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HIP HOP : “Afro-X” brinda a vida entre becos e vielas

20 junho
08:55 2017

Ex-detento no então “Carandiru”, ex-companheiro da cantora Simony, o rapper “Afro-X” tem se dedicado ao Rap e projeto “Movimente”

Por Carlos Cogoy

Sou a rua sou favela, sou a paz sou a guerra, entre becos e vielas, a fé é que nos leva, Rap é nossa cara. Versos de “Carta Magna”, composição do paulista Cristian de Souza Augusto, conhecido no Hip Hop nacional como “Afro-X”. No fim de semana, ele esteve reencontrando amigos em Pelotas e Rio Grande. O contato possibilitou a troca de ideias em relação ao movimento Hip Hop, bem como a possibilidade de shows na região ainda neste ano. Em Pelotas, “Afro-X” esteve apresentando show em 2003. À época, ainda integrava o antológico “509-E”, numa parceria com o rapper Dexter. Desde então, esteve ausente da Zona Sul. Mas os contatos não cessaram e, em 2009, quando lançou sua autobiografia, chegou a ser cogitada sessão de autógrafos em Pelotas. Sobre as perspectivas, ele responde com versos de “Carta Magna”: “O meu plano é agitar o cenário Rap/ Essa turnê pelo Brasil vai ser “the best”/ Qualquer barraco de madeira, o som é o Rap/ Nas cidades prevalece/ O Hip Hop é referência pro pivete.

Paulista Cristian de Souza Augusto esteve em Pelotas após quinze anos

Paulista Cristian de Souza Augusto esteve em Pelotas após quinze anos

BRINDE À VIDA – Natural de São Bernardo do Campo, Cristian conta que o primeiro grupo de Rap foi o “Suburbanos” em 1990. Posteriormente, envolvido em assalto, foi condenado a quase quinze anos de prisão. Ele conviveu com o então “Carandiru”, e conheceu o médico Draúzio Varella, autor de livro, sobre o centro de detenção, que seria adaptado ao cinema. No sistema fechado, foram 7,5 anos. Outros sete na condicional. Na prisão, prosseguiu dedicado ao Rap. Ele comenta sobre a violência e segurança pública: “Quem criou o monstro foi o próprio sistema. O crime cresceu pela ineficiência do Estado, e as estatísticas vão aumentando. Então, observo que o objetivo não é resolver, mas lançar paliativos, que implicam em grandes recursos financeiros, e mais slogans políticos. Os presos são bodes expiatórios”.

MOVIMENTE – Em fase recente, Afro-X dedicou-se ao projeto social “Movimente” que, através de atividades socioculturais, mensalmente atendia quinhentos jovens. O projeto gerou a gravação de três coletâneas, com textos e versos dos jovens que participaram. Também está disponível “online”, o documentário “O Regenerado”, que conta com a participação de Mano Brown do Racionais MCs. O projeto contou com apoio da Petrobras.

RAP é poética cuja essência crítica está além do senso comum, que caracteriza a mentalidade de boa parcela da população brasileira. Afirmação de “Afro-X”, que observa: “O próprio povo não está enxergando, está sem reação. Então, o País é diferente do que se sonhava. Temos índices elevados de alcoolismo, o nível de ensino é muito baixo, e somente o Rap não irá fazer revolução. Há uma geração que não está tão preocupada, pois o povo é massificado”. Nesse contexto, “Afro-X” está gravando com elementos da música eletrônica, e parceiros como Felp do Cacife Clandestino, MC Sapão, Badauí do CPM22 e Negro Branco do Exalta samba. No “Spotify”, já pode ser ouvido o single “Favela eu sou”. No Rio de Janeiro e Florianópolis, “Afro-X” estará terminando de gravar o clipe de “Um brinde à vida”. Na trajetória solo, ele lançou os discos “Das ruas pro mundo”, e “Soul livre”.

CONEXÃO Pelotas no fim de semana. Afro-X reencontrou amigos no sábado à noite. Entre os parceiros, alguns dos pioneiros do Hip Hop pelotense. Na foto: Nego Maisson; grafiteiro, tatuador e DJ Beethoven Mendonça; Rodrigo; anfitrião Fábio “Fuga” Soares; Valdir “Manoval” Robe; Afro-X; Jair “Brown”.

O contato proporcionou a perspectiva de projetos na região. Afinal, Afro-X tem desenvolvido iniciativas sociais com crianças e jovens da periferia. Outra possibilidade é de shows, especialmente em Rio Grande e Pelotas, para divulgar as novas composições e a sonoridade da nova fase do rapper, que tem feito parcerias com artistas de outro ritmos.

Afro X no 509 ELIVRO “Ex-157 – a história que a mídia desconhece” (Foto), autoria de Afro-X, foi lançado em 2009. A numeração 157, tanto se refere ao artigo que identifica o crime de roubo, quanto também a identificação de Afro-X no sistema prisional. Ele foi o preso de número 157.858. A autobiografia tem apresentação do jornalista gaúcho Caco Barcellos. Afro-X começou a escrever o livro ainda na prisão, dedicando-se até doze horas para a conclusão da obra. Ao sair do sistema prisional, no entanto, teve fase de bloqueio. No entanto, retomou o ritmo e lançou a autobiografia.

AFRO-X integrou o grupo 509-E, cuja designação é alusiva à cela que ocupou no Centro de Detenção do Carandiru. No grupo também o rapper Dexter, que cumpria pena de prisão. O 509-E durou de 2000 a 2003, e lançou os discos “Provérbios 13” em 2000, e MMII DC (2002 Depois de Cristo). Em 2000, o grupo venceu o prêmio revelação do Hutuz. O “Provérbios 13” (Foto) vendeu cerca de noventa mil cópias. Ao final dos anos noventa, quando se reuniram, eles chegaram a se identificar como “Linha de frente”.

Afro-X galera Pelotas by Cogoy

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