Diário da Manhã

sábado, 23 de novembro de 2024

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As dificuldades em ser mãe e universitária

08 junho
17:03 2015

A mãe que se preocupa com a alimentação do filho. A mãe que quer a melhor criação para a criança. Se essa mãe for estudante da UFPel, terá de enfrentar muita gente.

Por Marcelo Medeiros Rota

Laura divide o seu tempo entre o estágio no IFSul, a faculdade de Letras, amigos, a vida com seu companheiro e dar a melhor criação e cuidado para os seus três filhos. Jordano tem 7 anos, Olga tem 3 e o pequeno e sorridente Raul tem apenas 5 meses. Antes de começar o 1º semestre de 2015 (com Raul ainda na barriga), Laura procurou a coordenadora do curso para saber se haveria alguma sala ao seu dispor, para que pudesse trocar e amamentar o pequeno com tranquilidade. Foi disponibilizada para a estudante de letras uma destas salas que possuem divisórias e tudo correu bem, até o fatídico episódio.

Conforme narra Laura, foi quando uma professora lhe agrediu verbalmente que a dor de cabeça começou. “Você vai trocar essa fralda toda suja (na ocasião a palavra escolhida foi mais grosseira) aqui? Não vou deixar.”, disparou a professora. Ao que a estudante respondeu que fora autorizada, a outra retrucou: “mentira, ninguém me avisou nada”. E completou: “isto não é problema meu, arranja alguém para ficar com ele”. Nisso, algumas pessoas já assistiam ao que se tornara um evento. Constrangida, a estudante não pode voltar à aula (já que a fralda de Raul estava suja) e dirigiu-se para a casa. Chegando lá, chateada e irritada, com o Raul chorando, depois de lutar por um lugar vago para estacionar no centro, Laura desabou.

Assim como os pediatras, psicólogos, pedagogos e demais especialistas, Laura sabe da importância de, pelo menos até os 6 meses, alimentar os bebês exclusivamente com aleitamento materno. Raul é “bom de mama”. Segundo a estudante, a cada duas horas e meia o pequeno tem fome. Ou seja, para que ele mantenha essa alimentação, a estudante tem que ir à faculdade com o Raul, com o carrinho, com a bolsa dele e com toda a parafernália que as mães sempre carregam. Laura costuma escutar muitos incentivos dos professores, do tipo: “Bom, agora tu vais trancar a faculdade, né?” ou “volta depois, tu és uma boa aluna”. Segundo a estudante, parece que alguns professores vivem no século passado. Apesar de difícil, Laura afirma que consegue muito bem fazer a faculdade e criar os filhos.

Ainda no semestre passado, enquanto estava grávida de Raul, Laura passou por outra situação constrangedora. Segundo a aluna, em um dia de prova perguntou à professora se poderia sentar mais perto da janela, pois sentia enjoos. Ao que a mestra respondeu: “Ok, tu sentas ali, mas todo mundo sai da tua volta”. E ainda completou: “viu pessoal, no que dá não se planejar”. Laura sentiu-se tratada como uma criança. Tem 32 anos e depois de complicações com a última gravidez, seria sua última oportunidade de ter um filho e foi por isso que engravidou de Raul.

Depois dos episódios e conversando com amigas e outras mães universitárias, Laura surpreendeu-se com a quantidade de casos semelhantes que ocorrem na universidade. Por isso, as mães organizaram-se e já marcaram uma manifestação. Na próxima terça-feira, às 17h, cerca de trinta mães confirmaram presença no mamasso. Dentre as reclamações, está a falta de fraldários (não existe em nenhum campus) e o reconhecimento do direito de amamentar.

Pouquíssimas universidades brasileiras reconhecem a lei 6.202 de 1975. Segundo o texto, estudantes grávidas podem assistir aulas, realizar provas e cumprir outras atividades acadêmicas em casa a partir do oitavo mês de gestação. São três meses de dispensa para a mãe, que podem ser estendidos com atestado médico. Esse tempo deve contar no currículo escolar, assim como as aulas em casa. Outra realidade que ainda deixa muitas pessoas perplexas é o quanto a amamentação ainda é um tabu e a quantidade de pessoas que são impedidas de amamentar em público.

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