ENTREVISTA : Ricardo Fonseca diz – “Os resultados não mentem”
Ricardo Fonseca, 46 anos, chegou à presidência do Brasil em novembro de 2011. Assumiu o comando de um clube que estava na segunda divisão gaúcha e traumatizado pelo rebaixamento no Campeonato Brasileiro da Série C por uma polêmica decisão do Superior Tribunal de Justiça Desportiva (STJD). Quase três anos depois da primeira eleição, o dirigente contabiliza uma série de conquistas dentro do campo e apresenta um clube com evolução na parte administrativa. Só não conseguiu vencer a eterna crise financeira do Xavante, a qual determina que os salários sejam pagos sempre com atraso.
Na eleição marcada para o dia 30 de setembro, Fonseca deve se apresentar como candidato à reeleição. Se seguir na presidência, irá para três mandatos seguidos, aproximando-se da marca de Hélder Lopes, que comandou o Brasil de dezembro de 2006 a abril de 2010. Ricardo Fonseca admite dar “continuidade ao trabalho” e destaca o respaldo da família, especialmente da esposa Tatiane, que toma conta da administração do Restaurante Cidadela para que ele possa se dedicar ao clube.
Na entrevista a seguir, Ricardo Fonseca fala das conquistas de sua gestão, das dificuldades financeiras e dos planos no posto de comandante da Nação Xavante.
DIÁRIO DA MANHÃ – O senhor completa em novembro três anos na presidência do Brasil. Neste período, o time xavante voltou para a primeira divisão gaúcha, conquistou vaga inédita na Copa do Brasil, está na segunda fase da Série D do Brasileiro – a quatro jogos do acesso à Série C -, e com números impressionantes conquistados dentro de campo nas duas últimas temporadas. O senhor tem noção de que está fazendo história no comando do clube?
Ricardo Fonseca – Acho que sim. De 20 anos para cá, o Brasil nunca teve tanta situação positiva como está tendo agora – tanto dentro como fora do campo. Em 2012, no primeiro ano como presidente do Brasil, a gente não conseguiu o acesso, mas conseguimos pela primeira vez a vaga na Copa do Brasil. Tivemos o acesso em 2013, vencendo a Série A2; fizemos um bom segundo semestre. Agora em 2014, fomos campeões do interior em cima de Caxias, Juventude, Veranópolis, Lajeadense, Novo Hamburgo… Equipes que sempre investem e que procuram sempre ser campeões do interior. Adquirimos uma vaga para a Série D dentro do Gauchão e com uma equipe que estava vindo de uma Série A2. Além disso, adquirimos pela segunda vez a vaga na Copa do Brasil, agora para 2015. De 20 anos para cá, eu não vejo outro momento de tanta conquista de resultados positivos.
DM – O senhor chegou à presidência gerando desconfiança e até certo preconceito…
Fonseca – Muitos não acreditavam. Nem o torcedor acreditava. Mas sempre digo que não é preciso ter bagagem e todos os requesitos para ser um comandante. Temos é que ser responsável e saber o que estamos fazendo. E hoje está comprovado que está dando certo. Os resultados dentro de campo não mentem. E fora de campo, o Brasil nunca teve uma parte administrativa como está tendo agora. O Brasil pagou aí mais de 1 milhão de reais de dívidas passadas desde 2012 e conseguiu reverter a campanha de sócios. Quando eu peguei o clube, o Brasil tinha 1.300 sócios, chegamos a 5 mil sócios e hoje estamos com 4,2 mil pagando em dia a mensalidade. Então isso é uma reviravolta dentro do clube muito grande. Muitos não acreditavam e muitos achavam que ia dar tudo errado, e hoje está dando certo. Acho que nós conseguimos criar uma credibilidade com o torcedor e com o conselheiro. Além disso, o Brasil faz dois anos e meio que está praticamente com a mesma equipe e a mesma comissão técnica. Antes passavam três, quatro técnicos a cada ano, passavam 90 jogadores. Hoje tem um técnico por ano e passam 30 jogadores.
DM – No seu primeiro ano de gestão, o Senhor contratou três técnicos: Luizinho Vieira, Marcelo Rospide e Rogério Zimmermann. O Zimmermann era o seu preferido, mas não veio antes por resistência do então departamento de futebol?
Fonseca – Quando saiu o Luizinho, a minha preferência já era o Rogério Zimmermann. Mas a gente acaba também escutando as pessoas do futebol. Naquele momento, o Marcelo Rospide era a “bola da vez” e, por isso, foi contratado. Quando fizemos um jogo muito ruim contra o Brasil de Farroupilha e perdemos por 2 a 0, eu entendi que era o momento certo de trocar. Alguma coisa estava errada. Já que o futebol não tinha me dado segurança, então decidi que saia o Marcelo, saia o Polaco (preparador físico) e a diretoria toda do futebol. Naquele momento, eu vi que tinha que ter o comando. Eu acabei afastando todo mundo, para eu ter o controle do futebol e ter o controle do clube.
DM – Como fica a organização administrativa do Brasil, com a saída de Fabrício Marin?
Fonseca – O Fabrício (diretor executivo) ajudou bastante. Ele já saiu do clube e nós vamos ter que achar outro profissional. Nós precisamos ter uma pessoa para comandar essa área administrativa, um especialista.
DM – Já houve acerto financeiro com Marin?
Fonseca – Está tranquilo. Isso está mais com a parte jurídica. É o departamento jurídico que está fazendo esse acerto com o Fabrício Marin.
DM – Depois do jogo de domingo, Rogério Zimmermann revelou que em dois meses os jogadores do Brasil receberam apenas R$ 750,00. Isso é uma mostra da dificuldade financeira do clube no momento?
Fonseca – Depois do jogo, o Rogério me perguntou se poderia falar isso na entrevista coletiva. Na verdade, no sábado à noite, nós fizemos um pagamento para os atletas de R$ 750,00. Isso é verdade. A folha salarial de julho estava atrasada há um mês e a outra, a de agosto, venceu no dia 10 de setembro (ontem). Antes da partida, a gente juntou tudo o que tinha de dinheiro e repassou para os atletas. Na realidade o que houve foi um vale de R$ 750,00. Mas na terça-feira os jogadores receberam o restante que tinha sobrado da renda do jogo de domingo.
DM – Deu para completar o pagamento da folha salarial de julho?
Fonseca – Não deu para pagar nem 50% da folha de julho, que venceu em agosto. Estamos com 35, 40% dela paga. Já a folha de agosto venceu ontem, dia 10, e estamos totalmente descobertos.
DM – Pelo estatuto do Brasil, a eleição da diretoria executiva do clube ocorre no dia 30 de setembro. O senhor é candidato à reeleição?
Fonseca – A eleição não vem num momento bom. Bom seria se fosse depois da Série D. Nunca é bom ter uma eleição no meio de uma competição. O grande objetivo que nós temos neste momento é o acesso para a Série C, porque o Brasil tem que ter um calendário cheio, que comece em janeiro e termine em dezembro. E só a Série C vai nos dar esse calendário forte. Vai ser uma competição de 20 clubes, com turno e returno – todos contra todos. O grande momento para o Brasil ter o aceso à Série C é neste ano. Vai ser muito difícil, o Brasil ter vaga na Série D de 2015, porque para conseguir terá que ser novamente campeão do interior. E é muito difícil ser campeão do interior por duas vezes seguidas. Também vai ser apenas uma vaga para o Rio Grande do Sul. Você tem que ser campeão do interior e ainda disputar uma seletiva com o campeão da Supercopa deste ano. Mas respondendo a tua pergunta: a gente está trabalhando nos bastidores. O presidente do Conselho Deliberativo (Adriano de León) já conversou comigo para ver quais são as possibilidades de dar sequência no trabalho. Eu acho importante a sequência do trabalho. O Brasil não pode abandonar esse planejamento que vem tendo, se não vai retornar para a segunda divisão do Gauchão.
DM – Se houver reeleição, o senhor vai para o terceiro mandato. Como ficam as atividades profissionais e os interesses familiares diante das exigências no que se refere à disponibilidade de tempo para exercer o cargo de presidente do clube?
Fonseca – Família. Sem a família não tem outro jeito. Se fosse só eu a tocar o restaurante (Cidadela), eu estaria quebrado. O Brasil tem uma exigência muito grande. Imagina tu comandar aí o desejo de 200 mil, 300 mil pessoas – todas querendo um Brasil forte e vencedor. É uma responsabilidade muito grande. Eu mais trabalho no Brasil do que no restaurante.