MARCHA DAS MULHERES : Pelotenses na luta contra o racismo e violência
Núcleo de Educadoras e Educadores Negros de Pelotas (NEENPEL), esteve representado na Marcha das Mulheres Negras
Por Carlos Cogoy
Marcha com duração de três dias. Em Brasília, cerca de cinquenta mil participaram da “Marcha das Mulheres Negras 2015 / Contra o racismo e a violência, e pelo bem viver”. A caminhada com faixas, cartazes, camisetas coloridas e manifestações ao microfone, ocorreu no dia 18. Porém, desde o dia 16 houve a realização de agenda movimentada. Entre as representantes pelotenses, Ernestina Pereira (Sindicato dos Trabalhdores Domésticos), Yalorixá Sandrali de Campos Bueno, e a educadora Marielda Medeiros (Núcleo de Educadoras e Educadores Negros de Pelotas/NEENPel). Conforme Marielda, a programação teve inúmeras atividades: filmes; lançamentos de livros; rodas de conversa; debates no legislativo.
PARTICIPAÇÃO – Marielda acrescenta: “Trouxe na mochila uma experiência ímpar, o sentido para a construção possível de um mundo onde todas as pessoas possam conviver com equidade de direitos e dignidade. E considero possível semear esse modelo por aqui. Precisamos nos fortalecer e esta é uma experiência possível. Além disso, considero que temos, sim, de continuar investindo na educação para as relações étnico-raciais. E já tive o imenso prazer de estar presente em momentos importantes. Primeiro como professora que sou e, duas vezes, como gestora”. Na trajetória de Marielda, entre 2001 e 2004, com colegas da gestão municipal, participou do projeto “Quilombo na escola”. Já entre 2011 e 2014, integrando a então gestão estadual, coordenou o projeto “A cor da cultura” (Canal Futura), através da Secretaria Estadual de Educação. Ela salienta que, pela primeira vez, a iniciativa teve acolhida no governo gaúcho. Com isso, oportunizou a participação de muitos municípios.
Outro alerta que ecoou na Marcha, foi direcionado à violência contra a juventude negra. Marielda menciona que têm se tornado rotineiras as mortes violentas de jovens negros. No entanto, avalia, não se pode “naturalizar” a gravidade dessa realidade. No senso comum da sociedade brasileira, prevalece a concepção que compreende a violência como “é assim mesmo”.
DEBATES proporcionados por audiências públicas na Câmara e Senado, mobilizaram representantes de segmentos como: trabalhadoras domésticas; prostitutas/profissionais do sexo; artistas; profissionais liberais; trabalhadoras rurais; extrativistas do campo e da floresta; marisqueiras; pescadoras; ribeirinhas; empreendedoras; culinaristas; intelectuais; artesãs; catadoras de materiais recicláveis; iyalorixás; pastoras; agentes de pastorais; estudantes; comunicadoras; ativistas; parlamentares; professoras e gestoras. “Nas audiências houve cobrança em relação aos parlamentares. Com a reivindicação de posições progressistas e comprometidas na Câmara e Senado. A exemplo, a posição assumida por parte significativa da bancada de mulheres. Elas denunciaram que a atual formação reacionária do Congresso tem atentado, de forma violenta, contra os corpos, a saúde, os direitos e a autonomia das mulheres negras, por meio da promoção de discriminações, do ódio e desrespeito aos que diferem e discordam do fundamentalismo que domina a ‘casa do povo’”, diz a educadora pelotense.
CARTA das Mulheres Negras é documento que concluiu a programação da Marcha. Marielda observa: “O documento propõe uma série de ações e orientações para políticas públicas no campo do direito à vida e à liberdade; da promoção da igualdade racial; do direito ao trabalho, emprego e território. Direito à terra, moradia e à cidade; à justiça ambiental, a defesa dos bens comuns e a não-mercantilização da vida. Direito à seguridade social, à educação e à justiça”. A íntegra da Carta pode ser acessada no endereço eletrônico: geledes.org.br/carta-das-mulheres-negras-2015.