Diário da Manhã

sábado, 23 de novembro de 2024

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LIVRO : Na batida do tambor Sopapo o ritmo da luta por dignidade

24 fevereiro
09:14 2021

A cultura e história do tambor afro-pelotense Sopapo é tema de livro

Por Carlos Cogoy

Griô Mestre Batista (1936/2012)

Pelotas é a cidade do Tambor de Sopapo, conforme o decreto nº 6.130, assinado pela prefeita Paula Mascarenhas em 2018. Até o reconhecimento, no entanto, houve importantes ações que contribuíram para o resgate do instrumento de percussão. Pesquisadores indicam, embora ainda persista imprecisão, que o tambor de grandes dimensões, era confeccionado e utilizado por trabalhadores negros escravizados na região de Pelotas. Ao fim do século 20, devido à influência do Carnaval carioca, o Sopapo foi sendo substituído pela percussão dos “surdos”. Quase extinto na década de noventa, o “Sopapo” resistia devido ao carnavalesco Neives Batista – reconhecido como Griô pelo Ministério da Cultura em 2007. O saber do mestre Batista, como era conhecido, foi compartilhado com o filho José, e valorizado pelo compositor e músico pelotense Giba Giba – falecido em 2014. Nas edições do Cabobu – designação que reúne as iniciais dos carnavalescos Cacaio, Boto e Bucha -, em 2000 e 2001, projeto idealizado por Giba Giba, o mestre Batista foi convidado a criar quarenta “Sopapos”.

Pelotense Giba Giba (1940/2014)

Os tambores seguiram para diferentes regiões do País, e chegaram ao exterior. Em Porto Alegre, motivaram o coletivo de comunicação “Catarse” a desenvolver projetos de valorização e divulgação do Sopapo. Neste ano, em abril, mais um importante reconhecimento. José Batista estará lançando o livro “O Sopapo contemporâneo: um elo com a ancestralidade”.

OBRA – O autor José Batista acalentava a possibilidade de um registro sobre a história e cultura do Sopapo. Ano passado, ele foi estimulado pela produtora Sandra Narciso – trabalhou com Giba Giba durante quinze anos -, e o projeto de livro sobre o tambor, foi selecionado e aprovado em edital de Produções Culturais e Artísticas da Secretaria da Cultura do RS. Conforme ela divulga, o livro atualmente está em fase de revisão e finalização da capa. José escreveu trinta capítulos, e a obra será ilustrada. Além do autor, também constam textos de oito colaboradores. A tiragem de dois mil exemplares, acrescenta Sandra (MS2 Produtora), será distribuída a bibliotecas de escolas públicas, universidades, comunidades quilombolas, indígenas, pontos de cultura, associações e museus. A produtora observa que há possibilidade de edição eletrônica do volume. “Este Livro é realmente um lugar de fala de um negro”, afirma.

Autor José Batista aprendeu com o pai a confeccionar o instrumento

ANCESTRALIDADE – O autor menciona: “A abordagem vai desde a ligação com a ancestralidade, os caminhos dos africanos até o Brasil, a vida dos escravos nas charqueadas pelotenses, a vida dos negros após a escravidão, a cidadania cultural do negro, e os registros da existência do Sopapo ao longo das décadas. Também o caminho secular, como símbolo sagrado das culturas vindas da África, o Sopapo profano do Carnaval pelotense. Além disso, as técnicas de criação e construção do instrumento no Projeto CaBobu, e na contemporaneidade, bem como a colonização africana, entre outros temas que expandem o entendimento da cultura e cidadania negra no Rio Grande do Sul, formatando a construção de uma consciência coletiva, dentro do que se entende por formação cultural negra em Pelotas, no Estado, no Brasil e no mundo”.

CONTEMPORÂNEO – E José ressalta: “O livro traz vários enfoques, calcados principalmente no racismo, sendo que, dentro da abordagem sobre a formação do negro como um ser liberto da escravidão, não só reforça, mas, define a cultura negra, como fonte de cidadania dos negros”.

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