CONEXÃO COLÔMBIA : Um pelotense na trilha de Pablo Escobar
Estudante Otávio Amaral, ao participar de estágio na Colômbia, esteve em Medellín para saber mais sobre Pablo Escobar
Por Carlos Cogoy
Em 2016, três meses na Índia. Neste início de ano, dois meses na Colômbia. Acadêmico de direito na UCPel, Otávio Amaral também cursa Relações Internacionais na UFPel. Através do intercâmbio “Global Citizen”, ele tem desenvolvido estágios no exterior. Conforme relata, inicialmente a viagem deste ano seria para Jamaica. Porém, a disponibilidade seria julho. Diante disso, o pelotense optou pela Colômbia. Ele explicar: “A escolha pela Colômbia foi feita em razão do trabalho, o qual foi realizado na Secretaria Distrital de Integração Social de Bogotá, na Subseção para Assuntos LGBTI. Como tenho foco em pesquisa acadêmica na área da evolução dos direitos LGBT no mundo, escolhi o destino tendo em vista o trabalho que seria diretamente com a população LGBT marginalizada de Bogotá. Em especial, transexuais que se encontram na prostituição”. Durante a estada, alguns dias foram reservados para visitar Medellín, e identificar rastros da história do narcotraficante Pablo Emilio Escobar Gaviria (1949/1993). Em período recente, a história de Escobar tem despertado interesse, pois livros e minisséries têm narrado as inúmeras peripécias e ações do narcotraficante que chegou a faturar US$ 1 milhão por dia. Otávio esteve no bairro criado por Escobar, entrevistou moradores que ganharam casas no local, e visitou a famosa “Hacienda Napoles”, que atualmente é parque temático.
ESCOBAR é repudiado pela maioria dos colombianos, que evitam o tema. Em Medellín, no entanto, é reverenciado pelos mais pobres. “Fui até o bairro fundado por ele, na periferia da cidade, onde encontrei pessoas com as quais pude conversar e elaborar entrevistas. O dono de um pequeno comércio onde se alugam lavadoras, hábito muito comum na Colômbia, me levou para conhecer não só o bairro inteiro, mas também a casa onde Pablo foi morto pelos policiais americanos, seu esconderijo e cemitério, onde toda a família está enterrada. Em Bogotá, quando começava a tentar conversar sobre Pablo e o narcotráfico colombiano, as pessoas desviavam do assunto, e diziam que ele não era um colombiano. Para muitos é considerado como o grande vilão da história colombiana. Entretanto, quando cheguei ao bairro, conheci pessoas que me disseram que, desde a morte de Pablo, o bairro tem mudado muito. Em especial, conheci casal de idosos que trabalhava com ele. Pablo construiu centenas de casas. Seu Francisco e a senhora Irene moravam na primeira casa construída por ele, a qual serviu de depósito e escritório para toda a empreitada. Ela foi amiga de Hermínia, mãe de Pablo, e ele assessorava o patrão com a divisão dos lotes e distribuição das casas. De acordo com seus relatos, havia uma lista na qual as pessoas se inscreviam para serem contempladas com uma casa. Além disso, Pablo também é conhecido por ter construído uma escola no bairro, e dar tratamento de saúde para várias pessoas que necessitavam”.
HACIENDA Napoles foi transformada em zoológico e parque aquático. As referências a Escobar foram banidas, excetuando o Museu de Memórias, que reúne notícias sobre as ações violentas do narcotraficante. Visitando o local, Otávio conta que não percebeu quando “Popeye”, um dos principais integrantes do grupo de Escobar, e já em liberdade, passou ao lado. Ele foi avisado pelo guia, mas ao tentar avistar não localizou.
Palestra de Otávio no Pelotense
Colômbia: História, Direito Constitucional e Políticas Públicas LGBT. Tema da palestra de Otávio Amaral ao final de março no Colégio Pelotense. Na programação comemorativa aos 25 anos do Curso Normal do Pelotense, ele abordou diferentes aspectos da vivência na Colômbia.
Sobre o convite, expressa: “O Curso Normal do Pelotense está completando 25 anos e, infelizmente, não tem a devida valorização da comunidade. É um curso de extrema essencialidade. Forma educadores há mais de vinte anos e são essas pessoas que vão formar futuros cidadãos. Se queremos conquistar mais direitos, é fundamental que tenha uma maior valorização dos professores da educação básica. Profissionais que são formados pelo Curso Normal. Me traz muita felicidade poder compartilhar experiências com esses estudantes, que estarão daqui uns dias nas escolas dando informação e conhecimento às crianças. Também chegará aos familiares e amigos. Com isso, uma cadeia informativa que proporciona a evolução através dos saberes”.
Trabalho na Colômbia
Entre os contrastes proporcionados pelo período na Colômbia, o estudante Otávio Amaral observou que o serviço público é majoritariamente terceirizado. O vínculo do trabalhador é frágil, numa relação precarizada.
O Brasil está à mercê da terceirização. O estudante de direito avalia: “Na Colômbia, a maioria dos funcionários públicos, é terceirizada. O vínculo é como prestador de serviço. Então, estabilidade e férias, direitos até então vigentes no Brasil, não existem por lá. Os contratos duram dez meses, sendo posteriormente renovados. Há um tempo dispendido a cada início de ano, para os contratos trabalhistas e a locação de prédios para o serviço público. Não há nenhuma garantia de férias remuneradas nem previdência social. É possível concluir que a terceirização sancionada por Temer, tornará as condições de trabalho mais precárias, retirando garantias dos trabalhadores. Além disso, contraria a base do direito trabalhista brasileiro, que é o princípio de proteção ao empregado”.