Valorização da literatura afro-gaúcha
Sábado às 14h acontecerá plenária regional do 1º Encontro de Escritores Negros do RS. Como local, clube Fica Ahí – Deodoro 368
Por Carlos Cogoy
Chegou a hora dessa literatura mostrar o seu valor. Espaço à produção literária afro-gaúcha. O 1º Encontro de Escritores Negros/RS, será nos dias 9 e 10 de outubro em Canoas. Até lá, plenárias regionais em Pelotas, Caxias do Sul, Canoas e Santa Maria. A primeira plenária, com debates preparatórios ao encontro estadual, acontecerá no sábado em Pelotas. Conforme o escritor e jornalista Oscar Henrique Cardoso, a partir das 14h acontecerão lançamentos literários, apresentações musicais, e microfone democraticamente liberado para manifestações dos participantes. Ele menciona: “Em Pelotas teremos a primeira plenária regional, pois a cidade é um termômetro para todos nós. Em 2016, pretendo trazer a segunda edição do encontro para a cidade. No clube Fica Ahí, apresentaremos a proposta do encontro, destacando os principais objetivos. Será uma bela tarde cultural, e as atrações estão sendo definidas pela equipe do clube, em conjunto com o Conselho Municipal de Participação e Desenvolvimento da Comunidade Negra”.
AFRO-GAÚCHOS – Oscar afirma sobre a participação no evento: “Creio que teremos encontro inédito na história da literatura gaúcha. Ele é único no sentido de não fazer distinção. Não teremos divisões, e a produção acadêmica estará em conjunto com escritores ficcionais e poetas independentes. Então, união e congraçamento de todos os autores. Todos os gêneros serão contemplados. Prioritariamente, é claro, ênfase aos temas que são relacionados à cultura e história afro-gaúcha. Mas os demais autores, não negros, e até os negros que não escrevem sobre a temática, também são convidados a participar do encontro. Queremos reunir todos os autores. E juntos vamos construir uma pauta inclusiva, valorizando e promovendo o conhecimento da literatura afro-gaúcha nas escolas, bem como em todos os eventos literários do Estado”.
OLIVEIRA SILVEIRA (1941/2009), talentoso poeta gaúcho que, em 1971, através do grupo Palmares em Porto Alegre, identificou o 20 de novembro – morte de Zumbi -, como a principal data da comunidade negra no País, será homenageado no Encontro de Escritores. “Na primeira edição estaremos homenageando e constituindo o Grupo Oliveira Silveira. O grupo reunirá escritores e intelectuais para acompanhar e produzir textos, posicionando-se frente aos temas sociais.
É o momento para os escritores e intelectuais negros mobilizarem, e emprestarem a força da palavra, em relação as principais questões que atingem a comunidade negra: extermínio da juventude, desemprego de homens e mulheres negras, marcha das mulheres negras rumo à Brasília, cumprimento da Lei 10.639 e tantas e tantas pautas do Movimento Social Negro. O que desejamos é que nós, e também sou um militante do movimento, nos tornemos protagonistas. Com isso, também abrindo espaço e lutando por uma maior valorização da produção literária gaúcha”.
PRECONCEITO – A ideia do encontro, porém, não é unanimidade. “Já recebi observações, considerando o encontro como racista. Quero dizer que não sou racista. Pelo contrário. Só estou sendo afirmativo e estou trazendo um tema para que chame a atenção e promova a inclusão do autor negro. Não há nenhum objetivo racista ou separatista. Pelo contrário, quero que todos participem das plenárias e do encontro estadual. Principalmente os não negros que são parceiros de luta e caminhada. E queremos sim, chamar a atenção de toda a cadeia da produção literária. Queremos sim que o evento seja divulgado e que as editoras passem a ter mais curiosidade para conhecer aspectos e temas da cultura afro.
Em especial, sensibilizar nosso mercado editorial gaúcho. Sabemos que é baixo, o nível de leitura entre os brasileiros. Mas o Rio Grande se destaca. Os gaúchos lêem, em média, seis livros por ano, já os brasileiros mal lêem dois livros por ano. Observo que os negros lêem muito pouco, seja qual for o estilo e autor. A nossa produção não é conhecida pela comunidade negra. Por exemplo, porque a comunidade negra não se reconhece como autora e produtora de livros. Se você não se vê, você não se inclui”.
AUTOR Oscar Henrique ressalta que o Encontro tem promoção da ONG Grupo Multiétnico de Empreendedores Sociais, e parceiros como o Centro Universitário Unilassale e a unidade do SESC em Canoas. Em Pelotas, parceria com o clube Fica Ahí. Para o próximo ano, além do segundo encontro estadual em Pelotas, também o 1º Encontro Nacional de Escritores Negros do RS. Ele menciona sobre a sua trajetória literária: “Em cinco anos de produção literária, estou prestes a lançar mais um título. São ao todo oito títulos: ‘Nós’; ‘Entre Louvores e Amores’; ‘Cuidado! Palavra Viva’; ‘Coletânea Negras Palavras Gaúchas’; ‘Vó Cóia’; ‘A Pérola Mais Negra’; ‘Prosopopéia’ e ‘Chico’. Este último título será lançado na Feira do Livro de Porto Alegre e depois na Feira Cultural Preta em São Paulo. Mais três títulos estão prontos para serem lançados entre 2016 e 2017. Meu quarto livro, ‘Coletânea Negras Palavras Gaúchas’, onde apenas fui o organizador, recebeu o Prêmio Diversidade RS na categoria Cultura Negra. No trabalho, ineditismo de reunir 23 autores negros e não negros. Escritores que pensam com o olhar negro e o olhar negro inclusivo. Em agosto fiquei honrado por ser o patrono da Feira do Livro de Nova Santa Rita. Outra alegria é ver que meu sexto livro ‘A Pérola mais Negra’, será adaptado ao teatro em 2016”.