EXPOSIÇÃO : O cotidiano desigual em pinturas e fotos
Nesta quarta às 19h, abertura da mostra “Mendigo contemporâneo” no espaço Chico Madrid da Sociedade Sigmund Freud
Por Carlos Cogoy
Doze milhões de desempregados, empresas à deriva, incremento da violência urbana. Um “presidente” sob questionamento. A realidade brasileira tem agravado a desigualdade social. Nas ruas, calçadas, sob marquises, eles se acomodam sobre papelões. Os brasileiros-indigentes, estão numa das pontas do sistema que segrega e exclui. Em Pelotas, o cotidiano escancara a pobreza.
Mas, nem todos conseguem ver. Uma pesquisadora, no entanto, sensibilizou-se com o drama dos moradores de rua. Ela conta que, diariamente, deslocando-se entre 7h e 7h30min, foi prestando atenção nos indigentes, locais de pernoite e os apetrechos que carregam. Integrante do grupo de pesquisas em poéticas visuais “Deslocamentos, Observâncias e Cartografias Contemporâneas” (DESLOCC/UFPel), a engenheira agrônoma Mariane D’Ávila passou a fotografar pelotenses que amargam o cotidiano nas ruas. Consultando docentes do Centro de Artes (CEARTES/UFPel), ela soube que a temática “Pessoas em situação de rua”, tem sido recorrente na história da arte. Numa rede social, a pesquisadora criou grupo e sugeriu o tema para amigos e artistas. Em sete dias, ela recebeu adesões, ideias e obras. Dezesseis criações estarão na exposição “Mendigo contemporâneo”. A abertura será hoje às 19h no espaço arte Chico Madrid, situado na Sociedade Científica Sigmund Freud – rua Princesa Isabel 280 conjunto 302.
PARTICIPANTES – Além de Mariane D’Ávila, estão participando: Anjos Ilha; Bruna Silva; Eduardo Devens; Folha; Graça Gulart; Helcio Oliveira; Ingrid Moraes; Jefferson Silva; Marta Dutra; Midiã Reichow; P.V.K.; Raquel Trindade; Sônia Gamino; Theo Gomes e Vanice Silva. Às 20h, palestra “Pinturas murais de Aldo Locatelli na catedral de Pelotas”, que será proferida pela arquiteta e artista plástica Maria Alice Kappel Castilho.
Artista-cidadão para questão social
O limite é frágil. Arte enfocando a pobreza, tanto pode soar panfletária, quanto piegas diante de realidade sofrida. O desafio, diz a organizadora Mariane D’Ávila, é instigar o “artista-cidadão”. E a perspectiva é contribuir com a questão social.
SOLIDARIEDADE – Mariane observa: “A temática é delicada, muito delicada, mas acho que, como artista-cidadão, temos que mostrar também como a arte pode ser o mote para auxiliar em questões sociais. Não podemos fechar os olhos para essa problemática, e utilizar a arte apenas como algo lindo e colorido. Olhando as imagens da exposição, confio que algumas pessoas poderão pensar nalguma forma de auxílio. Então, que não sejam apenas imagens afixadas na parede mas, de alguma forma, criações que possam colaborar para minimizar questões sociais. À arte é muito importante o exercício da função social. Porém, a pesquisa e as imagens não têm enfoque de denúncia ou problematização, nunca houve esse propósito. Nem há uma exploração da pobreza, apenas tento mostrar o que a sociedade aparentemente ‘descarta’ ou ‘faz de conta’ que não vê. Acho que cada um pode auxiliar. O artista pode e deve exercer seu papel social sempre”.
GRATIDÃO – Mariane agradece o apoio de Eduardo Devens – departamento cultural da Sigmund Freud -, que teve a iniciativa de sugerir a exposição. Ela acrescenta que a pesquisa ainda requer amadurecimento e, entre os objetivos, está a itinerância da coletiva.