CONSCIÊNCIA NEGRA : Homenageados no “IX Seconep”
Por Carlos Cogoy
A professora Dra. Rosemar Lemos (UFPel), que coordena o Seminário da Consciência Negra (SECONEP), divulga os três homenageados na nona edição: poeta, capoeirista e professor de filosofia, Miguel Delmar Dias – in memorian; griot Dilermando Freitas; comunicador e ativista cultural Glênio Rissio (Rádio Com 104.5). O IX Seconep será em novembro, e as datas ainda estão sendo definidas.
MIGUEL DIAS após período enfermo, faleceu a 15 de outubro. Aos 43 anos, casado com a professora e doutoranda Raquel Silveira Dias, Miguel partiu cedo demais. Lembrado por amigos e companheiros, destacou-se na luta pela “negritude”. De acordo com a professora dra. Georgina Lima (UFPel): “Miguel da Raquel e Raquel do Miguel, uma forma de amar que transcende barreiras. Ambos formaram mais que um casal, talvez, uma canção, um gesto, um passo de dança, um poema, algo para ser sentido do que vivido… inesgotável”. A sindicalista Ernestina Pereira (Sindicato dos Trabalhadores Domésticos de Pelotas), menciona: “Miguel, ao fim dos anos oitenta, intregou o Grupo de Capoeira ‘Rhadobó Muguire’, que contava com Flavinho Bandeira e funcionava à Marquês de Queluz no Fragata.
Estou muito triste com a partida do Miguel, que sempre foi firme e sincero nas lutas por igualdade racial e humana. Então, ressalto, Miguel, a luta vai continuar”. Ele cursou filosofia na UFPel, e foi um dos idealizadores do cursinho gratuito “Desafio”. Professor em São Lourenço do Sul, onde coordenou a área de filosofia, era mestrando no IFSul. A professora e pesquisadora Carla Ávila (UCPel), afirma que Miguel, como pesquisador, foi “criador da categoria ‘Negros em movimento’, que desenvolvi no trabalho de conclusão da especialização em sociologia e política”.
GUERREIRO – A professora Georgina acrescenta: “Nas inúmeras oportunidades juntos, tivemos um Miguel sempre intenso e inteiro. Silencioso às vezes, mas falava com outras linguagens, ou seja, na roda de capoeira, na dança, na incessante fusão de leituras academicamente consagradas. Um exímio leitor das filosofias todas, das reconhecidas às ‘marginais’.
Era o guri que não estabelecia fronteiras entre a teoria e a prática. Nas ações, no Odara, no curso pré-vestibular para negros e carentes, na atuação no grupo ‘Lanceiros Negros’, e na escrita do projeto de dissertação que infelizmente não concluiu. Pesquisa que abordava sobre essa experiência que foi fundamental para a democratização do acesso ao ensino superior. Também na atuação como professor, desejando que o 20 de novembro fosse o ano inteiro, projeto que desenvolveria na escola que atuava em São Lourenço do Sul. Essa trajetória me faz crer que a vida não se esvai com a morte.
Miguel permanece em nós e reacende o nosso desejo de continuar as nossas caminhadas impregnadas de um senso político, ético, estético, que produz em nós muito mais encantamento, sedução e esperança do que o sentimento humano, mas não absoluto da dor. Nosso ‘Migs’, ‘Miguelzinho’, Miguel, enfim, nossa inspiração para ficarmos Odara. O Miguel nos inspira numa vida de religiosidade que nos religa ao mundo da fé, devoção e energias vitais que movem o mundo sem necessariamente institucionalizá-las, por isso, potente para a luta contra intolerância. Miguel, o pai da guerreira Dandara, nos ensinou a arte de crermos que nossos filhos são livres para as suas experiências sem tempo e duração para sê-las. O jovem Miguel nos diz o quanto é importante que a juventude negra sobreviva para construir experiências plurais, mas que tenha muito da sua história. Ele deixa um legado para a história do movimento negro. Um homem jovem, militante, como filósofo que era, vivia a interrogar as relações de injustiças colocadas na sociedade brasileira e pelotense. Miguel fazia uma militância radical por se valer de uma totalidade de estratégias bastante representativas da vida diaspórica de negros e negras”.