Literatura, mandalas e artes visuais na expressão criativa de Maria Poeta
A pelotense Maria Inez Rivas dialoga e questiona, através de diferentes manifestações artísticas
Por Carlos Cogoy
Egressa da formação em letras, e especialização em linguística, a pelotense Maria Inez Rivas, ao invés do rigor da pesquisa na área, descobriu-se autora literária. Atenta à interioridade, bem como a fontes de inspiração, como a praia do Laranjal, artisticamente passou a identificar-se como “Maria Poeta”. Alguns dos versos, reflexões e aforismos, foram reunidos no primeiro livro “No Miolo do Girassol”, lançado há oito anos. Nas redes sociais, ela regularmente segue publicando sua criação poética. Em fase recente, aproveitando fios e tecidos, passou a criar mandalas. Ela explica que as criações “não seguem nenhum padrão, nem simetria, e eu gosto que seja dessa forma, não há contagem de pontos, nem regras, cada peça é única e especial”. Já no período da pandemia, tendo como base algumas folhas de papelão, ela recorreu a diferentes técnicas para as pinturas que estão na mostra “Eu e todas que me habitam”. Os trabalhos podem ser visitados, até o fim de março, das 14h às 20h na Arteria Espaço Arte – rua Major Cícero 406. As pinturas estão sendo comercializadas. Contato com a artista via WhastApp: (53) 9 8464.4039.
LITERATURA – O livro “No Miolo do Girassol”, diz a autora, foi elaborado artesanalmente e teve duzentas cópias. A capa em papelão, foi costurada, abrindo-se em forma de flor. A experiência possibilitou uma oficina sobre o reaproveitamento do papelão. No ano seguinte, através do Programa de Incentivo à Cultura (PROCULTURA), ela criou o projeto “Poesia no Ponto”, reunindo literatura e artesanato. Sobre a vertente poética, a escritora menciona: “Comecei a publicar como Maria Poeta, pequenos textos poéticos, crônicas, haicai, poesias e algumas narrativas. A partir dessa divulgação, surgiram oportunidades importantes, e passei a me sentir incluída no cenário cultural da cidade. Em parceria com alguns instrumentistas, criei algumas letras. Meus poemas foram apresentados na Bibliotheca Pública, e representei a cidade em eventos em Arroio Grande, Herval e Jaguarão. Também levei minha arte ao Piquenique Cultural, Oncocentro, Mercosul. Além disso, integrei a coletânea ‘Intimidades en Voces Amigas’, publicada na Venezuela”.
MANDALAS – Identificando-se como “mandaleira”, Maria Poeta acrescenta: “As mandalas são instrumentos de meditação, um meio de comunicação entre o mundo externo e o interno. Na psicanálise, podem representar um desejo inconsciente de organização e, portanto, de cura. Também são instrumentos de cura para índios e monges. Já, como objetos de decoração, elas têm efeito reenergizante no ambiente onde estão expostas. E mandala significa ‘círculo’, simbolizando uma poderosa ferramenta terapêutica para atrair abundância, amenizar conflitos, resgatar a criatividade e a inteligência emocional, bem como alinhar a conexão do ser com a própria consciência. As minhas são confeccionadas com fio de malha num círculo de 60cm, em diversas cores. Algumas estão expostas na Arteria. Além disso, comercializo pelas redes sociais”.
PINTURAS – Maria Poeta divulga sobre a mostra individual: “A exposição “Eu e todas que me habitam”, começou a tomar forma em 2020, no início da pandemia. Nesse período, com medo, insegurança e isolamento, algumas questões vieram à tona. Por exemplo, ‘Qual meu papel no mundo? Como posso atuar nesse contexto tão brutal em que estamos vivendo? Qual a importância da arte?’. Acabei não encontrando respostas exatas e precisas, porém, me dei conta que, numa sociedade doente, precisamos estar sãos e lúcidos, e a arte, por escolha, é minha cura e precisava trabalhar nisso. Como não me encaixo em nenhum segmento profissional definido, pois não sou apenas uma escritora, nem pintora, nem artesã, nem professora, sou tudo isso, e o que mais me dê prazer de fazer, minha identidade é múltipla e fluídica, além de questionadora. Então, resolvi criar, experimentar texturas, escrever, tecer e principalmente me conhecer. Para as pinturas, escolhi papelão de 1,20mx1m, tintas variadas, guache, nanquim, óleo, além de tecido e barbante, e comecei a me reconhecer em diversos corpos, ou esboços humanos, seres sem rostos definidos, com a pele negra, e apresentados em diversas posições e situações. Essas pinturas passaram a conviver comigo, e mostrar caminhos de superação, autoestima e força. Daí o nome ‘Eu e todas que me habitam’, pois sei que as pinturas fazem parte da minha história, e continuarão me habitando”. Maria Poeta também já expôs na Fenadoce e Feira do Livro.