CONSCIÊNCIA NEGRA : Comitê debate excessos e violência racial
Por Carlos Cogoy
Escoriações na mão esquerda e manchas na região lombar direita. As lesões – constam no exame de corpo delito e boletim de ocorrência na Polícia Civil -, decorrem de ação que, ao invés de agressões, deveria ser elogiada. Afinal, a vítima dos excessos de servidores da segurança pública, retornava para casa ao sair de aula noturna no programa “Educação de Jovens e Adultos” (EJA), do Colégio Pelotense. Comerciário, aos 24 anos ele é responsável pela guarda de oito irmãos. O jovem negro, no entanto, não presumia que, há uma semana, seria alvo de chutes, pontapés e arranhões. Menos ainda que teria arma apontada à cabeça. A humilhação ocorreu à rua D. Pedro II – entre Deodoro e Santa Tecla -, e os agressores foram cerca de oito integrantes da Guarda Municipal e três policiais militares. William Barcelos da Silva está chocado, considera-se humilhado e exige justiça. Ele conta com apoio do Conselho de Participação e Desenvolvimento da Comunidade Negra de Pelotas, presidido pelo professor Fábio Gonçalves.
COMITÊ – Sábado no clube Fica Ahí houve o primeiro encontro para debater acerca da violência étnica. De acordo com Fábio, o objetivo é agregar aqueles que se opõem à sistemática violência que atinge a comunidade negra. Então, criação de instância para apoiar as vítimas e definir estratégias, desde educativas até em âmbitos jurídico e político, que possam garantir os direitos e cidadania da população afropelotense. Fábio observa que, tratando-se de instituições da segurança pública, alguns agentes públicos têm “maculado os órgãos”. São posturas marcadas por excessos e autoritarismo, decorrentes da falta de orientação em relação à questão étnica no Brasil. É o senso comum que considera “negro como bandido”.
CASO WILLIAM foi encaminhado ao Ministério Público, e o inquérito será acompanhado para que os agressores não fiquem impunes. A vítima acrescenta que, transitava em direção ao Porto, quando alguém passou correndo com bolsa embaixo do braço. Repentinamente, surgiu viatura da Guarda Municipal. E o jovem diz que não foi abordado, nem sua documentação consultada. Enquanto ressaltava que retornava da escola e, na mochila, constavam cadernos, ouvia ofensas e recebia golpes. Ele não foi identificado e, durante as agressões, conta que apenas pensava nos irmãos menores. Para piorar, três policiais militares chegaram ao local, e participaram dos excessos.
SENEGALESES – Durante a semana, além de William, Fábio também acompanhou os senegaleses cuja mercadoria foi apreendida no centro da cidade. Na ação de fiscalização do Executivo municipal, também houve excesso em relação aos africanos. No Ministério Público, casos foram apresentados aos promotores José Olavo Bueno Passos, Décio (criminal) e Rodrigo (cidadania). Além disso, os comandos – GM e BM – e corregedoria serão visitados. No apoio ao trabalho do Conselho e às vítimas, Fábio destaca os advogados Ana Paula Dittgen (GEMIGRA/UCPel), Antonio Carlos Rosa e Carolina Costa da Cunha.