz de trazer a memória da casa como uma metáfora a pensarmos o universo primeiro que constitui a nossa subjetividade – a casa primeira.

Dizia Gaston Bachelard, em A poética do espaço: “A palavra hábito está demasiado desgastada para exprimir essa ligação apaixonada entre o nosso corpo que não esquece e a casa inolvidável”. E para quando a casa não mais existe materialmente, o que seria das lembranças deste local que exprime os mais profundos valores de abrigo? Seria a casa apenas um amontoado de tijolos, paredes desfeitas e uma regra geometrizada, a impor limites? Os espaços de proteção, as casas, lugares dos sonhos primeiros e das lembranças mais recônditas, nunca deixam de existir. Aquilo que resta da casa, aquilo que permanece, enquanto dotado de um valor econômico, passível de circulação, são os restos de intimidades: desde os azulejos cobertos pelo mofo da constante umidade, até sobras de madeira de armários empoeirados pelo tempo. Estes espaços outrora vivenciados, agora desfeitos, habitando um grande galpão, são os restos desta topografia do ser íntimo, formadoras de uma possível imagem da casa-que-foi.

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