FOTOGRAFIA : Fragmentos da arquitetura pelotense
Nesta quarta-feira às 19h, abertura de mostra fotográfica no espaço arte Chico Madrid da Sociedade Sigmund Freud
Por Carlos Cogoy
Detalhes captados e preservados no tempo. Definição de fotografia para o arquiteto pelotense Fábio Caetano que, nesta quarta, estará abrindo sua primeira mostra fotográfica. A partir das 19h, exposição “Minudências – Fragmentos da arquitetura de Pelotas”, que reunirá quinze imagens. Às 20h, Caetano proferirá a palestra “Patrimônio artístico e cultural da cidade de Pelotas”. Integrante do grupo “Foto Comentário”, o arquiteto já participou das mostras coletivas: “Em torno do Central Café”; “Insulares”; “Grande Hotel”. Sob a coordenação de Eduardo Devens, a mostra acontecerá no espaço arte Chico Madrid da Sociedade Científica Sigmund Freud – rua Princesa Isabel 280 sala 302. Visitação em horário comercial, estendendo-se até dia 31.
FOTOGRAFIA – Sobra a mostra, o autor divulga: “Serão quinze fotos, a maioria em cores, com a proporção 35mm, como nas máquinas analógicas antigas. Quase todas são inéditas. As fotos foram realizadas com máquinas distintas dependendo da época ou momento em que foram tiradas. Além da fotografia de detalhes arquitetônicos, também gosto de temas como cenas humanas e ‘skyline’, prédios com o pôr do sol ao fundo. O processo de produção das imagens é cotidiano, sem a intenção de atividade artística. A atenção pode ser despertada por uma luminosidade momentânea e especial, na qual a cena esteja envolvida. Nem sempre tenho a sorte de estar com a câmera a postos, por isso às vezes perco cenas que me passam como interessantes”.
ACERVO – Arquiteto egresso da formação na UFPel, Caetano acrescenta: “A cidade de Pelotas tem uma riqueza arquitetônica singular, presente no centro histórico, que registra uma maneira de construir única, referente ao período compreendido entre as décadas de 1870 até 1930. Naquele tempo havia uma grande diversidade industrial e comercial que resultou na construção de inúmeros prédios residenciais, comerciais e industriais, inicialmente em estilo eclético ou historicista, influenciado, mais adiante pelos estilos Art Noveau e Art Déco do início do século XX. O fato da cidade ter passado por um longo período de estagnação econômica, fez com que esses exemplares chegassem até a atualidade, constituindo um acervo importante, um documento que conta a história”.
TRAJETÓRIA – Na infância, Caetano ao deslocar-se para a escola, admirava o casario, e detalhes como as janelas antigas. A atenção, conforme recorda, recaía nos “desenhos rebuscados e geométricos”, bem como o colorido das vidraças. Foi o período com uma Kodak Instamatic, registrando imagens da família, amigos e animais de estimação. Na adolescência, ganhou uma “Zenit”. Ao ingressar no curso de arquitetura, aguçou o interesse pelo patrimônio. Posteriormente, integrou a equipe do Escritório Técnico do Programa Monumenta. Já na especialização em patrimônio cultural, pesquisou a evolução do “artefato janela”. Na cidade, Caetano aprecia o trabalho do fotógrafo Moizes Vasconcellos. Já em relação aos recursos contemporâneos da fotografia, ressalta as imagens de Angeliki Jackson.
Conjunto arquitetônico é destaque na região
Pelotas, Rio Grande e Jaguarão, são cidades que dispõem de patrimônio arquitetônico. Como arquiteto e urbanista, Fábio Caetano integra a Secretaria Municipal de Cultura. Ele explica: “Pelotas não é a única cidade na região que apresenta exemplares históricos. Rio Grande e Jaguarão também mantêm uma bela arquitetura do período. Em Jaguarão, assim como em Pelotas, o conjunto arquitetônico é coeso e o setor público, com o reconhecimento da população, desenvolve uma política voltada à gestão do patrimônio. Em Rio Grande, apesar de ser uma cidade mais antiga, este movimento ocorre de forma mais lenta em intervenções mais pontuais. Das três cidades, Pelotas é a que contém a maior quantidade de exemplares que, por lei, fazem parte do inventário do patrimônio cultural da cidade. São 26 bens tombados em âmbito nacional, estadual e municipal. Além disso, um centro histórico, que está sendo recuperado. As intervenções, através do Programa Monumenta, são geridas pela Prefeitura e Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (IPHAN). O trabalho favoreceu a recuperação de uma área que se encontrava degradada e decadente, o que de alguma forma vem melhorando a estima da população em relação à sua cidade. O centro histórico já é um lugar amplamente utilizado pela comunidade”.
RIQUEZA da arquitetura local, conforme Caetano “permanece nos detalhes, nos elementos que a compõem, na pátina do tempo e no inusitado, quando, por exemplo, em meio aos ornatos de uma fachada aparece o busto de um senhor com bigodes ou, quando em uma platibanda, nos vemos espiados por anjos, ou ainda ao nos depararmos com uma farta mesa de jantar revelada no forro de estuque”.
Diversidade cultural
A arquitetura dos prédios imponentes, narra a história dos vencedores. Porém, gradativamente, tem se ampliado o debate acerca do patrimônio. “Quando falamos sobre o patrimônio histórico e cultural de Pelotas, lembramos dos casarões ao redor da Praça Coronel Pedro Osório, construídos pelos charqueadores através da mão-de-obra escrava, retrato da sociedade da época. Sim, a contribuição dos imigrantes estrangeiros e dos africanos, inicialmente escravizados, foi fundamental para a construção da nossa identidade tanto arquitetônica como cultural, e hoje se fazem muitas e profundas discussões em torno do tema, principalmente através de inúmeras pesquisas originadas no meio acadêmico. Esta história, como outras, está sendo reescrita de uma forma mais realística”, diz o arquiteto Fábio Caetano.
DIA DO PATRIMÔNIO – Como valorização da diversidade cultural, Caetano frisa o projeto “Dia do Patrimônio”. Ele divulga: “No processo de resgate da nossa história e cultura, a Secretaria de Cultura tem desempenhado um papel relevante através de ações que levam em consideração a diversidade cultural criando espaços para a manifestação de culturas que antes não eram consideradas. Um dos eventos é o ‘Dia do Patrimônio’, cujo objetivo é promover e enfatizar o conceito de patrimônio cultural. Na edição de 2014, por exemplo o tema foi ‘a herança cultural africana’, e trouxe através das ‘Conversas do Dia do Patrimônio’, discussões relevantes em torno desta cultura e seus significados, possibilitando reflexão e apropriação. Todos esses saberes foram mediados em casarões seculares, testemunhos de uma época, e que atualmente desempenham outra função, a de equipamentos culturais que possibilitam atividades de resgate da nossa história, reconhecendo a diversidade cultural e o fortalecimento dessas identidades”.