Projeto da UFPel para enfrentamento e controle da obesidade continua ações
Finalizado no ano passado, um projeto de enfrentamento e controle da obesidade, liderado pela Universidade Federal de Pelotas (UFPel) em parceria com outras instituições de ensino, segue rendendo frutos. O trabalho, que fomentou qualificações de equipes de saúde da região, produções de pesquisas acadêmicas, levantamento de dados, materiais impressos e virtuais, dentre outras ações, expandiu a parceria com a 3ª Coordenadoria Regional de Saúde (CRS).
A obesidade é um fator de risco e é uma doença. Está relacionada com hipertensão arterial, diabetes, dislipidemia, doenças cardiovasculares e do sistema locomotor, doenças respiratórias, autoestima, problemas no sono, aspectos psiquiátricos e emocionais, e alguns tipos de câncer. Para trabalhar o tema, o projeto intitulado “Conhecimento sobre alimentação saudável e adequação às recomendações alimentares e nutricionais brasileiras: indissociabilidade entre a pesquisa epidemiológica, ensino e extensão na atenção nutricional no âmbito do SUS” – mais conhecido como Ecosus –, envolveu 57 municípios, nas 3ª, 6ª e 15ª CRSs. O projeto teve participação de alunos e alunas de graduação e pós-graduação da UFPel, Universidade Federal de Santa Maria e Universidade de Passo Fundo.
Na região de Pelotas, durante o desenvolvimento do trabalho, foram feitos encontros com gestores e técnicos da área da saúde para trocar ideias, debater o assunto e trazer experiências e realidades de cada local. Temas como disponibilidade de recursos humanos e equipamentos que possibilitem atuar na questão do sobrepeso e o conhecimento dos profissionais sobre o Guia Alimentar para a População Brasileira foram abordados. Os municípios também estabeleceram metas para cumprir ao longo do percurso.
O projeto trouxe diversos resultados positivos, em variadas frentes. Duas pesquisas de campo foram feitas a respeito do conhecimento sobre alimentação saudável – que ainda é incipiente para a população -, e também foram elaborados materiais informativos sobre a temática para divulgação nas Unidades Básicas de Saúde (UBSs) e estágio com alunos, tratando de pratos saudáveis e acompanhamento de crianças com excesso de peso.
Foram criados também o aplicativo Ecosus, para divulgar todas as etapas da pesquisa, materiais educativos e produção científica, a fim de facilitar o acesso a todos os interessados no tema, e um perfil no Instagram, concentrando as informações e novidades do projeto. A animação “Obesidade no SUS” (2021), feito em parceria com o professor André Macedo, é outra das iniciativas do Ecosus. O filme conta a história de Dona Maria, que busca a equipe da unidade básica do SUS para o tratamento de sua obesidade.
Também por meio do projeto está sendo elaborado o Atlas da Obesidade no Rio Grande do Sul. O documento irá apontar a prevalência da obesidade nos municípios gaúchos e está em processo na editora da UFPel. Dois e-books também estão em diferentes estágios de elaboração.
Expansão
Mesmo depois do tempo previsto para realização do projeto, uma série de ações continua sendo feita. Reuniões on-line com os municípios, com a participação da UFPel e dos Conselhos das Secretarias Municipais de Saúde do Rio Grande do Sul (Cosems) seguem sendo realizadas uma vez ao mês para discutir como conduzir a Política de Alimentação e Nutrição. As trocas de relatos entre as localidades ajudam a identificar situações como, por exemplo, insegurança alimentar, agravada pela pandemia.
Dez dos 21 municípios abrangidos pela 3ª CRS já passaram por treinamentos de vigilância alimentar e nutricional. A qualificação teve a participação de mais de 200 servidores. A ação ocorreu em Herval, Pedro Osório, Santana da Boa Vista, Santa Vitória do Palmar, Turuçu, Pinheiro Machado, Arroio do Padre, São José do Norte, Pedras Altas e Amaral Ferrador. Outros deverão participar da qualificação no próximo ano.
Conforme a professora Gicele Costa Mintem, uma das colaboradoras do projeto, a vivência em outros municípios, muitos deles de pequeno porte, traz aos estudantes a prática das diferentes realidades e dificuldades do dia a dia. De acordo com a nutricionista coordenadora da Política de Alimentação e Nutrição da 3ª CRS, Renata Maciel, os municípios menores precisam de mais atenção, visto que nem todos possuem nutricionista em seu quadro de profissionais e necessitam de um suporte maior para qualificação de equipes que possibilite o desenvolvimento da Política.
Os treinamentos orientam os profissionais na coleta de dados no atendimento – que posteriormente viram informação para melhorar o serviço. Se não há nutricionista na equipe, muitas vezes dados de peso, estatura e consumo alimentar do paciente não são questionados. Além disso, as técnicas corretas de antropometria, para garantir informações precisas, também fazem parte da qualificação. Com a participação de estudantes do curso de Nutrição da UFPel, foi elaborado um Manual de Técnicas Antropométricas para os trabalhadores em saúde. Ao oportunizar o registro desses elementos no prontuário eletrônico, os municípios conseguem avaliar situações de déficit ou sobrepeso em sua população, por exemplo. “O município vai poder se ver e pensar em políticas públicas de acordo, com ações específicas para quem mais precisa”, pontuou a professora Gicele.
De acordo com elas, a proposta é dar continuidade a esse trabalho, ampliando a parceria. Segundo Renata, é preciso investir em treinamento das equipes e sensibilização dos gestores. Futuramente, o foco poderá ser estendido para a utilização do Guia Alimentar pelos profissionais de forma transdisciplinar, levando à população orientações sobre escolhas saudáveis.
A docente e a gestora destacam que o projeto é um importante trabalho de integração entre ensino e serviço. “Essa aproximação da Coordenadoria Regional com a Universidade é importante para os municípios. A intenção toda é melhorar a qualidade de vida das pessoas”, disse Renata.
Controle da obesidade
As doenças cardiovasculares são a principal causa de morte no mundo, trazendo também impacto nos serviços de saúde e ampliando os gastos no Sistema Único de Saúde.Segundo a Pesquisa Nacional de Saúde 2019, desenvolvida pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), a proporção de obesos na população com 20 anos ou mais de idade mais que dobrou no país entre 2003 e 2019, passando de 12,2% para 26,8%. Nesse período, a obesidade feminina subiu de 14,5% para 30,2%, enquanto a obesidade masculina passou de 9,6% para 22,8%.
Em 2019, uma em cada quatro pessoas de 18 anos ou mais no Brasil estava obesa, o equivalente a 41 milhões de pessoas. Já o excesso de peso atingia 60,3% da população de 18 anos ou mais, o que corresponde a 96 milhões de pessoas, sendo 62,6% das mulheres e 57,5% dos homens.
A prevalência de excesso de peso aumenta com a idade e ultrapassa os 50% na faixa etária de 25 a 39 anos de idades. Nessa faixa de idades, a proporção de sobrepeso é um pouco mais elevada no sexo masculino (58,3%) do que no feminino (57,0%). No entanto, nos demais grupos etários, os percentuais de excesso de peso eram maiores entre as mulheres.
Ecosus
A pesquisa “Conhecimento sobre alimentação saudável e adequação às recomendações alimentares e nutricionais brasileiras: indissociabilidade entre a pesquisa epidemiológica, ensino e extensão na atenção nutricional no âmbito do SUS”, faz parte do estudo nacional “Enfrentamento e Controle da Obesidade no Âmbito do SUS”, realizado em 22 estados do país, através de financiamento do Ministério da Saúde e do CNPq. No Rio Grande do Sul, teve coordenação da UFPel em colaboração com a Universidade de Passo Fundo, Universidade de Santa Maria, Universidade Federal da Fronteira Sul, Prefeitura de Pelotas e Secretaria Estadual de Saúde do Rio Grande do Sul.O projeto teve o objetivo de desenvolver atividades de pesquisa, ensino e extensão, de forma indissociável, relacionadas com a atenção nutricional para o enfrentamento e controle da obesidade. A proposta foi fazer o diagnóstico com a gestão e os profissionais de saúde em relação à atenção nutricional, avaliando seu conhecimento sobre alimentação adequada e saudável tendo como base as recomendações alimentares e nutricionais oficiais brasileiras. Através de uma pesquisa-ação foram desenvolvidas ações de formação em atenção nutricional para os gestores e profissionais de saúde, com vistas ao enfrentamento da obesidade no âmbito da atenção primária.