TERÇA COM MÚSICA : Show “Vuelo libre” com Vicente Botti
Nesta terça às 18h no pátio do Mercado Público, apresentação do compositor e músico uruguaio Vicente Botti
Por Carlos Cogoy
Os temperos musicais do uruguaio-pelotense Vicente Botti, poderão ser apreciados no Terça com Música. Compositor, músico e, talentoso na culinária, Botti esteve à frente de projetos como a banda “Pimenta Buena”, e espaços gastronômicos como “Fondo Blanco” e “Madre Mia”. No show “Vuelo libre”, mistura de ingredientes para novas canções. O “Terça com Música” é iniciativa da banca 42 do Mercado, conta com produção da equipe do “A vapor estúdio”, apoio de Seriarte e MC55, e financiamento do Programa Municipal de Incentivo à Cultura (PROCULTURA). ENTRADA FRANCA.
MÚSICA – Radicado em Pelotas há mais de quinze anos, Botti menciona sobre o show desta terça: “O ‘Vuelo Libre’ refere-se ao meu primeiro trabalho solo, embora acompanhado sempre de bons músicos. A banda do Vuelo Libre é composta pelo guitarrista Igo Santos que também assina a produção musical do disco, o baixista Fernando Silva, o baterista uruguaio Rodrigo Porciúncula, Nina Mayers no sax e backings vocals, e a participação de Eduardo Chaves no violão. O trompetista Júlio Boró não participará, mas integra o projeto. No show, um apanhado de músicas de cabeceira e algumas pendentes, não gravadas, desde a época da ‘Pimenta Buena’. São ritmos como murga, candombe e tango, misturando-se constantemente com bossa, bolero e rock, fazendo alusão à internacionalidade e integração com essa identidade do cone sul. Nos bastidores é importante frisar que o projeto conta com Nativu Design, Cia. dos Técnicos, Batuka e Dhyan, Chico Maximila, Deny Barbosa e Pablo Conde, respectivamente, design, som, estúdio, vídeo, foto e arte”.
VUELO LIBRE já foi apresentado no Festival Instrucciones de Melo no Uruguai, Musicanto em Santa Rosa, edição do “Sofá na Rua” em Pelotas, bem como em versões adaptadas no Madre Mia e “Atelier Coletivo” em Bagé. Em julho será apresentado no Theatro Esperança em Jaguarão, onde o então adolescente Vicente residiu com a família. De acordo com Vicente, o disco será lançado em dezembro. Além do “Vuelo Libre”, ele também tem outras performances: “Tenho vários projetos na música, raramente toco solo, principalmente porque considero a música como o futebol, isto é, tem que ser coletivo. Adoro dividir o palco e isso é uma marca registrada, não teríamos espaço para relacionar com quantos músicos já toquei. Entre os projetos mais importantes destaco o ‘Totalmente Acústico’, que faço com a saxofonista Nina do ‘Vuelo’. Tocamos desplugados e fazemos tours em formaturas e bares. Também o ‘Vicente Pimentero y La Trip Latina’, projeto com músicos da fronteira dedicado ao rock. Começou como pura diversão, mas tá ficando sério, e temos uma agenda frenética”. Contatos: [email protected]
Músico autodidata
Uruguaio de Montevidéu, Vicente conta que a mãe foi modelo e participava da vanguarda artística. Em casa, ela escutava desde o candombe uruguaio até o funk dos anos setenta. Aos sete anos, Vicente venceu concurso de canto. Autodidata, foi aprendendo a tocar violão. Adolescente, observava as bandas de baile e cantarolava ao lado do palco.
Na infância, acompanhou a família que veio morar na fronteira que une Rio Branco e Jaguarão. No período, integrou grupos como “Druídas”, “Los Pickles”, “Cetus”, “Efeitos colaterais”, “Primitivos” e “Clássica Rock”. No “toca-fitas” escutava Santana, Led Zeppelin, José Feliciano, Ruben Rada, Gilberto Gil, Michael Jackson, Stevie Wonder.
Noite foi etapa profissional do músico. Nos bares, interpretava The Doors, Legião e Guns N’Roses. Mas, inquieto e criativo, logo compôs a primeira música “Muerto Estoy” em 1993. Ele estava com dezoito anos, e até hoje a interpreta. “Morei em Porto Alegre durante cinco anos, já adolescente e cheguei a Pelotas por volta do ano 2000, para estudar Turismo. Aqui me apaixonei por tudo que havia na cidade, principalmente pela efervescência cultural, e vi que podia ancorar meus projetos. Além disso, onde há amor, a vida presenteia, e ganhei o meu filho Gael. Desde então, são vários projetos, seja como autor ou colaborando. Alguns: Cult Festival; Pelotas Jazz; Poesia no Bar; Relax Preview; Madre; Fondo; Moviola”.
Talento na gastronomia
A culinária está arraigada na cultura do Uruguai. E Vicente menciona que é natural, desde a infância, acompanhar pais e avós na cozinha. Outro aspecto é que a gastronomia tem sido a sobrevivência de muitos imigrantes uruguaios. E exemplifica com as parrilladas, confeitarias, padarias e café, que muitas vezes contam com uruguaios.
Para Vicente a cozinha é, em muitos momentos, o principal ganho mensal. Mas, destaca o “gourmet”, o que move sua dedicação é a possibilidade de novos amigos. E foi assim que criou o bistrô “Fondo Blanco” em Pelotas, para compartilhar experiências. Com o sucesso, recebeu convites para outros projetos, entre os quais uma sociedade no “Madre Mia”. “Até hoje o Madre Mia é uma referência que vai além da gastronomia, abrange muitas culturas e isso me orgulha demais. Entre outros projetos cozinho em casa de ex-clientes, hoje amigos, levo minha cozinha para festas das mais diferentes classes e segmentos da sociedade”, ressalta.
APRENDIZADO na cozinha. “Digo que minha cozinha é ‘mundi-cultural’, pois além dessa escola familiar sempre fui muito curioso e aprendi desde comida vegetariana, passando pela nordestina e assim por diante. Parcerias como Madre Mia, do qual fui um dos fundadores e o relacionamento com essa nova geração de cozinheiros me propiciaram ampliar meus horizontes. Hoje participo de um projeto de vídeo onde fazemos tudo na parrilla e, em breve, estará disponível para compartilhar. Para mim, o grande segredo da gastronomia é não ter segredos, mas compartilhá-los. De nada vale a experiência se não compartilhada”, salienta Vicente que, brevemente, abrirá dois empreendimentos na fronteira. Do lado brasileiro, um clube gastronômico. Do lado uruguaio, na área de hotelaria.
Pimenta Buena
Entre 2007 e 2012, Vicente foi letrista e vocalista da banda Pimenta Buena. Na trajetória, dois discos: “Pimenta Buena” (2008); “Nada Original” (11). Neste ano, em novembro, para assinalar o que seria o nono ano, haverá dois shows da Pimenta Buena. Serão apresentações comemorativas em Pelotas e Jaguarão, com gravação ao vivo.
AUTORAL – Vicente observa: “A Pimenta Buena é o nosso sapatinho de cristal. Foi e é o projeto mais lindo, apaixonante e incrível do qual participei até agora. E o lançamento do ‘Vuelo Libre’ vem com essa mesma gana e essência. Nesses precoces cinco anos, a banda mexeu na cena cultural da cidade e levou o nome de Pelotas e do Uruguai a diversos lugares do Mercosul, chegando, através das redes a outros lugares do mundo. No Peru, por exemplo, tinha banda tocando músicas da Pimenta. O grupo surgiu da união de três amigos que hoje são irmãos. A química foi perfeita, pois nossas influências casavam perfeitamente. O Daniel, baixista, trazia toda a minúcia dos grandes baixistas da contemporaneidade, o André na bateria, músico completíssimo, uma praia gigantesca de música brasileira e ritmos continentais. E o João, nosso maestro, filho do violão clássico e com nuances metaleiras, todos os ingredientes para ir além daquilo que se escutava. Quando eu entro, com aquela teatralidade das músicas do Prata, abriu-se uma nova oportunidade de fazer som. Então, vestidos de jazz e munidos de Pop, como dizíamos em nossos releases, conquistamos corações de todas as idades e procedências musicais. Dali chegamos a fazer dez shows por mês. Tocamos com Leindecker, Xavier, Ramil, Crocco e por aí vai. Era, foi, é, e será sempre um sucesso. Para o segundo disco tivemos uma baixa, o Daniel saiu, talvez por não aguentar os compromissos e a pressão do projeto e entrou o Ottoni, grande baixista da cidade. Em 2012 paramos, precisávamos conter a ansiedade e as frustrações que naturalmente sofre uma banda em ascensão. Fomos humildes, demos um passo para o lado”. Músicas podem ser conferidas no Youtube.
GRATIDÃO – Vicente expressa: “Fico agradecido com meu público, que sempre foi fiel e sabe o amor que dedico as coisas que faço. Os amigos que faço são meu motor, dou-lhes amor em forma de música e de bons momentos. Esse é o legado principal que queiro deixar à posteridade. Quero gravar muitos discos e, enquanto vivo, passar adiante essa energia que nos move”.