Experimento poético “O melhor esconderijo”
Hoje, amanhã e sexta às 18h, apresentações de experimento que integra pesquisa sobre teatro e autismo. Entrada franca
Por Carlos Cogoy
No primeiro quadro, personagem exercita a oralidade, expressando-se em inglês, francês, alemão, espanhol e português. Conforme o professor Adriano Moraes (UFPel), que dirige o experimento poético “O melhor esconderijo”, importa menos a mensagem do que a prática de verbalizar. O quadro é síntese de experimentos realizados entre 2012 e 16, cuja ideia é pesquisar teatro e autismo. A proposta está formalizada desde 2015, com o título “Experimento poético e autismo: análise de impacto na aquisição da linguagem teatral”. Nos segundo e terceiros quadros, personagem interpretado pelo ator Carlos Eduardo Pérola, recorre a rituais do teatro da crueldade do francês Antonin Artaud (1896/1948). O experimento terá sessões hoje, amanhã e sexta, sempre às 18h. Como local o Teatro Experimental do Grupo de Estudos e Pesquisas sobre Processos Criativos em Artes Cênicas (GEPPAC/UFPel) – sala 306 do bloco 1 do Centro de Artes (CEARTES). A entrada é gratuita, mas o trabalho não é recomendado para crianças. Reservas no email: [email protected]
AUTISMO – O professor Adriano Moraes explica: “O objetivo geral da pesquisa é avaliar o impacto que o experimento poético pode ter na aquisição da linguagem teatral de uma pessoa com transtorno do espectro do autista, o TEA, mais especificamente as características da síndrome de Asperger. No experimento poético o procedimento mais importante é a instalação do sujeito principal da ação no teatro, isto é, o ator, a atriz, no lugar central do processo criativo. Ao assumir o papel central da criação, cabe ao ator agir sobre formas selecionadas, textos, situações, imagens, em função de seus interesses pessoais. O diretor, assim como o autor e outros artistas integrantes de um acontecimento teatral, trabalha em consonância com as necessidades do intérprete, provenientes de suas ações sobre determinadas formas. ‘O melhor esconderijo’, terceiro experimento apresentado publicamente dessa pesquisa, parte do desejo do ator Carlos Eduardo Pérola em se expressar com fluidez, uma vez que a expressão oral é a maior das dificuldades que ele enfrenta no dia a dia em função do autismo, mas, também, do desejo de fazer os espectadores compreenderem as dificuldades de qualquer sujeito em se expressar num ambiente cultural de autoritarismo e de ‘bom tom’”.
LINGUAGEM – O diretor menciona sobre o experimento: “O segundo quadro do experimento, foi motivado por uma questão que permeia a pesquisa, ou seja, qual o impacto que a experiência com poéticas teatrais e, mais especificamente, a expressão corpo-vocal organizada com princípios teatrais, tem sobre o dia a dia de um autista. Todo o quadro é organizado a partir de estados de ânimo do próprio ator, e os trechos de texto são ditos a partir de cada um dos estados. No último quadro a palavra ganha novamente um foco central, no entanto, cada trecho do excerto de texto ‘Para acabar com o julgamento de Deus’, também de Artaud, é dito a partir de referências de tipos sociais, tais como ‘o político’, ‘o pastor’, ‘o poeta’. A ação física é construída a partir da manipulação de adereços e figurinos”.