Protesto repercute na UFPel
Nota Oficial da UFPel sobre manifestação no ICH
Diante da manifestação ocorrida na última segunda-feira, no campus das Ciências Sociais (CCS) da UFPel, a Administração Superior da Universidade vem a público informar sobre as ações realizadas pela Instituição e esclarecer sobre o ocorrido.
A HISTÓRIA
Há cerca de dois meses a Reitoria recebeu denúncia de que alunos da História tinham criado um grupo no whatsapp, o qual possuía forte conteúdo machista. No documento havia a listagem de nomes de acadêmicos e, imediatamente, foi constituída sindicância investigativa visando apurar a situação.
A Administração acredita que as discussões de gênero, nas mais diferentes esferas, são relevantes e reconhece a legitimidade da pauta do protesto, apesar de não concordar com a forma como o evento foi realizado.
Tal discussão é tão importante que, recentemente, no último ENEM algumas questões pautaram as discussões de gênero e violência contra a mulher.
O episódio demonstra a necessidade da comunidade acadêmica discutir as pautas motivadoras da manifestação: o machismo e as violências de gênero, doméstica, física, simbólica e sexual, bem como a culpabilização das vítimas, o que vem sendo feito não só em disciplinas curriculares, como em eventos os mais variados, no decorrer dos anos.
A mulher sofre diariamente com a opressão de gênero e, na maioria das vezes, estas agressões passam despercebidas por estarem naturalizadas na sociedade. Na UFPel estas questões são institucionalmente tratadas. Exemplo disso é a criação do Observatório de Gênero e Diversidade, que conta com a participação de diferentes setores da sociedade, a campanha “Pelotas sem Medo: todos juntos pelo fim da violência contra a mulher” e a participação no Conselho Municipal dos Direitos da Mulher.
INTERVENÇÕES DA ADMINISTRAÇÃO
Informados sobre a manifestação, em um primeiro momento, representantes da administração da UFPel estiveram no local, na expectativa de estabelecer um diálogo com o movimento.
Em seguida, foi chamada uma reunião com o diretor do Instituto de Filosofia, Sociologia e Política (IFISP), a diretora da Faculdade de Educação (FAE) e o diretor do Instituto de Ciências Humanas (ICH), unidades ligadas ao CCS. Durante a reunião, os diretores definiram, conjuntamente com a administração, por suspender as atividades acadêmicas noturnas para evitar confrontos e garantir a segurança das manifestantes e da comunidade acadêmica que utiliza o local. Tal medida foi acertada, tendo em vista que a manifestação se dispersou.
Cabe destacar também a visita ao local da presidente do Conselho Municipal dos Direitos da Mulher, da pró-reitora de Assuntos Estudantis da UFPel e da coordenadora do Observatório de Gênero e Diversidade da UFPel. A Comissão conversou com uma das organizadoras da intervenção, com o objetivo de conhecer as pautas da manifestação. Segundo ela, o movimento teve a intenção de chamar a atenção da sociedade para o machismo e a violência sofrida pela mulher.
Após esse conjunto de providências a manifestação foi encerrada.
ENCAMINHAMENTOS
A Administração está constituindo uma comissão especial para avaliar os fatos e propor os encaminhamentos devidos e cabíveis diante da importância da situação.
REFLEXÃO NECESSÁRIA
A Reitoria da UFPel manifesta a profunda convicção na defesa da universidade como um espaço de convivência democrática, baseada no respeito à diferença e pautada pelo reconhecimento da paridade de direitos. Tal concepção possui como pressuposto uma educação voltada para a diversidade e para os direitos do outro, no seu mais amplo sentido.
Dessa forma, a universidade deve se instituir como um espaço de respeito entre os diferentes grupos socioculturais, através de processos democráticos e dialógicos.
No entanto, o exercício da convivência democrática é um campo complexo e com muitos significados, assim como é o debate relativo à interação entre identidades e culturas diferentes.
Isto traduz a importância da manutenção, na Universidade Federal de Pelotas, do diálogo aberto, onde a multiplicidade de perspectivas em interação não podem e não devem ser traduzidas por um único modelo interpretativo dado como universal.
A necessidade histórica manifesta na diversidade das práticas sociais impõe o desafio do respeito às diferenças e a busca de respostas que não as anulem, no caso específico das diferenças de gênero, que devem ser acolhidas na universidade não pelo seu caráter distintivo e assimétrico.