Diário da Manhã

segunda, 25 de novembro de 2024

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Homenagem ao roqueiro “fora da lei”

19 agosto
09:15 2015

Sexta-feira às 19h no Largo do Mercado – em frente à lanchonete Renascer -, tributo ao compositor baiano Raul Seixas

Por Carlos Cogoy

Metamorfose ambulante, Meu amigo Pedro, Tente outra vez e Sociedade alternativa. Músicas que serão interpretadas na 3ª Passeata do Raul. A coordenação está a cargo de Daniela Neris, Marcelo Damasceno e Samuel Ávila. O evento reunirá admiradores da trajetória do roqueiro baiano Raul Seixa, numa homenagem no dia que assinala 26 anos de falecimento do “Maluco Beleza”. Paulistana, cantora e estudante de biologia na UFPel, Daniela tem promovido o encontro que, em São Paulo, reúne número expressivo de participantes e é realizado há 26 anos. No Largo do Mercado, Daniela (voz), será acompanhada pela banda que reúne Samuel Krolow (violão), e Marcelo Damasceno (bateria). Ela salienta que o tributo será aberto a manifestações artísticas.

Cantora Daniela Neris

Cantora Daniela Neris

PASSEATAS em Pelotas conforme Daniela: “A primeira passeata aconteceu em frente ao Teatro Guarany e a segunda no Mercado Público. Uma coisa interessante é que, a princípio, o evento teve exatamente os mesmos moldes da passeata de São Paulo. Mesmo horário, às 16h, mesmo local, teatro central e a ideia era caminhar até a Catedral. Essa programação não deu muito certo aqui em Pelotas. As pessoas não são acostumadas a participarem de eventos num dia de semana as quatro da tarde. Foram em média cinquenta pessoas até o Theatro Guarany e lá ficamos, ouvindo Raul, cantando, dançando e fazendo performances. Mas as pessoas não se sentiram à vontade para a passeata, talvez pelo número reduzido de participantes. Decidimos fazer uma passeata simbólica até o Bar do Zé quando escureceu e foi muito interessante. Passamos a nos deslocar pela Gonçalves Chaves com a bandeira da sociedade alternativa e seguimos para o Porto. Depois desta experiência, resolvemos adaptar o evento para a realidade da cidade. A segunda passeata já teve estes moldes. O evento começou mais tarde e com som ao vivo na lanchonete Esperança no Mercado Público. Na segunda passeata, então, muito mais pessoas participaram, pois, na frente do Mercado, quem estava passando pela rua, parava para participar, além dos convidados via Facebook. Na terceira, esperamos atingir um público maior via divulgação. Esperamos cerca de duzentas pessoas. Mas não sabemos se irá acontecer a passeata em si, como programamos a princípio até a catedral, isso vai depender do número de pessoas e da própria manifestação do público. Queremos com isso, introduzir uma tradição de tomada das ruas em Pelotas, celebrando a amizade, as afinidades, a música, a arte e a liberdade de expressão. E Raul é um grande facilitador para isso! Todos os equipamentos são nossos e vamos utilizar o espaço cedido pelo nosso colaborador dentro do horário legal”.

VALEHTA estará no evento. Daniela divulga: “Vamos iniciar às 19h com discotecagem do Raul Seixas e confraternização dos amigos que chegarem. A partir das 21h iniciaremos o tributo que contará com a banda Valehta, formada apenas para o evento. A banda é formada por mim no vocal, Samuel Krolow no violão e Marcelo Damasceno na bateria. O tributo terá duração de uma hora e depois continuaremos celebrando no mesmo local, ou não, vai depender do que for combinado na hora. O evento é livre para manifestações artísticas. Quem quiser levar a sua homenagem ficará livre para isso”.

Raul Seixas (1945/1989)

Raul Seixas (1945/1989)

RAUL EM PELOTAS – Apresentação com Marcelo Nova no então teatro Avenida. Pouco antes de falecer, “Raulzito” tocou na cidade. Daniela ouviu relatos e aborda: “O Raul é o artista que mais coleciona lendas e relatos sobre suas passagens em vários locais do Brasil. Daria para escrever um livro sobre todos que afirmam ter tido contato com ele. O Raul fez seu penúltimo show em Pelotas, ao lado de Marcelo Nova, em uma turnê de 52 shows pelo Brasil. Mesmo estando em condição de saúde muito ruim, ele aceitou fazer os shows que, para ele, eram a despedida dos palcos e da vida. Em Pelotas o show foi realizado no Teatro Avenida em 89, e muitas pessoas afirmam ter ido ao evento. Uns dizem que o Raul chegou numa cadeira de rodas, outros afirmam tê-lo visto tomando cachaça no Laranjal e por aí vai. O fato é que o show aconteceu e muitos se lembram disso na cidade”.

FÃ – A cantora paulista menciona sobre a admiração pelo cowboy fora da lei”: “Quando eu tinha uns dezesseis anos, estava aprendendo a tocar violão e sempre rolava rodinhas de violão com meus amigos que curtiam algumas músicas de Raul, talvez as mais conhecidas. Eu, nem isso conhecia. Não sabia cantar uma música inteira do Raul. Mas, um dia, em frente a minha casa em São Paulo, estava sentada na calçada com o violão na mão, quando passou por mim um rapaz que parou para ouvir. Ele perguntou se eu tocava uma música do Raul e eu disse que não sabia.

Ele então, perguntou se eu morava ali mesmo e eu disse que sim. Falou em seguida que me traria um presente do Raul. Não acreditei muito mas disse tudo bem! Aceitaria o presente. No outro dia, quando cheguei da escola, minha mãe disse que um rapaz havia passado por lá e deixado alguma coisa. Quando vi o presente, eram várias fitas K7 originais do Raul Seixas. E comecei a ouvi-las. E mesmo não entendendo muita coisa, sabia que tinha algo muito diferente nas mensagens das músicas. Algo que nenhum outro compositor falava. Era a mensagem ‘Raulseixista’! Que muita gente ainda não entende! O que mais me admira no Raul, além da mensagem, claro, é a coragem e determinação que ele teve para transmitir suas ideias, através da música para o maior número de pessoas possível. Um cara que enfrentava o poder da mídia e burlava a censura magistralmente. Sem poupar esforços para isso. O resultado disso, é que Raul é conhecido e admirado por todos! Em todas as classes sociais, no boteco da esquina até dentro da academia. Isso é o que mais admiro em sua personalidade, enquanto artista”.

FOLK-SE é projeto artístico de Daniela. Ela conta sobre a dedicação à música: “Sou cantora e trabalho com música há dez anos. Tenho um trabalho em São Paulo com a banda ‘Cabeças Enfumaçadas’, que toca repertório variado de rock clássico nacional e internacional. Em Pelotas, trabalho com um projeto chamado ‘Folk-se’, que também transita pelo rock clássico e rock rural dos anos setenta. Raul influenciou toda uma geração de jovens que hoje trazem consigo uma abertura maior de diálogo entre as gerações. Percebe-se atualmente que os impactos de gerações são bem menores do que antes. O jovem de hoje goza de uma maior liberdade no que diz respeito à escolha dos seus próprios caminhos e ideologias. Eu vejo isso como uma grande influência da geração dos anos sessenta e setenta. A memória e a energia de Raul se manifesta em todas as ações dos jovens atuantes de hoje em dia. Desde um protesto até uma atitude isolada para termos um mundo diferente, com mais liberdade e criatividade, mas amor e diálogo entre as diferenças”.

MARGINAL – E Daniela conclui: “Raul não deixou a mídia usá-lo. Foi o contrário. Ele também não se importava com dinheiro e reputação, por isso, não mantinha compromissos duradouros com a mídia e não se importava em dar grandes furos nas emissoras e gravadoras. Tudo isso, contribuiu para a figura do Raul ter se transformado em algo subversivo e marginal. Sem dúvida, ainda permanece a imagem do roqueiro maluco na mídia e também na sociedade em geral. Mesmo assim, ninguém duvida que ele foi um grande marco necessário na música brasileira. Ele colocava sua arte na frente de qualquer outro interesse”.

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