Espetáculo “BITCH” estreia em Pelotas em curta temporada
O solo BITCH terá sua estreia em Pelotas, nos dias 24 e 25 de março e 31 de março e 1 de abril, na Sala Preta do Centro de Artes da Universidade Federal de Pelotas (UFPel). O espetáculo, criado por Alexandra Dias e dançado por Maria Falkembach, tem entrada franca e é aberto à comunidade em geral.
SINOPSE
BITCH é um solo criado por Alexandra Dias em 2018 e parte de uma exploração antropofágica no corpo dançante. A antropofagia no solo BITCH acontece por meio de um corpo que é aberto à incorporação do outro a partir da animação de todos os seus buracos como espaços de entrada e saída, assim, partimos da premissa que cada buraco do corpo é uma boca. A partir dessa investigação de movimento chegamos na BITCH que é uma entidade mulher-canina. O trabalho faz uma manobra antropofágica que busca reposicionar a palavra “cadela” como um termo que visa atingir mulheres de forma depreciativa. Assim, propomos um encontro entre a antropofagia e a estratégia de inversão e transformação de práticas autoritárias proposta pela teoria queer.
BITCH foi criada durante o doutoramento de Alexandra Dias, processo que focou no esburacamento do corpo como meio de conexão com outros corpos, contextos e culturas. O corpo-antropofágico criado ali é antes de tudo desejante de conexão e compartilhamento, se conecta à cosmologias do Povo Índio para se tornar máquina devoradora e transmissora. Assim, o solo BITCH, agora dançado por Maria Falkembach, atravessa o corpo de outra mulher, tornando a antropofagia devorada por uma, a ferramenta de outra. O formato solo se torna coletivo.
Assim, a intérprete-criadora Maria Falkembach realiza um processo de devoração do trabalho de Alexandra Dias. Nesse movimento, que transforma e atualiza o espetáculo, ela realiza ainda o devorar da performance de uma porta-bandeira, questionando qual a bandeira que carregamos como mulheres na contemporaneidade. Hoje, carregar a bandeira do Brasil e fazê-la passar por nossos buracos, é um modo de tornar essa bandeira parte do corpo. Bandeira essa que foi aviltada nos últimos anos, assim como nosso corpo de mulher, artista, professora.
E ainda, no caso de BITCH, o corpo produzido se coloca no entre o ser humano e o bicho, é o corpo entre a mulher e a cadela. Um corpo entre-lugar? Um corpo esburacado que permite ao público também se perceber nesse entre.
CONCEPÇÃO
BITCH é um solo concebido por Alexandra Dias partindo de um estudo sobre a antropofagia no corpo. Para compor o trabalho, a artista fez uma jornada que considerou os teóricos e artistas interessados em atualizar ideias antropofágicas, criando importantes derivações do conceito. São referências fundamentais deste trabalho Jota Mombaça, Grada Kilomba e Denilson Baniwa. O que se propõe em BITCH é a exploração de vias para a animação da antropofagia de forma encarnada, ou seja, métodos que vão tornar essa metáfora operante no corpo dançante. O corpo-antropofágico, tal como formulado, é esburacado, aberto à incorporação do outro através do avivamento de todos os seus buracos numa perspectiva que visa tirar da boca, e, portanto, da palavra, o lugar de protagonista do postulado antropófago. BITCH parte do procedimento de esburacar o corpo, o qual acena à chegada de um ser trans-específico que se localiza entre a pessoa e o animal. O solo BITCH, primeiramente dançado por sua autora, explora uma noção xamânica que permitiu transitar entre a mulher e a cadela. O trabalho quer reposicionar a palavra “bitch” como um termo depreciativo, aproximando a antropofagia da estratégia de inversão e transformação de práticas autoritárias proposta pela teoria queer.
O processo de transmissão do trabalho para o corpo de outra bailarina se relaciona com as ideias de exnovação (no lugar e inovação) e outroria (ao invés de autoria) propostas pela OUTRO Dances. A transmissão do trabalho evidencia o solo como formato aberto à alteridade, transferível e acessível, tal como a proposta antropofágica que conduz a criação de BITCH. Isso quer desafiar uma concepção de autoria (enclausurada, egóica ou individualista) comumente associada à criação-solo.
BITCH é o trabalho que inaugura a Trilogia Antropofágica desenvolvida por Alexandra Dias na Cia OUTRO Dances que é sucedida pelos espetáculos CÃES e ANIMAL NOTURNO que estrearam em 2022 em Pelotas.
O espetáculo CÃES explora as questões antropofágicas propostas em BITCH nos corpos masculinos. O espetáculo ANIMAL NOTURNO encerra a trilogia trazendo um corpo selvagem-animal na condição de clausura e sufocamento, refletindo o período de isolamento causado pela pandemia da COVID-19. Vão acontecer temporadas dos dois trabalhos em Pelotas ainda este ano.
SOBRE AS CRIADORAS
Alexandra Dias é artista da dança e professora da Universidade Federal de Pelotas/RS. É PhD em Dança pela University of Roehampton (Reino Unido). Seu trabalho se baseia em processos de prática-como-pesquisa, tendo como ênfase o estudo da antropofagia no corpo e os processos contemporâneos de composição coreográfica. Recebeu o Prêmio Funarte Petrobras Klauss Vianna de Dança e o Prêmio Açorianos de Melhor Produção pelo espetáculo Instruções para Abrir o Corpo em Caso de Emergência. Foi diretora da Cia. Olhar do Outro de Pelotas com a qual realizou os espetáculos Olhar do Outro e Palco de Feiras. Em 2018 fundou a OUTRO Danças, um grupo que tem como interesse a pesquisa em torno da aventura antropofágica, criando trabalhos que transitam entre a dança, o teatro, o cinema e a performance. A antropofagia se desenvolve principalmente a partir de uma investigação de movimento que parte dos buracos do corpo por meio de estratégias de composição que incluem a exnovação (ao invés de inovação) e a outroria (ao invés de autoria), além de outras bastardizações. A OUTRO tem sede na cidade de Pelotas e é formada por dançarinos de áreas diversas do movimento, tais como, as danças de rua, o teatro, a capoeira, a arte de performance, a dança clássica, entre outros. Desde 2019, a OUTRO Dances se dedica na criação do que denominamos de Trilogia Antropofágica, composta pelas obras BITCH, CÃES, e ANIMAL NOTURNO.
Maria Falkembach é artista do corpo, Prof. Dra. do Curso de Dança – Licenciatura da UFPel. Radicada em Pelotas, desde 2009, quando criou o grupo Tatá, no qual montou 5 trabalhos cênicos. Fundadora do grupo Depósito de Teatro, de Porto Alegre, em 1997, onde integrou o elenco de oito obras – três delas ganharam o Açorianos de Melhor Espetáculo. Bailarina em ORLANDO’S e em DAS TRIPAS SENTIMENTO, ambos ganhadores de Açorianos de Melhor Espetáculo de Dança. Atuou em PENÉLOPE BLOOM, co-produção Brasil-Costa Rica, recebeu o Prêmio Myrian Muniz-FUNARTE. Concebeu e atuou em duas obras cênicas solo: ADÉLIAS, MARIAS, FRANCISCAS… e DESTECENDO PENÉLOPE BLOOM, esta última com direção de Júlia Rodrigues. Dirigiu o espetáculo infantil MANDINHO, indicado ao Açorianos de Melhor Espetáculo Musical. Também atuou em LAMA – uma performance, e na websérie SHIRLEY & DEISÊ.
FICHA TÉCNICA
Direção: Alexandra Dias
Intérprete-criadora: Maria Falkembach Trilha sonora pesquisada: Alexandra Dias e Maria Falkembach Samba-enredo: Leandro Maia e Maria Falkembach Música Badêbauêra: Adriana Deffenti e Nico Nicolaievski Figurino e cenário: Alexandra Dias Bandeira: Maria Falkembach Costureira: Heloisa Helena Sanches Batista Desenho de luz: Alexandra Dias Material gráfico: Natali Taschetti e Beatriz Brum Produção de palco / Montagem de som e luz: Alliyellow e Denilsson Cosseres Mídias sociais: Laura Conceição Audiovisual: Maria do Carmo Vieira Fotos: Jéssica Porciúncula Produção: Natali Taschetti e Bianca Ascari Realização: OUTRO Dances e Tatá Núcleo de Dança-Teatro Projetos vinculados à UNIVERSIDADE FEDERAL DE PELOTAS Indicação etária: 16 anosSERVIÇO
ESTREIA DO ESPETÁCULO BITCH EM PELOTAShttps://forms.gle/cbpsTcKgnCYKh6yK7
Local: Sala Preta do Centro de Artes da UFPel Endereço: R. Cel. Alberto Rosa, 62 – Centro, Pelotas – RS, 96010-770 Dias: 24 e 25 de março – 31 de março e 1 de abril (sextas e sábados) Horário: 20h Ingresso: GRATUITO Nome na lista pelo formulário: