LITERATURA : Canta o céu da boca de cada verso
Autor pelotense Alvaro Barcellos divulga seu primeiro livro de poemas “Um Céu de Tantos Remendos”
Por Carlos Cogoy
Vento que vem lá de longe/ carregando em seu sopro/ toda sorte de mazelas/ areias e calmarias/ o teu cheiro anunciações/ e a flor dos capinzais/ o desprezo a morte os lampejos/ o balanço que rege/ angústias rezas suspiros/ agonia sina – horizontes –/ e o mistério desse sangue das canções. Estrofe de “Vento e distância” – autoria do poeta e letrista Álvaro Barcellos – que integra o seu primeiro livro “Um céu de tantos remendos” (108 páginas). No volume constam cinquenta poesias, e o prefácio é do autor jaguarense Aldyr Garcia Schlee. Ao participar de concurso literário em âmbito nacional, Alvaro despertou interesse de editora. Assim, como autor estreante, não está arcando com o custo. E a publicação é iniciativa da editora paulista Penalux. O lançamento acontecerá na Feira do Livro. Até lá, aquisição pode ser diretamente com o autor, ou no endereço eletrônico: editorapenalux.com.br
LER – Álvaro cursou direito e letras, especializando-se em literatura brasileira contemporânea. A motivação pela literatura, no entanto, começou aos dezesseis anos. À época, aluno do Colégio Municipal Pelotense, teve de elaborar exercício para aula da professora Teresinha Louzada. Ele e o amigo Nelson Niemczewski, tendo como base música instrumental da banda Led Zeppelin, elaboraram poema em dupla. Alvaro conta que, espontaneamente houve outras criações. Ele considera como brincadeiras, pois despretensiosas. “Eram versões inteiramente livres de Bob Dylan e Pink Floyd. Foi o começo de tudo”, acrescenta. Em casa eram poucos os livros, e sua preferência estava direcionada à leitura dos “gibis”. Paralelamente, o jovem também estava atento à arte de compositores como Chico Buarque, Caetano, Gil, Milton Nascimento, Fernando Brant, Ivan Lins, Vitor Martins, Renato Teixeira, Belchior, Dori Caymmi e Paulo Cesar Pinheiro, Almôndegas e Paulinho da Viola. A música seria determinante para outra vertente artística de Alvaro. Ele é autor de letras que têm sido gravadas por músicos como Pedro Munhoz.
ESCREVER – Na literatura foi influenciado por escritores como Pablo Neruda, Carlos Drummond de Andrade, Ferreira Gullar, Vinicius de Moraes, Cecilia Meireles, Castro Alves, Mário Quintana, Manuel Bandeira, Borges, Guimarães Rosa, Graciliano Ramos, Erico Verissimo, Jorge Amado e García Márquez. “Tenho escrito sempre, uma vez que a palavra é minha ferramenta de trabalho. Escrevo muito. E sou movido pela leitura de outros autores. E sempre são importantes pontos de partida: um Cortázar hoje, um Manoel de Barros daqui a alguns dias, uma Adélia Prado mais adiante, além de autores jovens que nos vão indicando e que a gente corre atrás. Quanto a temas, discorre-se sobre tudo, rigorosamente, inclusive pela possibilidade gostosa de apropriar-se das pequenas coisas cotidianas como material poético. É a herança da luta modernista, de modo que tudo pode funcionar como mote. Já diz o poeta maranhense Ferreira Gullar: ‘A arte existe porque a vida já não basta’. Então, entendo que o grande papel da arte hoje, seja o de contribuir no sentido da recuperação do senso de humanidade profundamente violado pelo capitalismo contemporâneo”.
MÚSICA – Em relação ao canto que emerge de suas letras, Alvaro menciona: “Entre 1989 e 91, compondo em parceria com meu amigo Ricardo Petrucci, conseguimos algum destaque no Fecanpop de Canguçu. O festival era aberto a todos os gêneros musicais e, em 1989, ficamos com o terceiro lugar. Em noventa, com o primeiro. Ano seguinte com a segunda colocação. Nas três edições, sempre conquistamos o troféu de Melhor Letra. A música por muito tempo, serviu como ponto de partida para o desenvolvimento de minha capacidade de versejar. Foi a partir desse contato que tudo começou. Daí, com muita leitura, observando e dominando técnicas, fui aprimorando. Gosto de citar uma passagem atribuída ao poeta Mario Quintana: ‘Do mesmo que aprendi a falar ouvindo, aprendo a escrever lendo’. E o contato com outras experiências estéticas é que nos faz crescer muito. Tenho trabalhado com inúmeros parceiros musicais. E gosto que esse trabalho seja inteiramente livre, tanto de minha parte quanto da parte do parceiro com quem estiver compondo. Até já produzi sob encomenda, mas não foi algo tão prazeroso. E, além de fazer alguns poemas com intenção musical, para que algum compositor noutro momento possa, quem sabe, musicá-lo, também gosto de receber a melodia sem letra para letrá-la. É um processo diferente, mas que me agrada muito”.
DISCO – Ano passado, projeto com letras do Álvaro foi aprovado no edital do Programa Municipal de Incentivo à Cultura (PROCULTURA). A ideia consiste na gravação de disco com quinze letras do compositor. Ele diz que até o final deste ano, acontecerá o lançamento do CD. As letras foram para melodias de autores como Pery Souza, Raul Ellwanger, Marco Aurélio Vasconcellos, Pedro Munhoz, Ricardo Petrucci, Juliano Guerra, Helio Ramirez. Na interpretação, cantora paulista Daniela Neris – recentemente organizou a terceira passeata em homenagem ao legado de Raul Seixas. O instrumental será com a banda reunida por Sulimar Rass.
POLÍTICA CULTURAL na acepção do autor: “Para incentivar a leitura, a política cultural deve ser esforço conjunto. Então, envolvendo escolas, editoras, meios de comunicação e autores. Penso no contato dos autores, conhecidos, pouco conhecidos ou desconhecidos do grande público, para conversas, leituras de poemas e textos de narrativa. E, por exemplo, conciliando tarefas de recepção dos textos, com as oficinas de criação. Além disso, também considero que os concursos literários desempenham importante papel para o estímulo e difusão”.