DANÇATERAPIA : Inspirando afetividade e equilíbrio
A transformação interna através da expressão de emoções, está entre os principais objetivos da “Dançaterapia”
Por Carlos Cogoy
A orientação é para o uso de roupas confortáveis, pois são desenvolvidos movimentos corporais. Quem recomenda é a enfermeira e dançaterapeuta Gabriella Ferreira, que tem ministrado cursos e oficinas. Sobre a dançaterapia, ela ressalta que a prática proporciona alegria e equilíbrio, provocando sensações de leveza e vitalidade. Gabriella informa que dispõe de sala no “Lumi Coworking”, à rua Andrade Neves 3.118. Informações: (53) 9 9100.1880. E-mail: [email protected]
ENCONTRO – Gabriella explica sobre encontros que tem realizado: “O objetivo é permitir o reaprendizado da flexibilidade e fazer com que as pessoas enxerguem diversas possibilidades de resolução para conflitos e adversidades da vida. Ser flexível ao nível de nossas crenças e comportamentos, é indispensável para uma boa adaptação, integração e convivência, tanto no âmbito do relacionamento pessoal e familiar, como nos aspectos social e profissional. O único pré-requisito é querer despertar e expressar áreas adormecidas do corpo que nos bloqueiam. Liberando a energia acumulada, decorrente de traumas, mágoas e sentimentos negativos, nosso corpo se transforma, afastando nossos medos mais profundos e em busca de um viver melhor. Na atividade, então, é importante ir com roupas leves para conseguir se movimentar mais livremente”.
DANÇATERAPIA – Sobre a prática, Gabriella acrescenta: “A dançaterapia surgiu na década de sessenta, criada pela bailarina María Fux. Em seu percurso, ela criou um método por meio de materiais e ideias, uma forma de dançar a partir da improvisação do movimento corporal, promovendo transformações internas através da expressão das emoções. Quando se dança, expressa-se não só a felicidade, a alegria, a ternura, como também sentimentos de tristeza, os medos, as dores. María sempre diz que qualquer pessoa pode dançar. Por isso, para a dançaterapia não existe limitação física ou psíquica. É um método que se adapta a qualquer pessoa, desde os três anos de idade. Assim, ao desenvolver a escuta interna, temos a possibilidade de encontrar e superar limites. A dançaterapia é uma forma profunda de resgatar a alegria e a leveza do ser, de acessar e expressar as emoções, de aprender a viver com fluidez, mesmo nas situações adversas das nossas vidas. Cada pessoa tem o seu movimento e seu ritmo. Por meio do movimento corporal, a dançaterapia propõe uma integração corpo-mente como caminho de autoconhecimento, auxiliando no resgate de estados internos naturais como suavidade, afetividade, equilíbrio, flexibilidade”.
SOUL FÊNIX – “Inspirando Vidas – Dançaterapia Método María Fux”, é o projeto criado por Gabriella Ferreira. Conforme as parcerias, ela adapta o projeto para curso, oficina, workshop ou aula aberta. Uma das parcerias que tem dado certo, é com o grupo “Soul Fênix”. Trata-se de trio que reúne jovens músicos. Assim, as atividades de dançaterapia, contam com música ao vivo. “É uma outra forma de sensibilização e abordagem, extremamente benéfica”, diz a dançaterapeuta. O “Soul Fênix” conta com os músicos: Andrew Borges (violoncelo); Eduardo Santos (violino); Italo Guerreiro (violino).
TRAJETÓRIA – Gabriella é enfermeira egressa da UFPel, mestre em ciências pelo Programa de Pós-Graduação em Enfermagem. Dançaterapeuta especializada pelo curso de Pós-Graduação em Dançaterapia/Método María Fux, do Centro Sul-Brasileiro de Pesquisa, Extensão e Pós-Graduação (CENSUPEG/Faculdade São Fidélis) de Santa Maria. Até o ano passado, trabalhando no Centro de Atenção Psicossocial (CAPS/Cacimbinhas), em Pinheiro Machado, além das atividades de enfermagem aos usuários, foi facilitadora da oficina de dançaterapia e expressão corporal. Ela acrescenta: “Retornei a Pelotas neste ano e dei início ao projeto ‘Inspirando Vidas – Dançaterapia Método María Fux’, com o objetivo de autoconhecimento por meio do movimento corporal. Através da dançaterapia, busco auxiliar pessoas a acessar sua essência, além de descobrir novas formas de ser e de sentir, substituindo a antiga crença enraizada do ‘Não Posso’, por uma nova atitude do corpo que diz ‘Sim, Posso’”.
Autoestima e convivência através da “Dançaterapia”
A dançaterapeuta Gabriella Ferreira ressalta benefícios proporcionados pelo recurso terapêutico. Ela exemplifica com participante, cujo diagnóstico indicava Transtorno de Personalidade Borderline. Conforme esclarece, entre os sintomas da patologia, estão a sensação de vazio, acessos “injustificáveis” de raiva, alternância de humor, relações interpessoais intensas e instáveis, comportamento impulsivo, ideias de suicídio, autoimagem inconstante.
EXEMPLO – Gabriella conta: “Essa pessoa tinha, na época, um filho de aproximadamente três anos. Inicialmente, apresentava baixa autoestima, não conseguindo olhar-se no espelho nem cuidar da autoimagem. Também tinha dificuldade de relacionamento, não conseguindo encarar outras pessoas, mantendo-se desconfiada e com receio de afetividade. Além de tentativas de suicídio e algumas internações. Em todo o processo dançaterapêutico, realizamos atividades em grupo e, minuciosamente, respeitando seu ritmo, com objetos como espelhos e elásticos. Estimulamos o olhar para dentro, isto é, olhar para si, cuidando de si, instigando a flexibilidade ao invés da rigidez nas relações pessoais. E estimulamos, também, o olhar para o outro, a aproximação com outro, a empatia, a suavidade, o abraço, as mãos como instrumento de cuidado de si e do outro. As atividades aconteciam uma vez por semana, com duração de duas horas. Um ano e meio depois, tudo o que foi expressado havia se transformado. As roupas, o cabelo e a maquiagem, que antes não importavam, foram ressignificados para essa pessoa que passou a reconhecer sua beleza interior e exterior. O abraço e o toque que antes a incomodavam, passaram a ser rotina nas oficinas de dançaterapia, e ela começou a ter a noção do doar de si e humanizar-se com os outros integrantes, auxiliando quem possuía outras dificuldades nesses níveis. E um fato, que vale ressaltar, foi o último dia de atividades de dançaterapia nesse local. Ela pediu para dançar com o seu filho, pois sentia-se preparada para essa aproximação e queria sentir-se mais mãe. E então os dois dançaram com o elástico, representando a flexibilidade e limitações da relação, terminando enrolados num abraço, demonstrando o grande avanço que ela teve em todos os níveis de sua vida”.
EDUCAÇÃO – E a dançaterapia na educação? Gabriella afirma: “A dançaterapia, enquanto recurso educacional, é uma importante fonte motivacional de criatividade. As suas implicações sociais devem ser consideradas essenciais ao ensino atual, estimulando crianças e adolescentes à descoberta de si mesmos e do mundo que os cerca, buscando desconstruir preconceitos e valores arraigados em nossa sociedade”.