Diário da Manhã

Há 20 anos, Pelotas foi pioneira ao instituir feriado homenageando Zumbi dos Palmares

Por Carlos Cogoy

Senador Paulo Paim (PT/RS)

Feriado nacional no dia 20 de novembro. O projeto, autoria do senador Randolfe Rodrigues (Rede/AP), tramita desde 2017. Mas, há uma semana, com relatoria do senador gaúcho Paulo Paim (PT/RS), foi aprovado na Comissão de Educação, Cultura e Esporte do Senado. Se não houver recurso para votação pelo plenário do Senado, o feriado do Dia Nacional de Zumbi e da Consciência Negra, pode ir direto para a Câmara dos Deputados. Atualmente, a data é comemorada em apenas cinco Estados. Em Pelotas, no entanto, há vinte anos foi instituído como feriado municipal. A iniciativa do então vereador Luis Carlos Mattozo, esteve em vigor em 2001 e 2002. O feriado foi derrubado numa ação da Federação do Comércio de Bens e de Serviços do Estado do Rio Grande do Sul (Fecomércio/RS), alegando prejuízo à economia. Curiosamente, o dia 20 de setembro, que celebra a “fantasia gauchesca”, jamais causou preocupação às finanças dos comerciantes. Lideranças da comunidade negra, avaliam sobre o feriado a 20 de novembro.

Rosana

ESCRITORA Rosana Soares observa: “Assim que soube dessa conquista, lembrei do ano de 2003. Quando comemorávamos essa vitória, com uma feira no Largo do Mercado, onde participei com meus cordéis. Logo que soubemos que não haveria feriado, fiquei apreensiva com possíveis represálias. Mas alguns, como nós, continuaram, e outros seguiram suas atividades normalmente. Acredito que hoje, estamos bem mais fortalecidos. Somos negros querendo realmente ser negros, tanto na maneira de vestir, como nas falas, bem mais embasadas com o comprometimento. Hoje recebo respostas, sem aquela mágoa, sem aquela dor do escravizado ‘ainda’. E tenho um real interesse em conhecer minha cultura, muito por conta das redes sociais. Estas que, às vezes, nos desinformam, mas, também nos esclarecem bastante. Basta procurar sites confiáveis. Ao longo desses dezoito anos, conheci pessoas realmente engajadas. Elas não só se preocupam em conhecer artistas negros, em todas as áreas culturais, como também passar esse conhecimento, nomes dos livros e autores negros. Sem pressão. Hoje acredito que muitos afrodescendentes, como eu, não se sentem na obrigação de aprender sobre a nossa cultura, pura e simplesmente por serem negros, mas para sentir orgulho daqueles que abriram caminhos para estarmos aqui, dando continuidade a essas falas e representatividade”.

Luis Carlos Mattozo

CONSCIENTIZAÇÃO – O pelotense Hamilton Lara, ex-secretário executivo do Conselho Estadual de Participação e Desenvolvimento da Comunidade Negra (Codene), e atual secretário do Centro de Referência Humanista Malcolm X – seção RS -, menciona: “Transformar essa data em feriado nacional, vai fortalecer e valorizar a luta do povo preto. Assim, proporcionando uma maior sustentação no processo de conscientização dos anseios desse povo. Após a farsa da abolição da escravatura, nunca houve ações e atitudes de integração do povo negro à sociedade. Nossos antepassados continuaram perambulando pelas ruas na maior pobreza. E somos até hoje, a maior massa de pobres deste país. A criação dessa data, consolidada em feriado nacional, será um importante marco para os negros de olhos abertos, acordarem!”.

ATO POLÍTICO – A pesquisadora, professora e escritora, Marielda Barcellos Medeiros, reflete: “Pensar na data de 20 de novembro é importante e necessária, pois é uma data que representa a população negra e, possui um significado de concretização da busca pela emancipação de negros e negras na sociedade brasileira. Também é importante por ter se transformado num ato político, de afirmação da nossa história, do povo negro, que tem demonstrado capacidade de organização e mobilização, buscando alternativas que nos permitam viver numa sociedade verdadeiramente de direitos para todas/os, firmando-se como símbolo vivo da luta contra todas as formas de opressão e discriminação racial. A data de 20 de novembro é significativa porque apresenta e representa, espaço de reflexões sobre o combate ao racismo, e um conjunto de ações afirmativas institucionais, sobretudo, nos espaços educativos com ações formativas que visam colocar e reafirmar a imensa contribuição de um povo que contribui e, continua contribuindo com a produção e acúmulo de riqueza no nosso País. Finalizo com palavras do rapper Gog em Fogo no Pavio: “Povo nas ruas é dinamite, campo minado, exigindo 20 de novembro feriado! Zumbi, o herói dos libertários, guerreiro daqui!”.