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sábado, 23 de novembro de 2024

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O TREM PARTIU : Pelotenses se despedem do maior torcedor no Rio Grande do Sul

O TREM PARTIU : Pelotenses se despedem do maior torcedor no Rio Grande do Sul
31 março
08:45 2022

Por: Henrique König

“Meu Farroupilha, meu Farroupilha, meu time do coração” – o cântico que a maioria das vezes era entoado em uma única voz, a de Guilherme Dias, pelo estado inteiro conhecido como Trem. Torcedor apaixonado pelo Grêmio Atlético Farroupilha, ele partiu na noite de ontem, terça-feira (29), aos 80 anos. O velório ocorreu na tarde de quarta-feira no estádio Nicolau Fico, no bairro Fragata.

Nascido na cidade de Rio Grande, Trem foi um pelotense de coração. Ganhou o apelido ainda na infância, no Belém, um clube amador em Pelotas, pois era veloz, destemido, imparável. Na companhia do pai, começou a acompanhar o Farroupilha ainda pelo rádio e logo se apaixonou pelo clube, um amor que atravessou décadas e as mais diversas adversidades.

Nascido na cidade de Rio Grande, Trem foi um pelotense de coração.

Quem torce por um clube do interior sabe as dificuldades de tentar equilibrar contas, de formar times, de manter as portas abertas. Ano após ano, o Farroupilha se afastou da elite estadual, lugar que foi seu por 23 temporadas, a última delas em 2006. Mas o Trem nunca deixou de frequentar o estádio Nicolau Fico. De vez em quando aparecia nos treinos; sempre, sempre, sempre chegava para os jogos. Para ocorrer uma partida de futebol, se aguarda a chegada dos dois times, do trio de arbitragem, do policiamento e da ambulância. No Farroupilha, os olhares estavam sempre atentos para a vinda daquele torcedor especial, que nos últimos anos trajava uma camisa verde, revestida, quando necessário, por um agasalho vermelho, mesma cor da calça, na formação de seu conjunto tricolor.

Muitas vezes nos deparamos com a chegada do Trem, a passos esforçados com a ajuda da muleta, que, após a subida aos degraus da arquibancada, era devidamente substituída em sua mão pela bandeira em verde, amarelo e vermelho. Trem tinha uma atenção especial com os goleiros, sempre incentivando os meninos que calçavam luvas e embarravam uniformes, onde a grama teimosamente não cresce.

 

“Farroupilha perde o torcedor-símbolo, fanático pelo clube. Só quem passou por lá sabe o quanto ele era amigo dos jogadores. A cada Páscoa ou a cada gol que algum marcava, ele nos dava chocolates”, relembrou o técnico do Farroupilha sub-20, Fuca, que por muitos anos foi zagueiro no Nicolau Fico.

Jornalista e produtora cultural, ex-assessora do Tricolor, Ediane Oliveira reconheceu que “o Trem deixou seu legado”.

Diversas foram as reações e comoções: “o maior e mais fiel torcedor que um estádio já viu”, declarou João Tiago Soares. “Um grande exemplo de torcedor, amor e dedicação incondicionais”, comentou Marcelo Lamas.

“Sem dúvidas o maior torcedor e apoiador do Farroupilha”, atleta Wendell Machado. “Os dias de Nicolau Fico jamais serão os mesmos”, Bruno Passos. “O futebol perde um dos seus últimos torcedores de verdade”, Guto Franco.

Trem foi exemplo de um amor sem barreiras, de persistência, de educação, de gentileza, de espírito esportivo para com todos. Será para sempre reconhecido pelos tricolores e pelos adversários. Resistência, vez e voz no interior gaúcho. Um Trem que muitas vezes compareceu sozinho por seu amor sublime ao Farroupilha, hoje deixa cada um de nós um pouco mais solitários. O verde, o amarelo e o vermelho revestem o futebol em luto.

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