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sábado, 23 de novembro de 2024

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Combate aos maus-tratos de animais ganha força na cidade

Combate aos maus-tratos de animais ganha força na cidade
22 abril
08:39 2021

No dia 28 de outubro de 2020, o cãozinho Átila chegou no Canil Municipal para receber os cuidados da veterinária responsável pelo local, Cristiane Berçot, após ser apreendido pela Fiscalização da Secretaria de Qualidade Ambiental (SQA). Sem conseguir ficar em pé e pesando cerca de 10 quilos, o animal, faminto, apresentava grave desnutrição e anemia, além de estar com o corpo coberto de carrapatos e pulgas. A situação crítica era decorrente da negligência: ele vivia acorrentado, em um pequeno espaço, exposto ao sol, chuva, frio e calor, sem alimento e água. No pior cenário possível. O tutor alegava que ele era agressivo demais, então o acesso e a aproximação não eram viáveis.

No entanto, assim que chegou ao Canil, Átila não demonstrou agressividade. Mas, sim, uma ânsia por carinho e gratidão às pessoas que estavam tão preocupadas com ele. Em um primeiro momento, após o acolhimento, foram prestados os primeiros-socorros e ele foi direto tomar um banho quente, pois seu corpo estava gelado e molhado, e os ectoparasitas – pulgas e carrapatos – foram retirados manualmente. De acordo com Cristiane, ele apresentava várias lesões na pele e, pelo cheiro, provavelmente estava deitado em uma área em que a água que o molhava era oriunda de esgoto.

Brignol destaca a importância de que as denúncias cheguem da forma mais completa possível, para que a fiscalização seja feita de maneira efetiva.

Ele foi vestido e aquecido, pois a sua temperatura corporal era muito baixa. Já a comida e a água foram dadas aos poucos, devido ao fato de estar há muito tempo sem acesso a esses nutrientes. Átila estava, finalmente, alimentado, quentinho e confortável. No dia seguinte, ele foi encaminhado ao Hospital de Clínicas Veterinárias (HCV) da Universidade Federal de Pelotas (UFPel) para receber transfusão sanguínea, a fim de corrigir a anemia e desidratação. Lá, ficou internado até o dia 29 de janeiro de 2021.

À espera da adoção

Hoje, Átila está pesando 19 quilos e é um animal lindo, alegre, ativo, sociável, que se dá bem com todo mundo e brinca com humanos e outros cachorros. Após tanto sofrer com os maus-tratos, ele está feliz, sendo tratado com responsabilidade e zelo, algo que deveria ter sido feito durante a vida toda.

Ele está no Canil Municipal, aguardando por adoção. “É de doer o coração ver que uma pessoa é capaz de deixar um animal chegar nesse ponto. Não tem o que justifique deixá-lo acorrentado, sem conseguir se mexer”, lamentou Cristiane.

Como é a apreensão?

O processo de apreensão por maus-tratos acontece a partir de denúncias, que chegam pela Ouvidoria do Município ou presencialmente, na Secretaria de Qualidade Ambiental. O chefe de Fiscalização, Everton Brignol, explica que os fiscais, então, se deslocam até a residência dos denunciados para constatar a situação e, se configurado crime, aplicar a infração ambiental, que atualmente é de R$ 500,00 por animal. O bichinho é apreendido no mesmo momento da multa e levado ao HCV para receber o atendimento veterinário e passar pelo tratamento necessário. Após os procedimentos, é encaminhado ao Canil, onde entra no processo de adoção responsável.

O caso de Átila foi uma exceção. No dia da apreensão, não foi possível realizar o deslocamento até o Hospital. Optou-se, então, por prestar os primeiros-socorros no Canil, devido ao estado crítico no qual ele se encontrava. Essa decisão foi tomada em consenso com a SQA. “Se ficasse mais uma noite naquela situação, ele talvez não resistisse. Não podíamos deixá-lo mais um minuto naquelas condições”, justificou a veterinária Cristiane, demonstrando a urgência por parte das equipes em cuidar dos animais. Na primeira hora do dia seguinte, ele foi encaminhado ao HCV.

Saiba como denunciar

Brignol destaca a importância de que as denúncias cheguem da forma mais completa possível, para que a fiscalização seja feita de maneira efetiva. “Quanto mais subsídios nós tivermos, maior é o êxito”, afirmou. A denúncia deve ser pelo telefone 156 (Ouvidoria) ou de maneira presencial no prédio da Secretaria de Qualidade Ambiental, localizado na avenida Domingos de Almeida, 1.490.

Na acusação, devem constar:

Tipo de animal e cor da pelagem.

Tipo de maus-tratos praticado pelo tutor (se o animal é privado de alimento e água, se não tem abrigo, se fica amarrado com corrente e impossibilitado de movimento, se ele é agredido pelo tutor, entre outros).

  • Quantidade de animais.
  • Endereço completo, com número, rua e ponto de referência.
  • Horário em que é possível encontrar o tutor do animal.

Ao longo de 2020, foram feitas 271 denúncias e quatro autos de infração foram aplicados. Nos quatro meses iniciais de 2021, já foram registradas 132 denúncias e uma multa.

Visita ao Canil

Recentemente, o gestor responsável pela pasta de Qualidade Ambiental, Eduardo Schaefer, e demais membros da secretaria, visitaram o Canil Municipal. A ida se desdobrou em três aspectos importantes: o primeiro foi avaliar a quantidade de vagas disponíveis para atendimento dos casos de maus-tratos e apreensão de animais. Já o segundo é relacionado à proposta de maior integração entre as secretarias de Saúde e Qualidade Ambiental, já que ambas são responsáveis por tratar da causa animal na cidade.

Por fim, a visita também serviu para tratar sobre o projeto de reforma e ampliação do local, determinado pela prefeita Paula Mascarenhas. Nesse dia, uma equipe técnica colheu informações para elaborar o projeto de ampliação.

Boa vontade da população

Atualmente, 44 cachorros estão abrigados no local, que é gerenciado pela Prefeitura através da Vigilância Ambiental da SMS. Tendo em vista esse cenário, cabe ao Poder Público incentivar a política de adoção e, à sociedade, comprar essa ideia. Apesar do carinho com que os animais são tratados no Canil, é essencial que se consiga dar vazão, após o recolhimento e tratamento.

A situação no Gatil

O Gatil Municipal, que funciona em conjunto com o Canil, está com cinco felinos abrigados e em fase de tratamento. A chefe da Vigilância Ambiental da SMS, Isabel Madrid, esclarece que esses animais foram recolhidos pelo Centro de Controle de Zoonoses da UFPel (CCZ-UFPel), ou seja, nenhum está no local devido aos maus-tratos.

O gatinho Amadeu, que se encontra em um estágio mais avançado do tratamento, em breve estará disponível para adoção, e uma campanha será feita para ele. Isabel adianta que, quem está pensando em adotar, precisa ter em mente que a adoção é um ato que requer muita responsabilidade. É necessário pensar bem e avaliar as condições financeiras e familiares.

“Os animais não vivem só de amor, água ou comida. Eles precisam de cuidados sanitários, incluindo os preventivos, como vacinas, controle de endo e ectoparasitas, e castrações. Eles também podem adoecer e necessitar de tratamentos, cirurgias e internações”, lembra Isabel Madrid.

Ainda, na visão dela, a população está mais sensível e atenta a situações de possíveis maus-tratos aos animais. Ela salienta a importância de recorrer aos órgãos competentes: à Secretaria de Qualidade Ambiental, na esfera administrativa, e à Patrulha Ambiental da Brigada Militar (Patram), na esfera criminal.

A solicitação para atendimento de gatos de rua doentes pode ser feita pelo telefone 3284-7731 (CCZ), de segunda a sexta-feira, das 8h às 12h e das 13h30min às 17h30min. O recolhimento ocorre somente mediante confirmação da doença zoonótica com índice alto de transmissão (que pode exigir exame laboratorial), após vistoria técnica.

Informações sobre o local

Endereço: BR-392, km 71, ao lado da Hospedaria de Grandes Animais, perto do viaduto de acesso a Canguçu.

Telefone: (53) 3271-0006.

As visitas aos animais podem ser feitas de segunda a sexta-feira, das 9h às 16h30min, e aos sábados, domingos e feriados, das 9h30min às 16h.

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