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sábado, 23 de novembro de 2024

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VANDICO : Memória, música, estátuas e Carnaval

VANDICO : Memória, música, estátuas e Carnaval
30 julho
09:39 2015

Por Carlos Cogoy

Convidado por Antônio Caringi

Convidado por Antônio Caringi

Formatura na Escola de Belas Artes em 1967. A elite pelotense aglomera-se para a cerimônia que premiará os destaques nos cursos de pintura e escultura. O jovem negro, morador na Várzea, chega ao local mancando. A deficiência, que decorre de enfermidade na infância, não impediu que superasse o preconceito e discriminação. E Elvandir Santos Caldeira, filho de Orlando Caldeira – artífice na construção civil -, prepara-se para entrar no prédio histórico.

Afinal, convidado por Antônio Caringi para cursar Belas Artes, com a escultura “O camponês”, conquistara o segundo lugar na formação. Momento especial pois, durante o curso, como único aluno negro, diante do sumiço de caneta de ouro, foi considerado suspeito. A caneta foi localizada numa bolsa esquecida em sala da Escola de Belas Artes. Agora, no entanto, ocasião para celebrar a conquista, conclusão do curso. Afinal, na família, poucas condições para atender os dez irmãos. Daí, Elvandir – Vandico como é conhecido -, dispunha de apenas um suéter.

Trombonista na Império Serrano

Trombonista na Império Serrano

Nos anos de formação, após as aulas lavava a peça e colocava para secar, pois no outro dia teria de usá-la novamente. Mas, chegando ao sobrado das Belas Artes, antes que ingressasse na sala da formatura, é abordado pela escultura negra Judith Bacci – trabalhadora na limpeza da EBA. Ela orienta Vandico a não participar da cerimônia, pois havia sido o segundo colocado mas, sendo negro, sua premiação poderia ser rechaçada pela sociedade pelotense. Ele então contorna a esquina e entra por acesso lateral.

Filha “Dani” e esposa Vardelina

Filha “Dani” e esposa Vardelina

Episódio que emociona Vandico. Aos 72 anos, o escultor pelotense mantém intensa atividade. Morador no balneário dos Prazeres, ensina as técnicas de modelagem e látex para os jovens, empenha-se na confecção de carros alegóricos para entidades carnavalescas, esmera-se nas encomendas de estátuas.

TRAJETÓRIA – Humilde, discreto, receptivo e fraternal, prefere não se vangloriar das vivências, viagens e contatos. Mas, seu talento foi reconhecido por Caringi, que o convidou para a EBA. Calouro, contemporâneo do pintor Luiz Carlos Melo da Costa, conta que levou pontapé ao transitar pela rua 15 de Novembro. O autor foi outro estudante que, surpreso, expressou que nunca havia visto um “negro como bicho em curso superior”. No Estado, carreira como instrutor de arte na antiga Febem.

Radicado em Porto Alegre, atuou na criação de carros alegóricos para escolas da capital. Profissionalmente, contatos com Joãosinho Trinta.  Na área da saúde – atividade com Ivo Pitanguy. Músico, integrou grupos como Jazz Espanha, Os Bárbaros, Bossa Sete e União Democrata. Sua atividade na modelagem está em variados monumentos em Porto Alegre, Piratini e Canguçu. Com onze netos, participa de cursos e exibe orgulhoso os certificados. Contatos com o talentoso Vandico: 9153.5973.

Negro, deficiente e idoso, escultor Vandico prossegue em intensa atividade aos 72 anos

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