RESIDENCIAL HARAGANOS : Grávidas e mães invadem casas
TRÊS VENDAS
Famílias invadem casas do Residencial Haraganos
Por quase quatro horas, Sabrina Fonseca segurou ao colo a filha de dois anos, enquanto tentava explicar os motivos que a levaram a invadir uma casa do residencial Haraganos, localizado nas Três Vendas.
Despejada do local onde vivia, por falta de pagamento, sem poder viver com a família da mãe e desempregada, quando soube que outras pessoas estavam ocupando o local, resolveu fazer o mesmo. Mas seu destino, assim como o de grávidas e de outras mães com bebês e crianças pequenas, será o mesmo: ou saem do local ou serão denunciadas à Justiça e não poderão nem mesmo se cadastrar para tentar obter as suas próprias casas nos programas do governo federal.
O superintendente de Habitação, da Secretaria Municipal de Justiça Social e Segurança, Marcelo Pinheiro, foi taxativo: a Prefeitura não aceita invasões. Se as mulheres resistirem e ficarem nas casas, serão denunciadas e retiradas pela Justiça e perderão o direito a se cadastrarem em novos empreendimentos e quem sabe, receber suas casas daqui a um ano.
“Hoje, não há o que possa ser feito”, afirmou.
Juliana Vasconcelos está grávida de seis meses. Na segunda-feira, com a ajuda da mãe, que vive na casa de um irmão, levou um colchão e um sofá para outra casa desocupada no Haraganos. Na manhã de ontem, o proprietário chegou para ocupar o imóvel. Com o impasse criado por este caso e os demais – no total são 13 casas ocupadas irregularmente – a Câmara foi chamada a intervir. Os vereadores Marcos Ferreira (PT) e Ricardo Santos (PDT) foram até o residencial, para tentar encontrar uma solução.
“A responsabilidade é do Poder Público e da Caixa, pela desordem que causaram no programa Minha Casa, Minha Vida em Pelotas”, afirma o vereador Marcola. “O Legislativo é fiscal do dinheiro público.”
Além disso, segundo o vereador, as condições em que os condomínios são entregues demonstram o desinteresse do governo com a população. “Eles jogam as pessoas de qualquer jeito e te vira.”
Além da invasão, os moradores também relataram outros problemas. As casas foram entregues em maio, mas até o momento eles não receberam o cartão do programa Minha Casa Melhor, para poderem adquirir móveis. Também não receberam os boletos para começar a pagar as prestações. “Temos medo de perder nossas casas por falta de pagamento”, disseram muitos deles.
Além disso, as crianças estão sem escola, sem creche e sem atendimento nos postos de saúde que funcionam nas redondezas. “Todos nos dizem que estamos fora da área de atuação deles”.
Prefeitura não reconhece cadastros antigos
Marcelo Pinheiro afirma que seis casas do Haraganos já foram devolvidas à Prefeitura porque houve denúncias de omissão de renda, de tentativa de venda e de aluguel das casas. Mas, segundo afirma, existe uma lista de espera, e as mulheres que invadiram terão que se cadastrar para entrar na fila.
Angélica Peixoto tem duas filhas, uma de sete anos e outra de três. Cadastrou-se no programa Minha Casa, Minha Vida em 2008. Nunca recebeu a visita de uma assistente social. Invadiu uma casa e para dormir “encosto o colchão na porta, com medo que arrombem e matem eu e minhas filhas”.
“Não quero ficar de graça, quero pagar pela casa”, afirma. O superintendente Marcelo Pinheiro responde a Angélica o mesmo que já disse a outras mães: “não vamos falar no passado, os cadastros têm que ser atualizados”.
Mas Angélica e outras mulheres, que não sabem o que farão depois desta sexta-feira, quando terão que abandonar as casas, se perguntam: “já perderam nossos cadastros uma vez, será que não vão perder de novo?”