EDUCAÇÃO : Saberes e sabores da sala de aula
Por Carlos Cogoy
Neste ano ela foi convidada para formatura do curso de direito na Urcamp em Bagé. O formando foi seu aluno na infância e adolescência. Após bom tempo sem contato, ela surpreendeu-se com o convite. E o novo advogado – já dedicado à carreira militar como sargento do Exército -, insistiu para que não faltasse. A professora Daniela Pedra Mattos e o marido, então rumaram à “rainha da fronteira”. O casal acomodou-se na plateia e acompanhou a cerimônia. O ex-aluno era o orador e, no discurso, foi abordando sobre a trajetória. Como a família não dispunha de recursos suficientes, muitas vezes ele não tinha como almoçar. A professora, atenta, conseguiu viabilizar refeições para o menino. Além do gesto solidário, assim expressou o orador, a professora sempre o incentivou para que não desanimasse.
Os anos passaram, Daniela prosseguiu em sala de aula, cursou o mestrado e neste ano defendeu a tese de doutorado na UFRGS. O ex-aluno, que a emocionou na formatura, aprendeu além do conteúdo. Tornou-se adulto que, mudando de vida, tratou de expressar a gratidão pelo aprendizado. O episódio foi mencionado por Daniela na 21ª Jornada Pedagógica do curso Normal – habilitação Anos Iniciais. No Colégio Municipal Pelotense, pouco antes do recesso escolar, ela proferiu a palestra “Perfil do professor no século 21”.
GOOGLE é recurso online que oferece as mais variadas abordagens. Diante disso, observou Daniela, a sala de aula está em transformação. “Meu pai era professor em escola rural. E o berço teve de ser arredado para acomodar estante de livros. Daí brinco que, desde então, entrei nos livros. Na infância, brincava que o milho era microfone, e a beira do açude a praia de Copacabana, onde iria lançar livro. Já ao subir sobre a mesa, sentia-me visitando a Torre Eiffel. Não tinha grande amor pela escola, e meus pais tentaram descobrir o que estava acontecendo. Aquelas brincadeiras já eram sinais de algumas perspectivas. Acabei me tornando professora, pesquisadora e autora. Além da educação, também trabalho na editora SM, lidando profissionalmente com livros.
Na carreira, fui percebendo que, se a remuneração é pequena, há ganhos que decorrem das trocas, respeito, atenção e vivências. Na internet o aluno pode encontrar repostas e dicas sobre o conteúdo. Mas é o professor que tem o desafio de formar pessoas de caráter. A escola mudou. Rubem Alves recomenda ouvir, e Fernando Pessoa sugere atenção ao que é dito nos ‘interstícios’. Então é preciso educar o olhar. É proibido ao professor, o olhar que zomba e caçoa. É impossível aprender com medo. E Mário Quintana manifestou: ‘Quem não compreende um olhar, também não aprenderá uma longa explicação’”, disse a palestrante.
SABERES e sabores da sala de aula – palavras de amor que brotam da alma infanto-juvenil e encantam o aprendizado. Publicação coletiva de alunos da Escola Estadual Dr. Joaquim Duval, sob a coordenação da professora Daniela. São sessenta jovens autores, e o lançamento ocorreu em maio deste ano. Com a experiência – tiragem foi restrita ao grupo e familiares -, estudantes do fundamental foram instigados ao prazer da leitura, bem como apreenderam tópicos gramaticais.
Outro “sabor” proporcionado pela educação, mencionou Daniela, ocorreu em relação à motivação para o êxito dos alunos no ENEM. A dedicação da educadora, incentivando o aprendizado do conteúdo através do reforço, bem como aspectos como a responsabilidade e pontualidade dos alunos, resultou na aprovação de 90% dos jovens. Ela sugere: “O professor do século 21 não deve ser meramente conteudista, mas preparar pessoas para que sejam felizes”.