Trio Columbia e convidados no João Gilberto
Músicos de Pelotas e Rio Grande estarão reunidos para interpretar disco antológico do irrequieto jazzista Miles Davis
Por Carlos Cogoy
Às 21h desta quarta no João Gilberto – rua Gonçalves Chaves 430 – edição especial do projeto Diablues. Trata-se de tributo ao “camaleônico” Miles Davis, com a interpretação do disco “Kind of Blue”. Conforme Ana “Perê”, que está produzindo o show, em destaque a participação do Trio Columbia. No grupo, músicos de Rio Grande: Ivan Beck(baixo); Marcelo Galarça (piano); Gabriel Medeiros (bateria). Para reviver o instrumental do disco, eles serão acompanhados por músicos convidados. Estarão participando: Otávio DelleVedove (sax); Wilians Braz (trompete); Renato Nascimento (sax). Antecipado a R$15,00 pode ser adquirido no Studio CDs.
TALENTO de Miles Davis na observação de Otávio DelleVedove: “Miles foi um divisor de águas. Enquanto tínhamos Dizzy Gillespie, Charlie Parker, John Coltrane e Julian ‘Cannonball’ Adderley, com incrível destreza no instrumento e executando performances tecnicamente avançadíssimas, Miles surge totalmente focado na colocação individual de cada nota, com respeito e admiração profundos pela forma como cada nota soava e era colocada no todo.
Ensaiamos por cerca de um mês, pois são temas um tanto quanto curtos. Realizamos muitas sessões de improvisos para as quais o tempo de estudo e preparação são incomensuráveis, coisa de uma vida inteira. Tivemos o cuidado de respeitar ao máximo os arranjos originais do ‘Kind Of Blue’ durante a execução dos temas, afinal é um tributo e nos propomos a executar o álbum na íntegra. Mas ficamos livres para criar durante as sessões de improviso. O público sempre nos recebe calorosamente e muito bem. Em todas as três edições, foram os dias em que mais recebemos público no projeto semanal de jazz que desenvolvemos em Rio Grande”.
JAZZ – O saxofonista elogia a singularidade do jazz: “É necessário entender o jazz, suas sonoridades, a riqueza de elementos estéticos das mais diversas etapas de sua evolução. E isso tudo começa pela audição consciente, que sensibiliza à percepção da riqueza sonora. É gradual, constante e infindável. É o aprimoramento do sentido da audição. E a ampliação do interesse pelo gênero, se dá exatamente aí, estimulando o desenvolvimento do sentido auditivo, a audição consciente.
Em relação a tocar, é questão de identificação, ou seja, o interesse em se aprofundar na música e se tornar um profissional. Isto encaminha a sonoridades mais densas, mais elaboradas, através dos contratempos e dissonâncias que não se ouvem no atual produto musical distribuído pela mídia de massa. Por fim, o aprofundamento técnico acaba por apresentar diversos estilos, o que exige do músico uma maior destreza. Daí nos identificamos com o jazz e outros estilos musicais denominados ‘populares’, através dos quais nos expressamos musicalmente’”.
FESTIVAL de jazz ameaçado. Otávio avalia: “Participamos de todas as edições do festival, algumas tocando, outras prestigiando. É uma linguagem musical multidirecional onde o palco alimenta a plateia, que por sua vez alimenta aqueles que estão no palco.
E por isso é lamentável ver que isso pode não voltar acontecer em Pelotas, principalmente pela forma tão democrática como aconteceu em sua última edição, sempre de portas abertas, até mesmo com shows na rua, sem porta alguma. Perde-se a oportunidade de contribuir para a formação cultural do indivíduo, fechando a opção por música com elementos rítmicos, melódicos, harmônicos e poéticos riquíssimos, aproximando os instrumentistas e o público.
Enquanto isso, é despejado gratuitamente um produto mercadológico sonoro, forçosamente denominado como música por boa parte dos meios de comunicação de massa”.