CULTURA AFRICANA : A Costa do Marfim mostra seu ritmo
Percussionista, dançarino e ator Loua Oulai, tem apresentado a cultura da Costa do Marfim em escolas e universidades
Por Carlos Cogoy
Mais de trinta países, tocando, residindo, trabalhando, ou desenvolvendo ações voluntárias. Além do francês – idioma oficial da Costa do Marfim -, noções de inglês e a conversação em doze línguas africanas. Há cinco meses no Brasil, demonstra facilidade para apreender o português. Além da fala, também já escreve o básico no idioma que geralmente desafia estrangeiros. Para o artista marfinense Loua Pacom Oulai, não se trata de talento mas consequência da formação cultural. Conforme explica, na África a educação pela oralidade remete à aprendizagem como interligação natural. Assim, aprender é conexão de informações, numa evolução que flui sem a fragmentação em saberes. Um pouco da cultura africana, através das oficinas de percussão, bem como as aulas de dança tradicional, que tem sido compartilhada por Loua na estada gaúcha. Receptivo a convites, tem visitado escolas, universidades e participado de apresentações musicais. Conforme ressalta, admirador do Brasil, tem vontade de permanecer no País. Contatos com Loua: (53) 8438.6664. No WhatsApp: 00238 936400. E-mail: [email protected]
FORMAÇÃO – Ele é licenciado em música e musicologia na Université de Cocody. E Loua também cursou teatro e dança no “Institut National Supérior des Arts et de l’Action Culturelle” (INSAAC/ENTD). No Ballet Nacional de Abidjan, atuou como percussionista. Além disso, durante três anos, estudou ciências médicas. A base da formação artística, no entanto, ocorreu em família: “A arte e a música fizeram parte do meu cotidiano, o que é muito comum à realidade africana. Meu avô foi um dos primeiros percussionistas do oeste da Costa do Marfim. E a minha mãe foi uma das melhores vozes, bem como bailarina tradicional da sua região. Na infância, aprendi a tocar com o meu avô. Ele falou que, ainda na barriga da minha mãe, eu já tocava. Ao chegar no liceu, no entanto, parei de tocar. Mas no instituto de arte, escolhi a percussão como instrumento de estudo. Daí sou percussionista, dançarino e ator”.
VIVÊNCIAS – Natural de Man, sua família é do interior. Loua tem cinco irmãos e, em setembro, completará 29 anos. Criado por tio em Tengrela, deixou o oeste da Costa do Marfim, passando a residir ao norte, onde cursou a escola primária. O liceu, ou secundário, foi ao sul em Abidjan. Conforme explica, no país são setenta grupos linguísticos. “Cada grupo tem sua maneira de pensar e viver culturalmente”, acrescenta. Então, observa Loua, sua formação, além dos cursos acadêmicos, também foi nas “vivências proporcionadas pela escola da vida”. Aos treze anos, passou a tocar com os amigos. Em bares ou na rua, ganhava o sustento para vestuário e alimentação. “Foi uma experiência muito legal. Aprendi a viver e viajar, sem pedir ajuda a ninguém. Em muitos locais, trabalhei como voluntário em projetos sociais”, diz o percussionista que, em Pelotas, colaborou com a gestão da ONG Anjos e Querubins no bairro Getúlio Vargas (BGV).
PELOTAS – Loua tem ministrado cursos em Pelotas. Sua vinda, conforme menciona, ocorreu através do líder comunitário e ativista cultural Giovane Lessa, um dos idealizadores da retomada da Frente Negra Pelotense. Assim, desde o fim de março, quando houve a inauguração do Centro Cultural Marrabenta – iniciativa que conecta Brasil e África -, Loua tem permanecido durante períodos em Pelotas. Com isso, e o apoio de amigos como Vinicius Britto Moraes – integra a coordenação do Marrabenta -, Loua tem participado de inúmeras atividades na região. Na área da educação, esteve palestrando em São Lourenço do Sul e Candiota. No Cassino em Rio Grande, tem sido convidado para apresentações e oficinas com o instrumento “Djembe”. No Marrabenta, ministrou oficinas de percussão.
RACISMO – Questionado se sofreu preconceito racial no Brasil, ele responde: “Não tenho tempo para ligar a quem não sabe que somos todos iguais. Eu não tenho problema com ninguém. Para solucionar um pouco disso, tenho realizado algumas palestras”.
DJEMBÊ é um dos instrumentos de percussão que Loua tem apresentado em variadas oficinas e eventos. Em Porto Alegre, tem desenvolvido oficinas em locais como o espaço multicultural “Aldeia”, Instituto de Artes da UFRGS, Afro-Sul Odomode, Ponto de Cultura Espaço Escola Áfricanamente e grupo “Três Marias”.
Na praia do Cassino tem participado de edições do “Djembe Fusão”, quando compartilha sua arte com artistas riograndinos. Em Pelotas, recentemente esteve participando de apresentações do “Satolep jazz”, bem como ensaios com o percussionista Davi Mesquita Batuka.