Jogador pelotense conta os desafios de jogar futebol na América Central
Roger Bastos joga no Cobán Imperial e revela sua visão sobre um país com violência nas ruas e dentro de campo
Do Uruguai para a Guatemala. O pelotense Roger Bastos – revelado no futsal do Paulista e com passagem pela Dupla Far-Pel – constrói carreira fora do país e agrega experiência de vida através do futebol. Ele tem contrato até maio com o Cobán Imperial – time da primeira divisão guatemalteca e pensa em continuar por mais tempo na América Central. “Estou com 26 anos e chegou o momento de aproveitar as oportunidades para ganhar dinheiro no futebol”, afirma.
Foi exatamente a questão financeira que fez com que ele rompesse o contrato com o Cerro Largo, de Melo, no Uruguai, para embarcar nesta aventura para a Guatemala. “Minha intenção era continuar no Uruguai e esperar a chance de jogar numa equipe que disputasse a Libertadores ou a Sul-Americana. Mas a proposta foi muito boa”, conta, revelando que seu salário triplicou no novo time.
A abertura do mercado de trabalho na Guatemala foi viabilizada pelo treinador uruguaio Ariel Sena, que não está mais na equipe – saiu logo depois da contratação de Roger Bastos. O jogador admite que adaptação foi difícil nos primeiros meses. “É um país pouco desenvolvido e também meio perigoso na questão de segurança. O que mais choca na chegada é que todo mundo anda armado (porte de arma é liberado no país) e nos estabelecimentos comercias e nas empresas os seguranças trabalham com armas de grosso calibre. Depois a gente vai se acostumando”, revela.
Dentro de campo, Roger vai respondendo com boas atuações (ou vinha). No jogo contra o Antigua, o meia foi agredido com soco pelo craque da seleção da Guatemala, Moyo Contreras, e teve fratura no nariz. Fez cirurgia e veio se recuperar em Pelotas. Só retorna para a Guatemala em novembro.
Cobán disputa a liderança
Roger Bastos não é o primeiro jogador revelado no futebol de Pelotas que foi para a Guatemala. Na década passada, o treinador Alberi Rodrigues, que trabalhou no Rio Grande e no Farroupilha, em 2008, levou vários atletas daqui para o país da América Central. Quem ficou mais tempo por lá foi Igor “Talismã”, que permaneceu por sete anos no futebol guatemalteca. No ano passado retornou ao Pelotas e encerrou a carreira de jogador no final da Divisão de Acesso.
Atualmente, Roger Bastos é o único brasileiro na primeira divisão do país. O Cobán Imperial disputa a liderança do torneio Apertura, que representa o primeiro turno do campeonato nacional. Soma 25 pontos em 15 jogos (neste domingo foi goleado pelo Malacateco por 5 a 0 fora de casa).
POLIVALENTE – Na Guatemala, Roger tem jogado no meio-campo, fazendo a função do lado esquerdo na segunda linha de quatro. Ao longo da carreira, ele se caracterizou pela versatilidade, especialmente entre a lateral-esquerda e o meio-campo. “Já joguei até de primeiro volante e posso também ser aproveitado como atacante”, afirma. Uma virtude aprimorada nas quadras de futsal com a camisa do Paulista, antes de buscar o campo com formação no Progresso.
O primeiro contrato profissional de Roger Bastos foi com o J. Maluelli, de Curitiba, em 2009. No ano anterior, ele foi para a base do clube paranaense indicado por Rafael Peixoto, ex-Pelotas, e que foi jogador de destaque na equipe da Família Malucelli.
Depois disso, o meio-campista passou por clubes catarinense (Tubarão e Imbituba) e do Rio Grande do Sul (Esportivo, Aimoré, São Luiz, Inter de Santa Maria e a Dupla Far-Pel). Times que jogam geralmente apenas um semestre do ano e que nem sempre o mês tem 30 dias para pagar os salários. Isso fez Roger aceitasse o desafio de tentar a sorte em outros países.
Dupla Far-Pel
“Eu não estava pronto para jogar no Pelotas. Era muito imaturo. Achava que tinha que ser titular e bati de frente com dirigentes e o treinador”. É desta maneira que Roger Bastos avalia sua passagem pela Boca do Lobo, em 2011. A chance de jogar no time áureo-cerúleo chegou na copa do segundo semestre (Copa Lacy Ughini). A porta se fechou ao ser expulso contra o Grêmio B, no Olímpico.
Antes da expulsão no segundo jogo das quartas de final, em Porto Alegre, Roger teve problema com o técnico Gavião e com o gerente executivo Jorge Bopp. Na partida diante do Grêmio, ele entrou em campo no segundo tempo e, em dois lances, usou o cotovelo contra adversários e acabou recebeu os cartões amarelo e vermelho. O Pelotas foi eliminado com duas derrotas para o Grêmio (2 a 1 em Pelotas e 1 a 0 no Olímpico).
A passagem pelo Farroupilha também foi polêmica. Ele deixou o clube antes das partidas finais da Segunda Divisão de 2013, porque brigou com o técnico André Basques. Desta vez, ele brigou para defender o companheiro Matheus Guerreiro, que estava sendo sacado do time. O Tricolor acabou rebaixado. Mesmo assim, Roger voltou ao clube para jogar a Copinha do segundo semestre. E foi um dos destaques do time treinado por Geverton Duarte.