Termina hoje prazo dado pelo MEC para que estudantes desocupem escolas
Termina hoje (31) o prazo dado pelo Ministério da Educação (MEC) para que os estudantes deixem as escolas, universidades e institutos federais ocupados em protesto contra medidas tomadas pelo governo federal. Caso isso não ocorra, o Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) será cancelado nessas localidades.
De acordo com o último balanço da União Brasileira dos Estudantes Secundaristas (Ubes) são 1.177 locais ocupados em todo o país. Não há um balanço nacional oficial. Os números locais, no entanto, são diferentes. É o caso do Paraná, por exemplo, onde a Ubes diz que há 843 estabelecimentos. enquanto a Secretaria de Educação fala em 491.
Conforme o último balanço do MEC, divulgado há quase duas semanas, 182 locais de prova estavam ocupados e mais de 95 mil candidatos deveriam fazer o exame nesses espaços.
Os estudantes que fazem as ocupações são contra a Proposta de Emenda à Constituição (PEC) 241/2016. A PEC limita os gastos do governo federal pelos próximos 20 anos. Estudos mostram que a medida pode reduzir os repasses para a área de educação que, limitados por um teto geral, resultarão na necessidade de retirada recursos de outras áreas para investimento no ensino. O governo defende a medida como um ajuste necessário em meio à crise que o país enfrenta e diz que educação e saúde não serão prejudicadas.
Eles também são contra a reforma do ensino médio, proposta pela Medida Provisória (MP) 746/2016, enviada ao Congresso. Para o governo, a proposta irá acelerar a reformulação da etapa de ensino que concentra mais reprovações e abandono de estudantes. Os alunos argumentam que a reforma deve ser debatida amplamente antes de ser implantada por MP, que começa a vigorar imediatamente.
De acordo com o MEC, o prazo dado “é para que ainda haja tempo hábil para realização das provas nos locais. Caso as ocupações sejam mantidas, prejudicando os alunos que fariam prova nesses locais, o Inep [Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Aníseio Teixeira] terá de fazer a prova em outra data para aqueles estudantes que não conseguiram. Não há data definida porque o MEC ainda aguarda que o bom senso prevaleça”, diz o ministério por meio da assessoria de imprensa.
Estudantes mantém ocupação Colégio Pelotense
Integrando-se a mais de mil escolas ocupadas no País, alunos do Pelotense protestam contra as medidas neoliberais do governo Temer
Por Carlos Cogoy
Em vinte anos, a estimativa é que a população brasileira aumente em vinte milhões. Com o congelamento de investimentos públicos, conforme estabelece a Proposta de Emenda Constitucional (PEC) 241, faltarão recursos para o atendimento digno em áreas como saúde e educação. Com isso, maior exclusão e pobreza. Enquanto o governo continuará pagando juros da dívida, beneficiando investidores, a população terá de sobreviver com menos leitos em hospitais, restrição nos concursos, diminuição de vagas, laboratórios, bolsas de pesquisa e programas assistenciais nas universidades públicas. Paralelamente, a Medida Provisória – antidemocrática, pois sem debate com os segmentos representativos da área da educação -, pretende transformar o ensino médio num adestramento para mercado de trabalho cujos direitos também serão atingidos. Outro aspecto é que a MP terceiriza a gestão escolar através das “organizações sociais”, eufemismo para não considerar abertamente como privatização. Observações do grupo de pais, professores e alunos que, sábado à tarde, na calçada, acompanhavam os primeiros momentos da ocupação do Colégio Municipal Pelotense (CMP). A ação havia sido deliberada em assembleia dos estudantes durante a semana. Assim, no começo da tarde de sábado, alunos pularam o muro à avenida Bento Gonçalves e ocuparam o “Gato Pelado”.
SEM AULA – As dezenas de alunos formaram comissões para diferentes atividades. Entre os compromissos, conforme divulgam, está o zelo pelas instalações. No fim de semana, grupo organizou o espaço, realizou assembleia e recebeu apoio da comunidade escolar. Em destaque, a presença de alunos do IFSul, ocupado há quinze dias – ato histórico na trajetória da instituição -, que à frente do Pelotense, gritaram palavras como: “Ocupar, resistir”; “Fora Temer”. O IFSul, de acordo com decisão judicial, terá de ser desocupado. Já a segunda-feira no Pelotense, informam os integrantes da Ocupação, será sem aulas. Porém, estarão sendo organizadas atividades de esclarecimento sobre o impacto das medidas na juventude e maioria da população. A também designada “PEC da maldade”, atingirá – mais cedo ou mais tarde – a quase totalidade dos brasileiros.
Autonomia na mobilização
Em nota os alunos da Ocupação no “Gato Pelado” acrescentam: “A manifestação é única e exclusivamente organizada pelos alunos e para os alunos, e sem nenhum viés partidário, estando previsto no Regimento da Ocupação que não serão aceitas pessoas com qualquer vínculo a partido político. O movimento é o exercício do nosso direito enquanto cidadãos, enquanto seres com senso crítico”.
CARTAZES estão afixados nas portas de acesso ao colégio. Algumas das mensagens: Sem expressão, não há educação, contra a Lei da Mordaça; Não vai ter PEC, vai ter luta; Não é favor nem caridade, queremos direito à educação de qualidade; O Estado não pode dar educação, porque a educação derruba o Estado; Nada é tão contagioso quanto o exemplo; Educação não é mercadoria; Ocupando o que é nosso; Não deixe privatizar o que é seu; Todos pela educação, menos o governo; Somos o presente e o futuro; Notório saber não significa nada, se não existir didática; Mãe e pai, tô na Ocupação e, só pra saberem, eu luto pela educação; Desculpe o transtorno, estamos revolucionando.
Manifesto da Ocupação no Pelotense
Contra as medidas neoliberais, isto é, que prestigiam as relações de mercado, estudantes da Ocupação CMP frisam que, saúde e educação insatisfatórias, poderão ser acessíveis mediante o pagamento à iniciativa privada. Para expressar o posicionamento da ocupação, nota está afixada à entrada do colégio.
Trecho do manifesto: “A PEC congela investimentos em educação, saúde e segurança. Podendo sucatear as universidades públicas, os hospitais públicos e os prédios da segurança pública. Indo de encontro a um possível desenvolvimento saudável das futuras gerações. Contrariando, também, o artigo 3º da Constituição que diz: construir uma sociedade livre, justa e solidária; garantir o desenvolvimento nacional; erradicar a pobreza e a marginalização e reduzir desigualdades sociais e regionais; promover o bem de todos, sem preconceitos de origem, raça, sexo, cor, idade e quaisquer outras formas de discriminação”.
REFORMA do ensino médio e o projeto “escola sem partido”, também são avaliados no manifesto: “A reforma do ensino médio vai, em conjunto com a PEC, sucatear principalmente as grandes escolas como o próprio Colégio Municipal Pelotense. Com o congelamento dos investimentos e cortes de verba, as qualidades de ensino e da aprendizagem podem vir a cair e em seguida entrar em colapso. O projeto de Lei 192/2016 ‘Escola Sem Partido’, visa impedir a formação de um senso crítico. É um projeto tendencioso que, alegando um apartidarismo, procura na verdade censurar várias vertentes de pensamento. O movimento acredita que essas três medidas que o governo quer tomar são muito ruins para o estudantes, professores, funcionários, trabalhadores, pais, para a sociedade e seu futuro”.