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CONTRAFOGOS : Arte de resistência à invasão neoliberal

CONTRAFOGOS :  Arte de resistência à invasão neoliberal
09 maio
15:11 2017

Mostra coletiva internacional “Contrafogos”, abre nesta terça às 19h no Museu da Bibliotheca Pública Pelotense

Por Carlos Cogoy

Na Espanha, desde 2012 a “Lei da Mordaça” afeta a liberdade de expressão. E até sentar na calçada, é manifestação que pode ser coibida. Um dos sintomas da ofensiva neoliberal, que tem atingido direitos democráticos em vários países. A ideia do “Estado” mínimo, precarizando as políticas públicas, sucateando instituições para privatizá-las, bem como extinguindo direitos, chegou com força ao Brasil há um ano. No “governo” Temer, as chamadas reformas tratam de encolher direitos sociais.

ContraFogos exposição ARTEAlém disso, atacam a Previdência, dificultando a chance de aposentadoria. Nesse contexto que aguça a exploração, artistas têm resistido através da criatividade em diferentes linguagens. Em Pelotas nesta terça às 19h, abertura da mostra coletiva internacional “Contrafogos: resistência à invasão neoliberal”. A curadoria reúne a artista visual Priscila Costa Oliveira, egressa da UFPel, e a catalã Mechu Lopez Bravo. Na mostra, criações de brasileiros como Bruna dos Anjos, Andre Winn, Camila Soato, Juliano Ventura, Marie Carangi, Pablo Paniagua, Xose Quiroga, Rogério Marques e “Traplev”. Do exterior, argentina Carolina Chocron, britânica Noah Rose, espanhol Sergi Selvas, catalã Núria Güell, Xose Quiroga e Daniela Ortiz.

Curadora Priscila Costa Oliveira

Curadora Priscila Costa Oliveira

No evento, performance “Os muros do absurdo” com Bruna dos Anjos. Também haverá debate com a professora Renata Requião (UFPel). Através de videoconferência, Rogério Marques abordará sobre “Desvios”. Da Europa, Mechu Lopez Bravo com “A democracia sequestrada e os processos e estratégias de manipulação de poder”. Programação com apoio de Dan Barbier. Ele acrescenta que a exposição será no Museu da Bibliotheca Pública. A produção é da agência CKCO, e a visitação poderá ser feita até 9 de junho.

RESISTÊNCIA – Arte contemporânea questionando a onda conservadora. Priscila conta como surgiu a parceria com a catalã Mechu Lopez Bravo: “Em 2015 fui convidada pela Mechu Lopez Bravo para participar com o projeto ‘Sentar à porta’ na exposição Art Cluster – ‘terrorismo de Estado, a violência institucional e mecanismos de controle’ em Girona na Espanha. Além de mim, do Brasil participaram o Cristiano Araújo e o Rogério Marques.

Eu e a Mechu mantivemos contato e eu queria muito trazer a exposição Art Cluster para o Brasil. No entanto, quando começamos a conversar como viabilizar isso, os acontecimentos nacionais e mundiais acabaram nos levando para outro caminho. Então, nos perguntamos qual a responsabilidade dos intelectuais e artistas nesses acontecimentos? E que táticas e armas podemos criar e utilizar para nos defender, nos contrapor ao neoliberalismo, a ideia de Estado mínimo que mata e adoece os indivíduos e que tem cada vez mais adeptos. Focamos nas resistências a um tipo de política corporativa, de controle e vigilância que vai de ações subjetivas e sutis de manipulação a ações de força bruta. E buscamos artistas que instauram tensões e contradições nesses lugares.

ContraFogos Noah Rose - A Torre InquebrantávelA Mechu trouxe nomes da Espanha, da Argentina e Inglaterra, artistas que ela já tinha contato e que enfrentam há anos as estruturas opressoras naqueles países. Eu busquei nomes brasileiros que pudessem ampliar o debate nas suas diversas camadas, como a mídia, política, educação, movimentos sociais, economia. A cada contato com os artistas a exposição foi sendo construída e se transformando. O nome inicial foi ‘[R] de resistência’. Houve um redirecionamento da discussão e da abordagem, assim como em decorrência disso, preferência por outros artistas. Acho que fomos amadurecendo a ideia de resistência. Comecei a questionar se as instituições de arte, de fato, não eram mera parte de um mecanismo básico da sociedade ocidental, que neutraliza a oposição, pela existência de uma crítica aparentemente radical, contra um sistema em que a arte é com frequência recuperada e transformada em conformação.

Ou, como o filósofo alemão Herbert Marcuse uma vez disse, ‘museus são um playground para artistas’, quase sempre isolados do público. A instituição serve simplesmente para pacificar tendências rebeldes na sociedade, que têm sido canalizadas para a arte como a única esfera legitimada de articulação crítica, na interpretação de Jens Hoffmann. Então, a Mechu sugeriu a leitura do Livro ‘ContraFogos – táticas para enfrentar a invasão neoliberal’ do Pierre Bourdieu de 1998. Enviamos o livro para nossa equipe e artistas. Daí decidimos mudar o nome da exposição para ‘ContraFogos’, pois a dimensão simbólica é extremamente importante. E como diz Bourdieu: ‘Lidamos com adversários que se armam com teorias e. trata-se, ao que me parece, de enfrentá-los com armas intelectuais e culturais’”.

 

 

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