Diário da Manhã

sábado, 16 de novembro de 2024

Notícias

PÁTRIA GRANDE : Versos livres na estrada do tempo

22 janeiro
09:32 2016

Disco “Canciones que nacen del camino” após lançamento em Jaguarão estará à venda em Pelotas

Por Carlos Cogoy

De mis raíces,  Pueblito de medio luto, A Carlitos, el noble, Yo nunca fui a la guerra, Pal’ ciego Labandera, Va un gaucho por el pueblo, Um poema escrito em sangue, Bajo la mirada de Don Alfredo, Flor de Ceibo, El puente de los bascos, Foi num desses dias, Al acecho, Meu nome é Martin Aquino, e Canciones que nacen del camino (poema sobre milonga). Repertório do disco “Canciones que nacen del camino”, que apresenta composições do brasileiro Martim César, com arranjos e interpretação do uruguaio Oscar Massitta. No lançamento que acontecerá nesta sexta às 21h no Teatro Esperança em Jaguarão, abertura a cargo do argentino Kolla Yupanqui. Três pátrias num grande encontro artístico-cultural. Ingresso a R$10,00.

PELOTAS terá lançamento em abril, e o local será a Bibliotheca Pública Pelotense. Antes disso, informa Martim César, o disco poderá ser adquirido no Stúdio CDs, parrillada Mercado del Puerto e restaurante Rincão Nativo. Na internet, encomendas podem ser feitas na loja virtual: minuanodiscos.com.br

PARCERIA reúne o músico uruguaio Oscar Massitta e o letrista e poeta jaguarense Martim César. Há dez anos, Massitta colocou melodia em letras de Martim, e as músicas foram apresentadas em festivais no Uruguai. Posteriormente, o uruguaio residiu em Jaguarão, e Martim também morou em Rio Branco. As vivências geraram canções

PARCERIA reúne o músico uruguaio Oscar Massitta e o letrista e poeta jaguarense Martim César. Há dez anos, Massitta colocou melodia em letras de Martim, e as músicas foram apresentadas em festivais no Uruguai. Posteriormente, o uruguaio residiu em Jaguarão, e Martim também morou em Rio Branco. As vivências geraram canções

HISTÓRIAS – Martim acrescenta sobre o trabalho: “O título é ‘Canciones que nacen del camino’, ou canções que nascem do caminho. É um complemento do CD ‘Memorial de campo’, que havia feito com o meu irmão Alessandro Gonçalves e que contava a história de personagens fronteiriços do lado de cá da linha divisória. Gente de campo e lugares que marcaram a minha trajetória e a de muitos que vivem por estas bandas. Agora, neste CD, ‘Canciones que nacen del camino’, eu procuro contar sobre personagens e lugares que estão do outro lado da linha divisória, mas aqui muito perto. ‘Canta a tua aldeia e serás universal’, nos diz Tolstoi. Então procurei, com a ajuda inestimável do melodista e cantautor Oscar Massitta, fazer um pouco disso. Contamos a história, por exemplo, de Martin Aquino, o último matreiro a cavalo do Uruguai; contamos a história da Posta del Chuy, um casarão levantado pelos bascos Etcheverry, que vieram da Ibéria lá por 1850, e que se fixaram a oitenta quilômetros de Jaguarão, criando uma ponte para passagem de tropas e diligências. Foi o primeiro pedágio do sul da América do Sul. Levantava-se uma corrente e as tropas e diligências passavam. Esses bascos trouxeram a cultura do trabalho em pedra, as alpargatas, as boinas e a criação de ovelha para a região. Contamos a história de um amigo Murguistas, Carlitos Noble. Contamos também a história do Pueblito de medio luto, ou povoado de Meio luto, perto do Passo do Centurião, no lado uruguaio do Rio Jaguarão. Ali resistem negros e brancos desde mais de um século, com suas casas à beira da estrada, com uma particularidade: os negros ficam na canhada, os brancos na coxilha, por isso ‘meio luto’”.

DISCO que está sendo divulgado, será o nono de Martim. Na trajetória também três que considera “artesanais”, com músicas que concorreram em festivais. Ele reconhece a internet como “território inevitável”, porém, salienta o valor da elaboração do disco: “Nós fazemos por meio físico, já que consideramos que a música é parte de um todo maior, pois a parte visual, fotografias, letras, capa, influenciam na hora de escutarmos uma canção. Mas, é claro, disponibilizaremos as canções”. Algumas faixas podem ser ouvidas online: martimcesar.com.br

YUPANQUI – Em relação à participação do filho de Atahualpa, Martim destaca: “Essa participação vem do encontro que tivemos lá no Cerro Colorado, em Córdoba, na comemoração dos cem anos de Atahualpa Yupanqui. Depois nos encontramos novamente na Califórnia da Canção e, quando começamos a criar o CD, resolvemos convidá-lo para a apresentação. Para fazer o texto que justificava a obra. Ninguém com mais identidade com a ‘pátria grande’ cultural que tanto sonhamos. Finalmente, depois do CD pronto, convidamos para que viesse fazer a abertura e expor as suas obras e do seu pai, o maior compositor de folclore da América do Sul, em nossa cidade. Ele aceitou gratuitamente. Esse convite sendo aceito já valeu o nosso CD. Estaremos nessa noite unindo as ‘três pátrias gauchas’ numa só. Por poucos instantes e, é claro, minimamente, uniremos no palco do Teatro Esperança, argentinos, uruguaios e brasileiros, em uma confraternização que recorda um pouco do sonho de Artigas, protetor dos povos livres, e do grande caminhador da nossa música: Don Atahualpa Yupanqui”.

Canciones que nacen del camino*

 

                        Que desbravam fronteiras…

                        Fronteiras políticas e – às vezes –

                        Idiomáticas. Mas nunca geográficas.          

                        A pampa de Atahualpa, de Osíris,

                        De Serafín J. García, de Jayme Caetano Braun.

                        Lugar de encontro e de miscigenação…

                        Miscigenação de lendas e de histórias.

                        Histórias que viraram lendas,

                        Lendas que viraram história.

                        Lugares onde Martin Fierro e Martin Aquino

                        Certamente se cruzaram.

                        Canções que nascem do caminho

                        Caminhos que trilharam os hermanos Saravia

                        Os bascos Etcheverry, Perico el bailarín,

                        Caminhos de Andresito, caminhos de Artigas.

                        Caminhos de tribos índias, dispersas pela cobiça

                        E pela intolerância estrangeira.

                        Caminhos de escravos fugidos

                        Das estâncias e charqueadas.

                        Caminhos perdidos pelas distâncias,

                        Distâncias mais de tempo que de espaço.

                        Lugares vigiados pela solidão

                        De cada vez mais taperas.

                        Moradas que abrigaram vidas…

                        Vidas que já se foram,

                        Mas ainda resistem em nós…

                        Em nossos costumes, em nosso canto,

                        Em nossa voz.

                        E é nesses caminhos,

                        Em meio a pueblitos de sestas largas

                        E de tempo passando lento,

                        Repletos de histórias e de memórias

                        Que nascem nossas canções.

                        Essa é a nossa herança!

                        Essa é a nossa identidade!

                        Somos frutos dessas mesmas raízes!

                        Nossas canções são sementes

                        Que brotaram nesses mesmos caminhos!

*(Poema de Martim César sobre milonga)

 

Notícias Relacionadas

Comentários ()

Seções