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domingo, 17 de novembro de 2024

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MÚSICA : Memória, terra e vida no som de Gottinari

31 março
09:04 2016

Com a música “O assombro dos sobrados”, pelotense Gottinari venceu a linha manifestação regional do 32º Reponte

Por Carlos Cogoy

Sem aceitar o presente, personagem preso a lembranças.  Questionamento acerca da terra que, ao invés de beneficiar a coletividade, prossegue sendo degradada para o lucro de minoria. Fronteira da vida, existência que finda ou revive noutro plano? Temas que estão na música vencedora do 32º Reponte – linha manifestação regional – realizado neste mês em São Lourenço do Sul. “O assombro dos sobrados”, autoria do compositor e músico pelotense Marco Gottinari – em parceria com Alan Otto Redu e Andriego Garcia Von Laer -, provocou surpresa na apresentação. No palco do Galpão Crioulo do Camping Municipal, Gottinari apresentou-se emoldurado num quadro. A cenografia foi recurso inusitado, e fez a diferença. No palco, o intérprete foi acompanhado pelos instrumentistas Daniel Zanotelli (flauta), Ottoni de Leon (contrabaixo), Rodrigo Santos (violão), Andriego Garcia Von Laer (violão de sete cordas), e Davi Batuka na percussão. Radicado em Caxias do Sul, Gottinari também mira a edição do festival Tafona da Canção em Osório. Além da música, prossegue ligado à agricultura ecológica.

Apresentação do músico pelotense no festival em São Lourenço

Apresentação do músico pelotense no festival em São Lourenço

REPONTE – O músico acrescenta: “Foi a primeira vez que enviei uma canção para o Reponte, e sabia da importância do festival para a música independente. A composição ‘Assombro dos Sobrados’ surgiu  há uns sete anos, e ficou com a letra incompleta até cerca de um ano atrás. Então, foi concluída num encontro com Alan Oto Redu e Andriego Garcia Von Laer, que aconteceu no antigo casarão do Templo das Águas na Colônia São Manoel. Não sei muito sobre esse negócio de ritmo, mas enviamos a música como Música Popular Gaúcha (MPG). Contudo, digo que é o ritmo certo para o que a poesia quer nos dizer. A sonoridade se caracteriza por ter a leveza de uma brisa passando pela força de um vendaval”. Sobre a o destaque no festival, ele menciona: “A premiação no Reponte com melhor música, e também melhor intérprete, veio para confirmar um dos meus dons: a música. Não tenho como mensurar através de palavras. Afinal, foi transcendental o momento da relação palco-plateia. Esse foi o meu maior prêmio”.

GRATIDÃO – “Desde a gravação do segundo disco ‘Tudo uma Canção’, aprendi e tenho escutado meu coração. Então, me oriento por sinais e intuições, ou seja, tento não atrapalhar minha caminhada, imaginando atalhos que me fariam chegar mais rápido. Mas chegar aonde? Creio que já estamos no lugar certo. O que nos falta é aceitar e estar agradecidos. Daí nosso caminho se transforma em jardim e nosso trabalho em brincadeira. Assim construímos a nossa felicidade que não é um lugar, mas um estado onde já não estamos mais sozinhos, e passamos a encontrar pessoas e lugares em comum. Isto me trouxe a Caxias, onde estou há quase dois anos. Moro na zona rural, continuo trabalhando com a terra, aprendendo sempre com a mãe natureza o óbvio. Tudo já está sendo feito, é só não atrapalhar”, diz Gottinari que planeja show em Pelotas na primavera.

TRAJETÓRIA com a música começou em 2004. O “dom”, como enfatiza, pronunciou-se após incêndio em galpões do espaço “Templo das Águas”, onde residia. Ano seguinte, show no Theatro Sete de Abril, que resultou numa gravação com sete músicas. Foram distribuídas 150 cópias, e Gottinari diz que não guardou nenhuma. Portanto, tornou-se raridade. Em 2007, disco “Interior”. Em 2011, disco “Tudo uma canção” integrando o projeto Outro Sul. Lançamento em 2013 no Guarany e também na Casa de Cultura Mário Quintana em Porto Alegre. Gottinari periodicamente visita os filhos em Pelotas. Atualmente tem participado da abertura de eventos ligados à cultura da paz, agroecologia e princípios veganos. Como projeto na música, novo disco, possivelmente também em vinil e DVD.

CENOGRAFIA da música premiada “Assombro dos Sobrados”, contribuiu para ressaltar a narrativa e causou impacto no público. Marco Gottinari iniciou a apresentação com a fisionomia emoldurada (Foto). Posteriormente, personagem deixou o quadro e, diante da plateia, cantou trajando branco.

MEMÓRIA – O músico explica acerca do recurso utilizado no festival: “A cenografia foi baseada na música que conta a história de alguém preso a suas lembranças. Então para continuar sua trajetória pós-morte, precisava libertar-se daquilo que o prendia a este plano. Para retratar essa temática optou-se por iniciar a interpretação com o personagem preso num quadro, evocando a decoração de um velho casarão”.

Marco Gottinari e prefeito Daniel Raupp Martins na premiação do Reponte

Marco Gottinari e prefeito Daniel Raupp Martins na premiação do Reponte

 

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